Aquecimento global eleva pressão de pragas agrícolas no Brasil, alerta Embrapa
15-04-2025

Ao todo, o estudo avaliou 304 patógenos de 32 culturas agrícolas de importância econômica para o país — Foto: Embrapa/Flávio Martins Santana
Ao todo, o estudo avaliou 304 patógenos de 32 culturas agrícolas de importância econômica para o país — Foto: Embrapa/Flávio Martins Santana

Levantamento constatou que 46% das doenças agrícolas terão severidade intensificada até final deste século

Por Cleyton Vilarino — São Paulo

Um estudo elaborado pela Embrapa com base em diferentes cenários climáticos provocados pelo aquecimento global constatou que 46% das doenças agrícolas terão severidade intensificada até final deste século, com impacto direto sobre o cultivo de grãosfrutas e hortaliças.

A previsão foi feita a partir dos dados presentes o terceiro e quarto relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que indicam aumentos de temperatura no Brasil de até 4,5°C neste século, e considerando as interações entre plantas e patógenos em diferentes condições de temperatura e umidade.

Ao todo, o estudo avaliou 304 patógenos de 32 culturas agrícolas de importância econômica para o país, desde fungos, bactérias e vírus a oomicetos, nematoides e espiroplasmas. Ainda de acordo com os pesquisadores, o aumento das temperaturas também favorecerá a proliferação de insetos e outros animais vetores dessas doenças, como pulgões, cochonilhas, tripes, moscas-brancas e ácaros.

“Esta revisão demonstra que os estudos realizados no Brasil, até o momento, têm se baseado na avaliação de impactos sobre problemas fitossanitários. Muitos desses estudos relatam a necessidade de medidas de adaptação que ainda não foram efetivamente adotadas”, alerta o documento publicado em setembro do ano passado.

Dentre os casos destacados, está a antracnose, doença provocada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides. Segundo os pesquisadores, as mudanças climáticas devem aumentar a severidade dos casos registrados durante o período chuvoso em lavouras de milhosorgocajumangamelãocebolamamão, frutas de caroço e morango.

Além da resistência dos patógenos e da maior proliferação de vetores dessas doenças, o estudo também destaca a perda de eficácia das substâncias químicas já existentes e usadas no controle de pragas. “Precisamos desenvolver, com urgência, bioherbicidas e produtos biológicos que aumentem a eficiência do uso de nitrogênio e reduzam o estresse abiótico das plantas”, alerta um dos autores do estudo, o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Wagner Bettiol.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Semiárido, Francislene Angelotti, a previsão de doenças em um cenário de mudança climática é um desafio complexo que exige a continuidade das pesquisas e implementação de novas estratégias de adaptação.

“O enfrentamento desses desafios exige políticas públicas eficazes e um esforço coordenado entre agricultores, cientistas e governos para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor agrícola”, defende a também autora do levantamento.

Fonte: Globo Rural