Aroeira faz parceria para fábrica de adubo organomineral
20-12-2022

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A crise global de fornecimento de fertilizantes motivou uma corrida de produtores rurais no mercado pelas mais diversas alternativas para garantir a fertilidade dos solos, mas a companhia sucroalcooleira Bioenergética Aroeira preferiu desenvolver uma solução dentro de casa.

Sentada sobre milhões de toneladas de resíduos gerados em sua indústria, a companhia acertou uma parceria com a Agrion para erguer, em suas dependências, uma planta de adubos organominerais, que serão feitos com a matéria orgânica oriunda da filtração do caldo da cana - a torta de filtro.

A usina, localizada em Tupaciguara (MG), já usa adubos organominerais em suas lavouras produzidos com sua torta de filtro, mas atualmente tem que transportar o resíduo até as fabricantes do fertilizante, a mais de 100 quilômetros, para depois voltar com o produto pronto.

Com a planta da Agrion em casa, a companhia ganhará eficiência na logística, ampliará a aplicação em seus canaviais e ingressará em um novo mercado. Pelo acordo entre as companhias, de dez anos, a fábrica de fertilizante organominerais também venderá adubos aos produtores rurais da região, e a Aroeira terá direito a parte das receitas.

Para a construção da fábrica serão investidos R$ 23 milhões, financiados com certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) já emitidos pela Agrion. A captação, concluída recentemente, superou o valor necessário e alcançou R$ 28 milhões. A emissão foi coordenada pela EQI Investimentos e teve como lastro o contrato comercial firmado entre a empresa e a Aroeira, um modelo inédito na emissão de CRAs. A Datagro Financial foi a assessora financeira da Agrion, e a Funchal Investimentos assessorou a EQI.

Será a primeira fábrica da Agrion, criada em 2020 por executivos com experiência no setor, como o CEO Ernani Judice. A companhia tem a patente do processo de produção, que envolve a pelletização do adubo e a composição com microorganismos, como bactérias, para a bioestabilização do composto orgânico.

A fábrica terá capacidade de produzir 25 mil toneladas de adubo organomineral por ano. Parte desse volume já está garantido para a Aroeira e atenderá à demanda necessária para aplicação em todos os seus 40 mil hectares de canaviais, entre áreas próprias e de fornecedores. Atualmente, a Aroeira usa vinhaça em metade da área, aplica adubo organomineral em 30% das lavouras, e complementa com aplicação de fertilizante mineral convencional. "Agora a ideia é não usar mais o mineral puro", afirma Gabriel Junqueira, CEO da usina.

Entre as vantagens do insumo organomineral em relação ao convencional estão seu efeito de recuperação da fertilidade do solo, por causa do composto orgânico, e sua capacidade de fornecer os fertilizantes minerais de forma escalonada, evitando perdas do insumo no solo e melhorando a produtividade agrícola.

Com o aumento da aplicação para todos os seus canaviais, a Aroeira espera que sua produtividade cresça ao menos 10%, ou em 10 toneladas por hectare. A usina já obtêm hoje 94 toneladas de hectare mesmo sem irrigação, um rendimento elevado diante da média do setor, que está em 75 toneladas por hectare.

Segundo Judice, da Agrion, o adubo organomineral consegue oferecer ganhos médios de rendimento entre 10% e 20%, dependendo das condições iniciais do solo e da cultura. O insumo ainda permite a redução do consumo de fertilizantes minerais de 20% a 50%, dependendo do plano de manejo.

O acordo de longo prazo permitirá à Aroeira ter o fornecimento do adubo por um preço vantajoso, mas o produto que será vendido no mercado também será competitivo, assegura o executivo. "O produto sairá mais barato [que a média do mercado] por causa das sinergias [com a torta de filtro da usina]", diz Judice.

Com a fábrica na Aroeira, a Agrion espera um faturamento de R$ 150 milhões no primeiro ano de operação, o que deverá ocorrer em 2024. Mas a empresa já tem um plano de crescimento de curto prazo, com novas parcerias no gatilho, preferencialmente com usinas sucroalcooleiras.

A empresa já tem acordo para desenvolver o mesmo tipo de parceria com usinas do grupo EQM, do Nordeste, e memorandos de entendimento com usinas de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais. "Nossa ideia é estar perto dos locais onde tem matéria orgânica", diz. Segundo o executivo, esse modelo dirime riscos do setor, que são da logística e da garantia de fornecimento da matéria orgânica, além de estar próximo dos polos consumidores.

Fonte: Valor Econômico