Anidro pode gerar receita menor
03-03-2015

Usinas de etanol e distribuidoras de combustíveis travam neste momento uma queda de braço para definir em contrato o preço do anidro que será misturado à gasolina nos próximos 12 meses, contados a partir de abril. Com os tanques cheios de produto e, em alguns casos, dificuldade de caixa, as usinas entram na negociação com desvantagem. Se a proposta das distribuidoras prevalecer, a perda de receita pode atingir R$ 350 milhões.

Pelas regras da Agência Nacional de Petróleo (ANP), até 30 de março as distribuidoras precisam apresentar ao órgão regulador contratos de aquisição de 70% do anidro que vão misturar nos 12 meses - com base no consumo dos 12 meses anteriores. Em isso feito, essas empresas adquirem o direito de comprovar a aquisição de outros 20% até 1º de junho, cumprindo, portanto, a determinação de deixar "em aberto" apenas 10% da demanda projetada.

No ciclo 2014/15, usinas e distribuidoras acordaram que o valor de realização dos contratos de anidro seria o preço do hidratado adicionado de um prêmio de 13% - fórmula aplicada semanalmente, na medida em que a entrega do produto ia sendo feita. A existência de um prêmio entre os dois produtos tem como princípio o valor agregado de um sobre o outro. O anidro é um etanol puro, que passa por desidratação para eliminar o máximo de água. Por isso, também tem um custo maior que o do hidratado.

No entanto, de abril de 2014 até janeiro deste ano, esse prêmio se realizou em 11% - considerando a média ponderada de preços do anidro e do hidratado, conforme cálculos da trading Bioagência, com base em dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.

Por isso, agora, as distribuidoras pressionam por um prêmio menor. A percepção do diretor da Bioagência, Tarcilo Rodrigues, é a de que esse adicional vai recuar, mas para patamares entre 11,5% e 12,5%. Nas contas de Rodrigues, o valor absoluto do prêmio vai se manter estável se o martelo for batido a 12%. Isso porque, o menor prêmio em percentual será compensado por uma base de cálculo maior, uma vez que a alta da gasolina puxou os preços do etanol. Entre abril de 2014 até janeiro de 2015, o preço médio mensal do hidratado foi de R$ 1,28 por litro, o que significou, a um prêmio de 13%, um adicional de R$ 0,17 para o anidro.

Apesar das indefinições frente à proposta de aumento da mistura para 27%, o mercado já negocia considerando a mudança. No entanto, explica Lima, essa instabilidade também aprofunda a fragilidade das usinas para negociar.

Em 2014, com o percentual de 25% na gasolina, o consumo de etanol anidro no país foi de 11,096 bilhões de litros, segundo a ANP, 14,5% mais que em 2013.

O crescimento do consumo do chamado "Ciclo Otto" - que considera a gasolina, o etanol anidro e o hidratado - foi de 7,5% ano passado. Esse avanço deve arrefecer em 2015, diante do aumento dos preços dos combustíveis e à desaceleração da economia brasileira. "Ainda assim, acredito que o aumento em 2015 será, de pelo menos, 4,5%", avalia o diretor da Bioagência.