Aumento de impostos pode frear ainda mais a economia, dizem analistas
22-01-2015

O aumento dos impostos anunciado pelo governo deve contribuir para reduzir ainda mais o ritmo do crescimento da economia neste ano, afirmam analistas ouvidos pela Folha.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou na segunda-feira (19) o aumento dos tributos sobre gasolina, diesel, cosméticos e produtos importados.

O governo decidiu também dobrar a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas operações de crédito para pessoa física, de 1,5% para 3%. A medida soma-se ao aumento recente na taxa básica de juros, a Selic. Ambas tornam mais caro pegar financiamentos e fazer compras parceladas, desaquecendo, assim, o consumo.

"As medidas são muito recessivas. É preocupante o cenário para a atividade econômica nos próximos meses", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

A consultoria LCA é uma das que estão revisando sua projeção para o crescimento da economia. A consultoria projetava aumento de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto), baixou a expectativa para 0,4% e avalia se reduzirá ainda mais o número nos próximos dias.

"Tivemos as mudanças no PSI [linha de crédito do BNDES], no seguro-desemprego, o aumento das taxas sobre o crédito. Há ainda a condição hídrica ao longo do mês que causa muita incerteza e perspectivas mais negativas para a economia argentina. Estamos avaliando novamente nossa projeção", afirma Francisco Pessoa, economista da LCA.


Inflação

O objetivo das medidas divulgadas pela equipe econômica é melhorar as contas do governo, que nos últimos anos vem tendo dificuldade para cumprir sua meta de economia para o pagamento dos juros, o chamado superavit primário.

Mas elas devem ter impacto inflacionário, alertam especialistas. O aumento do PIS/Cofins e a volta da Cide (tributo regulador do preço de combustíveis) farão com que a gasolina na bomba fique entre 7% e 8,4% mais cara, segundo estimativas de mercado.

A Petrobras já disse que irá repassar ao consumidor a alta na tributação. Embora não tenha afirmado de quanto será o aumento, a aposta do mercado é que a petroleira repassará toda a alta -a estatal tem dívidas bilionárias e o preço do barril de petróleo não para de cair.

Como a gasolina tem peso de cerca de 4% no IPCA, o índice que mede a inflação oficial do país, o efeito no ano seria um aumento de 0,3 ponto percentual na inflação, segundo analistas.

Eles lembram, contudo, que o desaquecimento da economia pode fazer com que os preços livres subam menos, atenuando esse efeito.

A Gradual, por exemplo, reajustou de 6,2% para 6,4% sua previsão de inflação para o ano. A consultoria LCA também aumentou em apenas 0,2 ponto percentual sua estimativa, que saiu de 7% para 7,2%.

Outros analistas já projetavam um aumento significativo no preço dos combustíveis este ano e, por isso, decidiram manter a expectativa de inflação anterior. É o caso da consultoria Tendências, que seguiu com estimativa de inflação em 6,8% no ano, e da GO Associados, que manteve a projeção de 6,4%.

"Nossa estimativa já considerava aumento de R$ 0,28 por litro na gasolina por conta da volta da Cide. Veio abaixo disso, mas ainda temos o impacto da energia elétrica, cujo reajuste não foi definido", diz Adriana Molinari, economista da Tendências.

"Essas medidas já estavam no radar. Já contávamos com a majoração do preço da gasolina, da energia elétrica, o aumento da tarifa de ônibus. Há vários fatores jogando a inflação para cima. No cômputo geral, a inflação de janeiro a março vai rodar em 0,95% em média. É esse cenário pavoroso que se espera", afirmou Fábio Silveira, sócio da GO Associados.

O relatório Focus, divulgado no dia 16 de janeiro, previa inflação de 6,67% no ano e crescimento do PIB de 0,38%.

Renata Agostini