Brasil carbonizado
13-03-2015

Nunca é demais rememorar que o Brasil deu a maior contribuição individual da última década para mitigar o aquecimento global. De 2004 a 2014, reduziu em 82,5% as taxas de desmatamento na Amazônia, sua principal fonte de emissões de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2).

Trata-se de feito inegável dos governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ainda que por vezes reagindo a pressões de ONGs nacionais e estrangeiras, Brasília cumpriu o seu papel.

Não é o caso, porém, de deitar-se sobre os louros, como alerta Carlos Rittl, da rede de ONGs Observatório do Clima, em entrevista concedida a esta Folha.

Primeiro, pois um patamar de 5.000 km2 anuais de devastação segue sendo absurdo --mais que o triplo da área do município de São Paulo. Isso para não mencionar outros estimados 7.000 km2 abatidos anualmente no cerrado (resta-lhe metade da cobertura original, contra 82% da floresta amazônica).

Segundo, porque os louros vão murchar na comparação com as emissões dos demais setores da economia. Embora esta progrida em ritmo de tartaruga, as emissões correspondentes --sobretudo no uso de energia e na pecuária-- avançam com passo mais rápido.

Segundo estimativa do Observatório, de 2012 para 2013 as emissões totais brasileiras aumentaram 7,8%, em boa parte pelo repique de 29% no desmatamento. Mas geração de eletricidade e transportes também lançaram 7,3% mais gases do efeito estufa, bem acima do que seria de esperar com o crescimento de 2,5% do PIB na ocasião.

As razões foram o represamento dos preços da gasolina, que estraçalhou o setor de álcool (menos poluente), e a crescente dependência de usinas térmicas a gás, óleo e carvão para gerar eletricidade.

Ainda assim, consideradas só emissões do setor energético, os brasileiros estão muito abaixo da média mundial, com 2,4 toneladas de CO2 por habitante/ano (contra 7,2 no panorama global). Quando se inclui na conta o carbono oriundo do desmatamento, contudo, chegamos a 7,8 toneladas, nível de um Reino Unido.

Diminuir a devastação florestal será um desafio. Cumpre fazê-lo, decerto, pois destruir mata nunca foi garantia de desenvolvimento. Mas sem esquecer que o restante da economia nacional se carboniza, na contramão da contribuição que o país precisa dar para limitar o aquecimento da atmosfera.

Editorial