Aumento de etanol na gasolina não deve alterar geração de empregos
10-03-2015

Apesar do aumento do percentual do etanol anidro na gasolina de 25% para 27% ser apontado como o principal gesto de socorro do governo federal ao setor sucroenergético, entidades sindicais da região não acreditam que a medida terá impacto imediato na geração de empregos.

A elevação dos índices de demissões nos canaviais e usinas ano passado, em relação a 2013, foi um dos mais principais reflexos das dificuldades financeiras que afetam a agroindústria canavieira. Nos doze meses de 2014, foram contabilizados 3.356 desligamentos no campo e indústria pelos sindicatos dos trabalhadores da região administrativa de Araçatuba, 16% a mais que no ano retrasado, que totalizou 2.892 cortes.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçatuba, Aparecido Guilherme de Moura, acredita que, embora auxilie o setor produtivo, o aumento da mistura não deve alterar o quadro de contratações no campo. Sua expectativa, baseada na observação de uma quantidade menor de cana plantada e das dificuldades que o setor atravessa, aponta para uma diminuição das contratações na região. "A safra já está prestes a começar e as usinas já tinham seu planejamento para 2015/2016 antes da efetivação da medida. É possível que a mudança tenha reflexos posteriores, mas só em próximas safras".


Indústria

O presidente do Sindalco (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e da Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Biocombustível de Araçatuba e região), José Roberto da Cunha, calcula que mesmo com a elevação do percentual do etanol na gasolina, o quadro de funcionários na área indústria deva retrair 10% na safra 2015/2016, se comparado com a temporada anterior.

"No final do ano passado, acreditávamos que as usinas fossem parar de demitir, mas elas não cessaram os cortes na entressafra. Hoje (ontem) mesmo observamos 18 homologações de cortes do setor". Para ele, além da mistura, o setor precisa de um plano de produção e de redução de tributos.


Mecanização

Na avaliação de Paulo César Marques, auxiliar contábil do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Penápolis, a medida governamental não aumentará a geração de empregos nos canaviais devido ao avanço da colheita mecanizada, que ele calcula alcançar quase 100% das usinas dos arredores do município. "Como cada máquina colhe o mesmo que 80 trabalhadores manuais, as contratações diminuíram. Se neste ano houver mil cortadores de cana no campo, é muito," disse, sem revelar o número de trabalhadores contratados.

De acordo com levantamento divulgado no final de fevereiro deste ano pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola), até a safra 2013/2014, a mecanização atingia 92,3% das plantações do EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) de Araçatuba), 99,3% no EDR de Andradina e 88,1% em General Salgado. A estimativa do instituto é de que as três regiões reúnam 2.904 cortadores de cana.

Embora o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Valparaíso, Paulo de Oliveira Cruz, espere que futuramente o aumento do etanol na gasolina tenha bons efeitos para o setor, ele também acredita que as contratações deste ano na área de abrangência do sindicato será prejudicadas pela mecanização. "Provavelmente as contratações vão ser menores ou estarão no mesmo patamar da safra passada," analisou.


Cana a ser processada na safra já está em desenvolvimento, diz UDOP

De acordo com o presidente-executivo da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), Antonio Cesar Salibe, o aumento da mistura de etanol na gasolina C não trará impactos positivos na contratação de mão de obra, pelo fato de a cana-de-açúcar ser uma cultura perene, com reformas de canaviais que ocorrem a cada seis safras.

Ele ressalta, além disso, que a cana disponível para o processamento na safra 2015/2016 já está em processo de desenvolvimento. "Necessário será, apenas, uma readequação das estratégias quanto ao mix de produção das usinas, ou seja, a quantidade de cana que será direcionada para a produção de etanol (anidro e hidratado) ou açúcar. Esta mudança do mix, por sua vez, não gera impactos relevantes na contratação de profissionais."

Segundo ele, a expectativa do setor que é de para a safra 2016/17, as contratações podem sofrer um acréscimo.


Sem resposta

A reportagem entrou em contato com algumas unidades produtoras da região na tarde de ontem para consultá-las sobre a previsão de contratações, porém até o fechamento da edição, não obteve resposta.

Rafaela Tavares