Alterações no clima preocupam indústrias de cana no Brasil
01-07-2024

Nas lavouras de cana, a falta de chuvas faz com que produtores e fornecedores da indústria estejam de olho na finalização do ciclo no Brasil — Foto: Wenderson Araujo/CNA
Nas lavouras de cana, a falta de chuvas faz com que produtores e fornecedores da indústria estejam de olho na finalização do ciclo no Brasil — Foto: Wenderson Araujo/CNA

Setor está em alerta para para acelerar ações de adaptação e resiliência

Por Isadora Camargo

Diante de incertezas causadas pelo clima sobre a oferta de cana-de-açúcar para abastecer a demanda do setor sucroalcooleiro, inclusive para a transição energética, representantes das indústrias do segmento estão em alerta para acelerar ações de adaptação e resiliência ao clima.

O debate se estabeleceu no segundo dia do Global Agribusiness Forum (GAFFFF), evento organizado pela Datagro, em São Paulo. Para a Tereos, a vinhaça de cana, que está se transformando em biogás, é uma das soluções mais escaláveis para descarbonização no Brasil.

"Uma nova fronteira para descarbonização passa pelo biogás e biometano. A Tereos é uma das quatro produtoras fazendo biogás a partir da vinhaça, mas observamos o aumento dos anúncios de fábricas do setor. É uma alavanca substancial para conseguir reduzir as demandas de carbono”, afirmou Felipe Mendes, diretor de Novos Negócios, Sustentabilidade e Relações Institucionais do grupo francês no Brasil.

Ele aposta no SAF como um produto para novos mercados por meio de uma liderança do Brasil na produção e até exportação de biocombustíveis. Mendes acrescenta que a empresa está em "discussão avançada para ampliar produção de biogás” e de olho em 'blends' de etanol e etanol de milho como outras fontes para o mercado doméstico.

Nesse cenário, padrões internacionais para exportar esses biocombustíveis são desafios do segmento que acompanham a preocupação com o clima.

Se por um lado há uma corrida por lavouras que estejam adaptadas para mitigar o clima, por outro há uma aceleração para cumprir diretrizes de selos de sustentabilidade, como avalia a coordenadora do grupo internacional Bonsucro no Brasil, Natália Pinheiro.

A representante assegurou que o próximo passo é integrar as certificações, como exemplo a RenovaBio, para avançar na agenda nos próximos anos.

Por outro lado, nas lavouras de cana, a falta de chuvas faz com que produtores e fornecedores da indústria estejam de olho na finalização do ciclo no Brasil. As bolsas internacionais já registram oscilações no açúcar com pressão das dúvidas sobre resultados da safra no Brasil e em outras origens produtoras.

“Em Barretos (SP), uma fornecedora da Tereos me contou esta manhã que a falta de chuvas pode impactar o final de ciclo e afetar o resultado produtivo”, conta Caio Souza, head de agronegócios da Climatempo, alertando às empresas para desenvolver planos estratégicos associados à previsão climática e até a decisão de aquisição de novas áreas produtivas.

“Se uma das possibilidades das indústrias é aumentar a área de produção, agora será necessário entender as condições de clima e temperatura da região antes de garantir a eficiência produtiva do local”, afirmou.

Os representantes concordam que o reflorestamento poderá aumentar o índice de descarbonização no país. Segundo a Tereos, a operação no Brasil representa um terço do resultado do grupo no mundo, mas emite apenas 13% do C02 em relação a todas as emissões do grupo.

“A volatilidade [climática e financeira] aumentou de maneira drástica nos últimos dez, cinco anos. Tivemos a maior quebra da história na safra de 2022, de cerca de 25%. Isso é para demonstrar como está o impacto do clima no nosso negócio”, avaliou Mendes.

O diretor atentou para o aumento do receio com incêndios a partir do que o Brasil presenciou de clima desde o início do ano até agora. "Por metade do Capex da companhia estar concentrado nos canaviais, estamos preocupados em reduzir consumo de água, cuidar do estresse hídrico com irrigação e a troca de plantas por variedades mais resistentes para renovar os canaviais”, acrescentou.

Fonte: Globo Rural