Ano de 2019 tem recorde de usinas com pedido de recuperação judicial
31-10-2019

Uma das unidades do Grupo Itaiquara que pediu recuperação neste mês de outubro
Uma das unidades do Grupo Itaiquara que pediu recuperação neste mês de outubro

Já são 23 unidades, batendo o recorde anterior de 2015, que registrou 13 pedidos de recuperação judicial

Existia uma máxima no mundo da cana-de-açúcar: o setor tem dois anos em alta e três de baixa. Era um jeito de explicar a gangorra economia sucroenergética, uma forma de alertar aos desavisados que era preciso poupar na época das vacas gordas para manter a atividade na fase das vagas magras.

Porém, esse cálculo de 2 por 3 caiu por terra, o setor amarga mais de 10 anos consecutivos de crise. Resultado:  80 unidades fecharam no País e das 400 em funcionamento, 82 estão em recuperação judicial, o que representa mais de 20% do setor. Apenas neste ano, três grandes grupos empresariais, que somam 20 unidades, entre eles a paranaense Santa Terezinha, entraram no Judiciário com pedido de recuperação – uma forma de alongar prazos de pagamentos, aplicar deságio em credores e obter outros benefícios jurídicos para não falir.

O pedido mais recente foi o do grupo Itaiquara, que produz diversos alimentos para o varejo. A dívida da companhia, que possui uma usina em Tapiratiba (SP) e outra em Passos (MG), é de quase R$ 700 milhões.

Segundo levantamento da RPA Consultoria, com o pedido da Itaiquara, o número de unidades industriais sucroenergéticas que pediram recuperação judicial apenas neste ano sobe para 23. Um recorde, superando com larga margem o ano de 2015, que até então registrava a maior quantidade de pedidos de recuperação dos últimos dez anos: 13 durante todo o ano, enquanto a média era 11.

 As dificuldades do setor começaram em 2008 com a crise dos subprimes norte-americanos, que resultou na redução de empréstimos ao setor brasileiro. Momento em que o setor estava em expansão, com muitas usinas sendo construídas e outras reformadas. Quando cortaram o acesso ao financiamento bancário, os empresários precisaram terminar os investimentos com recursos próprios, o que prejudicou o caixa das empresas. O golpe fatal, que acentuou o endividamento das empresas, foi a retirada da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-combustíveis) no final do governo Lula em 2011, que segurou artificialmente o preço da gasolina até 2014, eliminando a competitividade do etanol.

Mas para especialistas na área, e integrantes do setor, o cenário sucroenergético, enfim, está mudando. A CanaOnline trará uma série de reportagens que foca a retomada do mundo da cana-de-açúcar. Não percam!