Bons preços do açúcar e etanol animam o setor sucroenergético
03-02-2020

Foto: Divulgação - Armazém Geral Delta Tanques
Foto: Divulgação - Armazém Geral Delta Tanques

“Vai ser um ano muito interessante, que vai proporcionar boa remuneração para as usinas independentemente do mix de produção”, diz especialista

Para o economista Haroldo Torres, da Pecege – Esalq-USP, a safra 2019/2020 do setor sucroenergético brasileiro foi marcada substancialmente por dois fatores:

 1) a recuperação da produtividade agrícola e, consequentemente, incremento da moagem de cana-de-açúcar na Região Centro-Sul do país;

 2) um recorde na produção de etanol – devendo finalizar a safra com 65,71% do mix de produção direcionado ao etanol (0,92 p.p superior à safra 2018/2019), em função da maior rentabilidade desse produto frente ao açúcar.

Esse cenário mais positivo já refletiu nos negócios das empresas fornecedoras de produtos e serviços para o setor, em 2019 houve aumento de vendas de insumos para as usinas e produtores de cana. Para a safra 2020/21, o otimismo é maior ainda, já há quem considera que este ano será a abertura para um nível de investimento bem próximo ao início dos anos 2000, na época da grande expansão canavieira.

O RenovaBio – Política Nacional de Biocombustível – já em vigor, irá dar mais sustentação para investimentos no setor, visando o aumento da produção de etanol. Mas, além do RenovaBio, o setor tem outros motivos para comemorar. Na análise de Arnaldo Correa, diretor da Archer Consulting, o início do 2020 foi excelente para as usinas, em especial para aquelas que - de maneira disciplinada - aguardaram o momento adequado para fazer o hedge do açúcar de exportação.

Corrêa observa que, nos últimos dias houve uma reviravolta na posição dos fundos e por consequência, um aumento substancial nos preços do açúcar em NY. “Passamos pela fase de euforia, logo em seguida os fundos devem ter readequado seus livros e agora, assim entendemos, quando a poeira baixa e todos fazemos nossos cálculos, vimos que os preços estão muito bons para os produtores”, diz.

Segundo ele, observando o fechamento de NY nesta sexta-feira (31), o açúcar com vencimento para março/2020 encerrou a 14.61 centavos de dólar por libra-peso, equivalendo a 1,440 reais por tonelada. Até as usinas mais deficientes ganham dinheiro com esse preço. E isso merece um alerta. “Os preços atuais do açúcar em NY, olhando a extensa curva que se prolonga até 2021/2022 e usando o NDF (contrato à termo de dólar com liquidação financeira) remuneram satisfatoriamente grande parte das usinas, cujo custo médio de produção é estimado pela Archer em cerca de R$ 1,100 por tonelada FOB Santos.”

 Na visão do diretor da Archer, o que se nota é que as usinas aproveitaram e continuam aproveitando a alta de preços em NY e aceleraram as fixações de açúcar para a safra 2020/2021 e iniciaram os hedges de venda também para 2021/2022. “Embora ainda não temos o volume de fixação de preços acumulado até janeiro, não seria exagero afirmar que poderemos ver um percentual de fixação acima dos 50%.”

 Por esse motivo, ou seja, pela aceleração verificada nas fixações de preço haverá uma safra com mais açúcar este ano. “Não acreditamos que essa ligeira mudança no mix pró açúcar vá impactar os preços da commodity, pois grande parte desse aumento da disponibilidade é resultado das fixações obtidas antecipadamente pelas usinas mais bem capitalizadas que compararam o resultado líquido dessas operações com açúcar com a curva provável do hidratado para o início da safra. Assim, grosso modo, fixaram antes de mudar o mix porque o açúcar mostrava boa rentabilidade. Preferiram o certo (fixar NY e câmbio) ao duvidoso (não há instrumentos para fixar hidratado para, digamos, julho de 2020, com exceção de uma provedora de OTC que desenvolveu um produto com esse fim).”

Estimativa da Archer aponta que, mais cana direcionada para a produção de açúcar vai reduzir a disponibilidade de hidratado. O consumo de combustíveis no Brasil deve crescer 5% este ano.  E que deverá ter um acréscimo líquido na frota de veículos leves entre um milhão e um milhão e duzentas mil unidades. “Esses dois fatores somados devem criar uma demanda adicional de 1.5-2.0 bilhões de litros para o ano de 2020. Por outro lado, a produção de ATR está estagnada há mais de uma década e não se vislumbra aumento de produção no horizonte próximo. São grandes as chances de o cenário econômico favorável acirrar a arbitragem entre açúcar no mercado internacional e o hidratado internamente”, analisa Corrêa.

O economista prevê que o açúcar poderá ser negociado a prêmio no segundo semestre dependendo do comportamento do petróleo. As tradings deverão optar por contratos comerciais mais longos, pois estão preocupadas com o eventual estreitamento dos prêmios mais adiante. Usinas com eficiente planejamento financeiro e folga no caixa podem esperar para obter melhor rentabilidade futuramente. “Vai ser um ano muito interessante que vai proporcionar boa remuneração para as usinas independentemente do mix de produção. A gestão de risco foi protagonista este ano e não apenas coadjuvante”, salienta Corrêa.

O Diretor da Archer informa que os fundos aumentaram o long de 13,500 lotes para 125,500 de 13/12 para cá, enquanto o mercado passou de 13.50 para 14.61 centavos de dólar por libra-peso.   “Ou seja, cada acréscimo de um dólar por tonelada no preço do açúcar foi preciso que os fundos comprassem mais de 220,000 toneladas nos futuros NY. Quem estava dando liquidez para essa robusta compra dos fundos? As usinas no Brasil fixando preços e os exportadores na Índia muito felizes em poder maximizar o volume de exportação.”

A Archer conclui que as usinas deverão continuar aproveitando os preços remuneradores em NY. Hidratado vai ter um ano de bom consumo. Disponibilidade de produto pode ser afetada se o as projeções de PIB se confirmarem. “Em contrapartida, o agravamento do coronavírus e a queda acentuada do petróleo são dois pontos que podem minar a estrada virtuosa que vimos adiante.”