Análise do Itaú BBA sobre os efeitos na agropecuária da atual crise hídrica
04-06-2021

Após janeiro de 2021 com boas chuvas, os meses de fevereiro a maio apresentaram volumes muito abaixo da média histórica, o que prejudicou o desenvolvimento de diversas culturas

Com os reservatórios das Regiões Sudeste e Centro Oeste, principalmente, muito baixos, o governo brasileiro através do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu nos últimos dias, de forma inédita, um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco estados, MG, GO, MS, SP e PR.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) destacou que as chuvas de set/20 a mai/21foram as piores em 91 anos de registros. A questão ganha contornos piores pelo fato de que, na maior parte da Bacia do Paraná, as chuvas nos próximos três meses, que já são escassas normalmente, deverão seguir este padrão, o que agravará a condição dos reservatórios representando riscos para o abastecimento de energia e também no agronegócio que é uma “indústria a céu aberto”. Impactos no Agro Especificamente no setor agropecuário, os danos já vêm sendo observados há meses, desde o atraso no desenvolvimento das culturas perenes até impactos disseminados no milho safrinha nos estados supracitados.

A seguir destacamos setores que já apresentam nítidos prejuízos decorrentes deste quadro. Culturas perenes e pecuária-

Café: A safra 2021/22, sendo colhida neste momento, foi bastante prejudicada pela seca desde o início do ciclo, com as floradas no último trimestre de 2020 seguidas de seca e altas temperaturas, o que levará a uma redução da produção de arábica de mais de 30% frente ao ano anterior. Já a safra 2022/23, em tese de bienalidade alta, já tem algum grau de comprometimento, pois o insuficiente desenvolvimento vegetativo durante o primeiro semestre deste ano, se reflete em um menor número de internódios, e isso significará menor espaço para a formação dos botões florais e, consequentemente, menor formação dos grãos.

 

Laranja: Sendo o Estado de SP o mais importante para a produção citrícola e onde a seca vem se mostrando bastante intensa, a perspectiva é de uma recuperação pequena da produção neste ano, da ordem de 9,5% segundo a primeira estimativa da Fundecitrus, isso após ter caído 30% no ano anterior. As áreas irrigadas de café e laranja também carregam preocupação para os próximos meses em função da já baixa disponibilidade de água nos reservatórios.

Cana-de-açúcar: A cultura já apresentava atraso de desenvolvimento causado pelo período seco de 2020 e aguardava as chuvas de verão de 2021 para sua recuperação. Porém, o baixo volume realizado das precipitações de fevereiro a abril, além de causar atraso na colheita também impactou a produtividade reduzindo a expectativa de produção. A estimativa de redução de moagem aliada à grande parte do açúcar já comprometido para exportação tem resultado na priorização da produção de adoçante. Esse cenário contribui para uma baixa oferta de etanol e nos faz projetar um balanço de O&D do biocombustível para a safra 2021/22 mais apertado, o que deve fazer com que os preços de hidratado na bomba sigam a paridade próxima dos 70% da gasolina C durante toda a safra, e até superior em determinados momentos, por exemplo na entressafra.

Arroz: A preocupação ainda é pequena para a cultura visto que a colheita da safra 2020/21 encerrou há algumas semanas e apresentou bons índices de produtividade. Olhando para a próxima safra, cujo plantio inicia-se a partir de setembro, com o arroz sendo uma cultura em que 70% da produção ocorre em áreas alagadas no Rio Grande do Sul, a atenção se volta aos níveis dos reservatórios de água no estado.

Feijão 2ª safra: A falta de chuvas também tem afetado a produção de feijão 2ª safra. No Paraná, por exemplo, maior estado produtor, dos 40% de área plantada que ainda precisa ser colhida, 45% encontrma-se classificada como “ruim” influenciada por uma parcela relevante de áreas em frutificação, estágio fenológico muito sensível à redução de precipitações. No Mato Grosso, 2º maior produtor, a produtividade também foi penalizada, contudo, o aumento de 10% da área deve sustentar um aumento de produção frente ao ano passado.

Feijão 3ª safra: Para a 3ª safra, cujo plantio ocorre entre e abril e julho e é majoritariamente é irrigada, o risco também está nos baixos níveis dos reservatórios de tal sorte que poderá comprometer substancialmente a produtividade. A produção total do feijão 3ª safra na temporada passada representou 27% da oferta nacional do produto.

Fonte: Consultoria Agro do ITAÚ-BBA