Aumento dos custos com diesel na safra 2022/2023 reflete impactos internacionais e desafios para a cadeia sucroenergética
16-06-2023

Os combustíveis são indispensáveis para todos os setores de uma economia, incluindo a esfera agroindustrial. Na cadeia sucroenergética, mais especificamente, o diesel é uma das principais fontes energéticas dos processos agrícolas, desde a logística de recebimento de defensivos, fertilizantes e outros insumos; passando pelas operações agrícolas com maquinário e implementos; até a colheita e o transporte da cana-de-açúcar produzida. Por conta disso, a variação dos custos com diesel no custo caixa da safra 2022/2023 atingiu R$9,73/tonelada, em relação à safra anterior, evidenciando a representatividade do combustível fóssil nos investimentos feitos (segundo dados do Pecege Consultoria e Projetos).

O acréscimo representativo nos custos com diesel entre a safra 2021/22 e a safra 2022/23 respondeu ao cenário internacional dos últimos dois anos, no qual, a reabertura econômica global pós pandemia fortaleceu a demanda por combustíveis e o conflito no leste europeu agravou o contexto, com um choque de oferta momentâneo.

Como evidenciado no segundo gráfico, em que as barras verdes representam a Relação de Troca – estipulando quantas toneladas de cana seriam necessárias para comprar 100 litros de diesel –, o melhor momento para a compra do insumo se deu em meados de setembro de 2021, quando os preços mais baixos do combustível respondiam à baixa demanda mundial devido à pandemia e o setor ostentava maior retorno pela matéria-prima, em meio à quebra da safra e aos altos preços das commodities mundiais. Em contrapartida, o momento menos favorável se deu um ano depois, em setembro de 2022, tendo em vista os acontecimentos no Leste europeu e a reabertura econômica, que fizeram com que os preços do carburante escalassem.

 

No ano de 2023, por outro lado, os preços mostram-se em tendência de normalização, até o momento, o movimento reflete a queda no consumo mundial, à medida que as economias mundiais ensaiam uma nova desaceleração. No entanto o cenário se torna mais evidente quando se observa a Relação de Troca, que – tanto pelos valores mais baixos do combustível, como pela maior rentabilidade do ATR – atingiu (em março de 2023) o mesmo índice de janeiro de 2021 e ostenta o momento mais favorável à compra de diesel desde fevereiro de 2022.

Entretanto, as projeções de preços se tornaram menos assertivas à medida que as interferências governamentais na formação dos preços de combustíveis passaram a desconsiderar o PPI¹. Sendo assim, apesar de as cotações internacionais do Petróleo apresentaram queda em maio de 2023 (o que deve motivar um novo corte de produção dos países da OPEP+ para equilibrar a balança), o governo brasileiro estuda a reoneração de impostos federais no diesel a partir de setembro de 2023, o que pode causar um descolamento entre os preços nacionais e internacionais do combustível.

¹PPI: Preço de Paridade de Importação.

 Gabriel Casarotti

Analista de Insumos Agroindustriais do Pecege Consultoria e Projetos