Antiga reivindicação do setor sucroenergético é atendida e pode minimizar crise do álcool
31-03-2015
O presidente da SIAMIG, Mário Campos, concedeu entrevista ao jornal Edição do Brasil (27/3) sobre a adição de etanol (álcool anidro) na gasolina, que passou de 25% para 27%, e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que reduziu de 19% para 14% o ICMS do etanol hidratado em Minas Gerias.
Confira a entrevista com o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.
O que o aumento da adição de etanol na gasolina e a redução do ICMS para o álcool comum representam para o setor?
Nós produzimos dois tipos de etanol: o anidro, que é misturado à gasolina e o etanol hidratado, aquele que o consumidor encontra nos postos de abastecimento. Tanto um quanto o outro são muito importantes para o setor. A nossa estimativa é que o aumento da mistura de álcool na gasolina, de 25% para 27% eleve a demanda de etanol anidro em 1 bilhão de litros por ano. A outra questão é o ICMS, porque ele afeta o mercado de etanol hidratado. Enquanto no anidro, participamos com 27% da mistura de combustível na bomba, no hidratado estamos com 100%. Então, para o setor, é muito melhor vender o hidratado que o anidro, porque a cada quatro litros de hidratado, apenas um de anidro é vendido. A redução do ICMS para o etanol hidratado aqui em Minas trouxe para o mercado a chance de o álcool ficar competitivo na bomba, podendo o consumidor ver os benefícios econômicos no momento do abastecimento. É bom frisar que o preço do etanol no produtor já vinha caindo ao longo das últimas semanas. Ou seja, além do efeito da redução do ICMS tem o efeito da queda do etanol no produtor, que somados podem representar mais de R$ 0,25 de redução para o consumidor.
O acréscimo da adição de etanol na gasolina pode ajudar a melhorar a situação econômica do país?
Com certeza. Até o ano passado o consumo de combustível no Brasil, focado em gasolina, teve um aumento significativo porque as pessoas estavam andando mais de carro, a frota aumentou e estávamos vendo taxas superiores a 10% de crescimento de consumo em alguns anos. O país não produzia gasolina suficiente para atender o mercado e estava importando. Durante muito tempo a Petrobras pagou mais pelo combustível lá fora do que pelo que vendia dentro do Brasil e isso levou a empresa à situação financeira que está hoje. Depois que o preço do petróleo no mercado nacional caiu, a Petrobras conseguiu ver benefícios econômicos na importação. Só que com a desvalorização do real frente ao dólar, o processo se igualou e, hoje, não há grandes benefícios na importação, mas ela ainda existe. Quando eu troco um produto que estou importando, com a situação de dólar que estamos vivendo, por um produzido no Brasil, gerando emprego para o país, é muito melhor. O etanol anidro produzido e vendido aqui, no aumento da mistura com a gasolina, vai substituir uma parte dessa importação que estava ocorrendo e isso é bom.
O etanol é consumido mais rápido pelo motor dos veículos flex. O maior percentual de álcool na gasolina pode reduzir o desempenho da relação litros x quilômetros rodados nesses carros?
Isso foi estudado. Realmente, a tendência é que você tenha um aumento no consumo para andar a mesma quilometragem, mas é muito insignificante, porque aumentou 2% na mistura e o consumo não vai aumentar nem 1%. Nós estamos falando do etanol anidro, que quase não tem água, diferente do hidratado, que tem 7%. O etanol anidro queima mais rápido que a gasolina, mas não é igual ao hidratado. A relação dele não é igual à gasolina em termos de poder calorífico, mas é mais próxima que o hidratado. Então é praticamente imperceptível ao consumidor esse aumento. É importante citar que o preço que se paga pelo etanol anidro é bem inferior ao que se paga pela gasolina A. Quando eu estou misturando etanol anidro com esse tipo de gasolina, num percentual de anidro maior, a tendência é que o preço fique um pouco menor. Com todas as contas que fizemos, posso dizer que o aumento no consumo vai ser quase imperceptível.
O que o consumo de álcool representa em termos de preservação do meio ambiente?
A cana retira gás carbônico do ar e emite oxigênio através da fotossíntese. A combustão do veículo, tanto com etanol quanto com a gasolina, emite gás carbônico, mas o fato da planta fazer fotossíntese, na análise do ciclo de vida, faz com que o etanol seja um produto sustentável. O escapamento do carro vai emitir CO² na combustão, mas a cana de açúcar vai capturar esse gás. É quase um zero a zero. O etanol emite 90% menos gases efeito estufa que a gasolina. O fato de trocar o consumo do combustível fóssil pelo de etanol faz política ambiental e preserva a qualidade do ar do nosso país.
É vantajoso trocar a gasolina pelo álcool quando o preço do etanol representa até 70% do valor da gasolina. Esse valor pode diminuir mais em todo o país?
Até semana retrasada a relação tanto do Estado, quanto de Belo Horizonte era em torno de 71%. A nossa projeção é que nas próximas semanas nós vejamos uma relação nas bombas de abastecimento próximas de 65 e 66%, próximo ao que São Paulo tem hoje. O diferencial de alíquota e de ICMS de São Paulo do etanol para a gasolina é de 13 pontos percentuais, o de Minas é de 15, o maior diferencial de alíquotas de todo o Brasil. Cabe um detalhe importante: O etanol no veículo tem uma relação que a própria montadora informa, de quantos quilômetros eu faço por litro de etanol e quantos eu faço por litro de gasolina. Cada motorista tem uma maneira de dirigir e cada carro tem uma forma, também, específica. É importante que o consumidor conheça o seu veículo. E isso só vai acontecer se forem feitos os testes tanto com a gasolina, quanto com o etanol.