Asiáticas avançam sobre o mercado de máquinas agrícolas no Brasil
06-06-2024

Indústrias asiáticas de máquinas agrícolas querem o mercado interno do país. Divulgação_LS
Indústrias asiáticas de máquinas agrícolas querem o mercado interno do país. Divulgação_LS

Saiba o que elas estão fazendo para aumentar a presença por aqui e pegar fatias de um setor que faturou R$ 73,7 bilhões no ano passado

Por Bruno Cirillo

As indústrias de máquinas agrícolas de origem asiática, que há muito tempo criaram raízes no Brasil, disputam um mercado em que as importações da China e seus vizinhos ainda são a menor parte, cerca de um quarto do total vendido no país, ou para ser mais exato, 24,6% no ano passado. Mas, com unidades próprias por aqui, elas têm adotado novas estratégias para aumentar a sua presença no mercado interno.

A exemplo da gigante sul-coreana LG Eletronics, uma multinacional de produtos variados que faturou US$ 70 bilhões (R$ 370 bilhões na cotação atual) em 2023, e que tem um braço dedicado à produção de tratores, a LS Tractor, com fábrica em Garuva (SC). No ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), mesmo com queda em relação a 2022, a receita líquida total do setor foi de R$ R$ 73,7 bilhões e uma fatia cada vez maior desse bolo é o que querem os asiáticos.

Uma das estratégias são as parcerias. No início de maio, a LS Tractor anunciou um acordo com a fabricante brasileira de implementos agrícolas Motocana, de Piracicaba (SP), visando acoplar em seus tratores novos equipamentos. Já a subsidiária da chinesa Xuzhou Construction Machinery Group (XCMG), com sede na província de Xuzhou, aposta na chamada linha amarela, de maquinário destinado à construção civil, mas também útil nas lavouras e florestas.

Atualmente, há 34 fabricantes asiáticas em operação no Brasil, de acordo com a Abimaq. A LS Tractor faturou globalmente US$ 5 bilhões (R$ 25 bilhões) no ano passado — 7% do valor gerado pela holding LG — e tem três fábricas no mundo. Mas a do Brasil tem sido colocada em evidência. A fábrica, que produz para toda a América Latina a partir daqui, também vende para a África. Para construir a unidade foram necessários três anos de negociação entre os dois países, em 2013. Hoje, saem da linha 3,2 mil tratores por ano, mas a capacidade instalada é de até 5 mil unidades.

“Já foram vendidos no país 30 mil tratores”, diz o engenheiro agrícola Astor Kilpp, um dos mais antigos na empresa, desde 2016, e que comanda o setor de produtos e marketing da LS Tractor no país. No caso da parceria com a Motocana, agora, os tratores já sairão de fábrica equipados com os componentes hidráulicos da brasileira, para atividades como o pinçamento, colheita e carregamento de produtos silvipastoris e madeireiros, entre outros. “Essa é a estratégia atual para a ampliação da nossa base de negócios”, afirma Kilpp.

Renato Campos, diretor da Motocana, diz que a estimativa com a nova parceria é vender acima de 200 equipamentos hidráulicos por ano. “Nessa faixa de potência em que estamos atuando com a LS, de 80 a 100 cavalos, podemos atender vários segmentos, canavieiro, florestal, carregamento de madeiras, sucata…”, diz ele. “E o mesmo equipamento pode estar no trator agrícola, mas também num caminhão.”

Mas a presença dos equipamentos asiáticos não é somente por meio das fábricas já instaladas no país. As importações vêm ganhando peso, em um cenário muito particular. Em 2023, o Brasil comprou da Ásia o equivalente a US$ 276,3 milhões (R$ 1,4 bilhão), com alta de 5% em relação ao ano anterior, segundo o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Isso representa 15% do total de máquinas agrícolas adquiridas no país no ano passado – a estimativa para esse ano é que fique próximo de 14%.

Enquanto isso, as exportações ao oriente representam 5,4% do total de máquinas vendidas ao exterior: US$ 104,1 milhões (R$ 529,8 milhões) em embarques no último ano, com leve alta de 1,3% anual. “O setor brasileiro importa mais equipamentos de grande porte e exporta, em maior parte, equipamentos de pequeno porte”, diz Cristina Zanella, gerente de economia e estatística da Abimaq. Não à toa, o setor brasileiro tem um déficit neste setor de US$ 172,2 milhões (R$ 912,6 milhões) na relação com a Ásia. No total, para todos os mercados e grupos exportadores, o superávit comercial do segmento girou em torno de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões).

Os asiáticos começam a ser notados por essa particularidade, a das pequenas máquinas, e estão cada vez mais interessados no potencial desse mercado, por exemplo, em vender para a agricultura familiar. Uma presença deste calibre foi a estatal chinesa YTO, que participou em abril pela primeira vez da Agrishow, a principal feira de tecnologia do país, realizada em Ribeirão Preto (SP), justamente oferecendo máquinas de baixo custo para pequenos e médios produtores.

A empresa está trazendo ao país motores a partir de 24 cavalos de potência, até 240 cavalos, e também planeja vender tratores. “As empresas asiáticas que investem no Brasil têm um potencial muito parecido e concorrem com as grandes indústrias”, diz Zanella, se referindo aos grandes grupos, como John Deere, AGCO e CNH Industrial.

No caso da chamada linha amarela das máquinas (construção civil) para o agronegócio, as asiáticas também estão na corrida por uma fatia do mercado, tanto de produtos importados como daqueles já nacionalizados. “Dez anos atrás, os produtores rurais usavam apenas tratores e máquinas agrícolas. Hoje, veem vantagem em usar máquinas de construção”, afirma Renato Torres, diretor comercial da XCMG. Segundo ele, a XCMG cresce de 5% a 8% ao ano, num setor que, pontua, é mais estável do que seus outros clientes, por exemplo o da construção. “Em termos de expansão, não há muita crise no agronegócio, diferente da construção civil, que não tem investimento quando falta obra. É mais consistente e estável.”

Das 23 fábricas no mundo, a de Pouso Alegre (MG), instalada há duas décadas, produz 10 mil máquinas por ano. Também na Agrishow, a marca lançou três produtos de olho no agro: uma escavadeira, uma mini-escavadeira e um caminhão elétrico. “Assim como a XCMG, a China enxerga o potencial agrícola do país”, diz Torres. “O Brasil é tido como uma grande economia que oscila pouco graças ao agronegócio, mesmo que haja mudanças no cenário político.”

Fonte: Forbes