Broca, Cigarrinha e Sphenophorus competem pela liderança de ser a principal praga dos canaviais
16-12-2021

Na briga pela liderança de pior praga dos canaviais: broca, cigarrinha ou Sphenophorus, quem perde é a cana
Na briga pela liderança de pior praga dos canaviais: broca, cigarrinha ou Sphenophorus, quem perde é a cana

A cana-de-açúcar pode ser atacada por mais de 80 espécies de pragas que devoram a produtividade, longevidade dos canaviais e o caixa da empresa, mas três delas causam maior prejuízo

Luciana Paiva

A obtenção de canaviais com excelência. Essa é a meta do setor para se tornar mais competitivo. Um dos fatores primordiais para alcançar esse objetivo é controlar as pragas da cana. Mundialmente, a lavoura canavieira contabiliza perdas de aproximadamente 20% ao ano, considerando somente o ataque de pragas.

Especialistas na área informam que a cana-de-açúcar pode ser atacada por mais de 80 espécies de pragas, sendo que algumas delas, como nematoides, muitas vezes são observadas nas lavouras somente após terem causado danos, uma vez que são pragas de solo e, por isso, de difícil observação.

Ampla distribuição pelo país e gravidade dos danos fazem da broca a principal praga da cana

Para muitos, a broca-da-cana (Diatraea saccharalis) se mantém como a principal praga da cultura, em decorrência de sua ampla distribuição pelo país, atingindo as principais regiões produtoras: São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás. E pela gravidade de seus danos: para uma produtividade de 80 toneladas por hectare, as perdas ocasionadas pela broca para cada 1% de intensidade de infestação são de 616 quilos de cana, 28 quilos de açúcar e 16 litros de álcool, aproximadamente.

RESISTÊNCIA DA CIGARRINHA AOS INSETICIDAS DIFICULTA CONTROLE

A cigarrinha causa perdas diretas e indiretas

Com a extinção do fogo dos canaviais e a palhada que cobre o solo, a broca passou a ter concorrentes de peso, como as cigarrinhas. Os prejuízos causados pela cigarrinha-da-folha têm chegado a 17,5% de perda no processo industrial, quando a população de adultos chega a 0,7 indivíduos por colmo. A espécie Heterotermes tenuis pode causar perdas da ordem de dez toneladas por hectare, por ano, sobretudo em solos arenosos. Já a cigarrinha-da-raiz causa perdas de 11% na produtividade agrícola e 1,5% na produção de açúcar.

Essa praga apresenta prejuízos diretos, causados pelas ninfas, que extraem grande quantidade de água e nutrientes das raízes, impactando negativamente no desenvolvimento da cultura, e indiretos causando a redução do teor de açúcar e aumento do teor de fibras e definhamento dos colmos, podendo causar a mortalidade da planta.

Pesquisadores salientam que a intensidade dos danos da cigarrinha na cana-de-açúcar depende de três fatores principais: população – quanto mais intensa, maior será o dano –; suscetibilidade da variedade – algumas perdem de 60% a 70% da produtividade, enquanto outras, de 10% a 20%; bem como a idade e o tamanho da planta ao sofrer o ataque – a cana de final de safra sofre mais com o ataque da cigarrinha do que a cana colhida em maio, por exemplo. Por conta disso, a cana de fim de safra registra queda de produtividade superior do que os vistos em na cana colhida em maio.

 

No entanto, não é apenas a intensidade da cigarrinha nos canaviais que se tornou algo preocupante, mas também o aumento da resistência da praga aos inseticidas utilizados atualmente no manejo. Pesquisadores observam que o uso contínuo de um mesmo modo de ação, removendo seletivamente indivíduos susceptíveis, mantendo na população os resistentes, que sobrevivem à aplicação do inseticida e se multiplicam entre si. Por isso, se torna fundamental o desenvolvimento de novos produtos que realmente controlem a cigarrinha.

A SEVERIDADE DO ATAQUE DO SPHENOPHORUS O COLOCA COMO FORTE CONCORRENTE AO TÍTULO DE PIOR PRAGA DOS CANAVIAIS

 Sphenophorus levis na fase adulta, conhecido como o bicudo da cana

Há que diga que o principal concorrente da broca pelo título de pior praga da cana é o Sphenophorus levis, conhecido como bicudo-da-cana. A Praga provoca perdas de 30% a 60% da produtividade, podendo levar a renovação antecipada do canavial. Diferentemente da broca, o Sphenophorus ainda não se espalhou por todas as regiões canavieiras, mas sua incidência é grande no Estado de São Paulo, que responde por 60% da cana produzida no Brasil. O ataque da praga é apontado como uma das razões para a baixa produtividade dos canaviais paulistas.

O S. levis, detectado em muitas áreas de usinas e fornecedores constitui uma grande preocupação pelas proporções que atinge em termos de danos, abrangência e dificuldade de controle. Os dados de levantamentos de campo indicam que, ano após ano, novas áreas são detectadas com a praga e com intensidades de ataque que irão resultar na necessidade de renovações precoces dos canaviais.

Os danos são causados pelas larvas que se abrigam no interior do rizoma e danificam os tecidos. Em consequência pode ocorrer a morte da planta e falhas nas brotações das soqueiras, com perdas de 20 a 30 toneladas de cana/ha/ano. Os seguidos ataques nas áreas de soqueiras e a consequente redução do “stand” da cultura ocasionam perdas cumulativas nos cortes, obrigando a reformas precoces do canavial, que muitas vezes não passam do segundo corte.

A orientação fundamental para quem vai formar canavial é plantar muda sadia. Foi justamente a falta de cuidado a responsável pela alta infestação de Sphenophorus. Além da sanidade das mudas é fundamental o monitoramento do canavial, fazer amostragens e aplicar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) para aumentar a eficiência do controle. O MIP associa o ambiente e a dinâmica populacional da espécie, utiliza todas as técnicas apropriadas e métodos de forma tão compatível quanto possível, mantendo a população do Sphenophorus em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico.

Fonte: CanaOnline