As perdas excessivas da indústria sucroenergética brasileira
23-05-2016

De acordo com Dalla Vecchia, as perdas provenientes da forma física podem chegar a 5%, sendo que o admissível é zero

“No quesito produção de açúcar, o Brasil tem uma situação privilegiada em relação aos demais países, que perdem o melaço, enquanto nós o utilizamos para a produção do etanol.” A afirmação é do engenheiro e CEO da Reunion Engenharia, Tercio Marques Dalla Vecchia. “Podemos nos dar ao luxo de retirar apenas 60 a 80% do açúcar contido no xarope, enquanto outros países retiram mais de 90%, o que acaba afetando a qualidade final de seus produtos, pois eles precisam esgotar seus méis o máximo possível e, com isso, o açúcar final sai acompanhado de produtos coloridos.”

Apesar disso, o Brasil não está isento de problemas durante a fase de produção do açúcar, já que as perdas, que podem ser de origens físicas, químicas ou bioquímicas, são extremamente comuns. Dessa forma, trabalhar para diminuir esses números é de extrema importância para elevar a eficiência da operação.

De acordo com Dalla Vecchia, as perdas provenientes da forma física podem chegar a 5%, sendo que o admissível é zero. “Os vazamentos são muito mais comuns do que se imagina. Basta dar uma volta na usina para identificar diversos vazamentos e derrames. Assim, é essencial que toda unidade tenha um programa rigoroso de controle de canaletas para gerenciar e corrigir eventuais falhas.”

Outro aspecto apontado por ele é em relação ao fato de que muitos jogam, através do lodo, o caldo fora para que seja possível moer. “O caldo ser jogado fora e a eficiência cair parece não despertar tanto interesse. Trazer a cana, que foi plantada, adubada, tratada, colhida, transbordada e transportada, para dentro da usina, moer e jogar o caldo fora, parece coisa de louco, mas acontece, e muito. Minha recomendação é que os gestores façam uma busca detalhada em suas unidades para descobrir se esse tipo de ação está ocorrendo.”

Já as perdas químicas, salienta Dalla Vecchia, acontecem pela destruição dos açúcares nos processos de sulfitação, calagem, aquecimento, evaporação e cozimento a quente, com alta acidez ou alta alcalinidade. “Desta forma, é possível projetar equipamentos e processos para reduzir, de forma significativa, essas perdas. Os balões de flash, por exemplo, são desenhados para que ocorra a liberação dos gases de forma rápida e sem que haja retenção de caldo.”

Dalla Vecchia fala, também, dos aquecedores limpos, que têm maior coeficiente de troca térmica, o que permite projetar equipamentos menores caso a Empresa instale processos de limpeza eficientes, que permitirão a utilização de trocadores com menor tempo de residência (placas ou mesmo tubulares de alta velocidade).

O CEO da Reunion Engenharia ressalta, ainda, que na evaporação também se tem buscado menores tempos de residência, através da substituição dos Roberts por fallingfilm, placas ereboilers. “Porém, as adoções devem ser bem estudadas, pois todos apresentam problemas de segurança, limpeza, consumo de energia e estabilidade.”

Ainda de acordo com Dalla Vecchia, o processo de cortes e as recirculações durante o cozimento influenciam muito na destruição da sacarose e na formação de cor. “Os cozedores contínuos são piores neste aspecto porque não se limpam com a habitualidade dos descontínuos. Dessa forma, são formadas crostas de massa que, em contato prolongado com tubos quentes, aumentam as perdas.”

Por fim, existem as perdas por processos bioquímicos, provocadas pela presença de microrganismos (bactérias e leveduras) nos líquidos açucarados. “A contaminação deve ser permanentemente monitorada e controlada, sendo que os principais investimentos devem ser nas instalações”, explica o engenheiro.

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