Brasil melhora posição entre mercados mais atrativos para investimentos renováveis
21-12-2023

Sofia Maia, chefe de pesquisa sobre Transição da BNEF (Foto: Divulgação)
Sofia Maia, chefe de pesquisa sobre Transição da BNEF (Foto: Divulgação)

Índia lidera ranking Climatescope, seguida por China, Chile, Filipinas e Brasil

Por Nayara Machado

Depois de cair para a 9ª posição no ranking de países emergentes com condições mais favoráveis aos investimentos em energias renováveis em 2022, o Brasil terminará o ano de 2023 como o quinto mais atrativo, de acordo com relatório Climatescope da BloombergNEF.

A Índia lidera a lista, seguida por China, Chile e Filipinas. O Climatescope analisa o progresso e a atratividade no setor de energia limpa em 110 economias. Juntos, esses países representam quase dois terços do total de adições de capacidade global de geração renovável em 2022 e 82% da população mundial.

“Nos últimos anos, o Brasil sempre esteve no Top 10. No ano passado, ele teve uma queda maior na pontuação e foi para o 9º lugar. Este ano voltou a recuperar”, conta Sofia Maia, chefe de pesquisa sobre Transição da BNEF.

Em entrevista à agência epbr, ela explica que para atrair investimentos, as economias emergentes precisam de um mercado de eletricidade bem estruturado, com uma série de políticas em vigor para apoiar suas metas de energia renovável.

“Os primeiros cinco países do Climatescope refletem isso claramente, e é por isso que todos permaneceram entre os 10 principais mercados nos últimos quatro anos”.

No caso da Índia, primeira colocada, a receita combina metas ambiciosas para substituir combustíveis fósseis, leilões de energia renovável e o crescente investimento em capacidade eólica e solar.

Por aqui, o avanço da geração própria de energia – que saltou de 8 GW no início de 2022 para 25 GW em novembro de 2023 – ajudou a melhorar a atratividade do mercado brasileiro, avalia Maia.

“O que fez o Brasil melhorar de nono para quinto lugar foi justamente porque a gente teve uma política de compensação de energia nos últimos anos que atraiu uma quantidade gigantesca de investimentos, até porque foi anunciado que ia finalizar alguns incentivos. Então, a gente viu um boom de investimentos em projetos de pequena escala”, comenta.

A pesquisa foi realizada entre maio e junho, considerando políticas para o setor de energia e barreiras que poderiam dificultar o investimento, as realizações do mercado e o potencial de expansão da capacidade renovável.

No quesito experiência, que avalia as realizações do mercado, Chile e Brasil têm as melhores pontuações, respectivamente, entre os cinco. Já o potencial de expansão do Brasil é o menor, o que ajudou a puxar a pontuação para baixo.

Na comparação Chile e Brasil, a especialista da BNEF aponta que o Chile tem metas mais ambiciosas: além de já ter cumprido a meta de renováveis prevista para 2025, o país latinoamericano têm um projeto para phase-out de plantas a carvão até 2040.

“Todo esse comprometimento que o Chile tem, ainda que o Brasil seja um país com uma matriz elétrica muito forte em renovável, grande parte da nossa matriz é proveniente de hidrelétricas”, observa.

Dos quase 197 GW instalados no Brasil, quase 52% são de fonte hidrelétrica, 24% termelétrica (geralmente, fóssil), 14% eólica e 5% solar fotovoltaico, de acordo com dados da Aneel.

Embora tenha atraído investimentos crescentes em geração eólica e solar, o país tem dado passos para expandir a matriz com térmicas a gás e manter usinas a carvão em funcionamento até 2050 com a aprovação de políticas nesse sentido.

Investimentos concentrados

Dos 110 mercados emergentes, 102 estabeleceram metas de energia renovável e 74 instalaram pelo menos 1 MW de energia solar só no ano passado – um número recorde.

O relatório observa que o ritmo das instalações está acelerando entre os emergentes, que instalaram 222 GW de energia eólica e solar em 2022, cerca de 23% que em 2021.

No entanto, esses investimentos estão concentrados. Apenas 15 dos mercados analisados (excluindo a China) respondem por 87% da atração de capital para projetos renováveis, com destaque para Brasil, Índia e África do Sul que, juntos, captaram metade dos US$ 80 bilhões aplicados nos emergentes.

Fonte: EPBR