Canavial que vira legado: como Renato Trevizoli atingiu os três dígitos com solo vivo, sucessão familiar e ciência aplicada
15-07-2025

Produtor tem a expectativa de colher mais de 200 t/ha na área implantada em 2023
A jornada de transformação agronômica, sucessão familiar e construção de um novo olhar sobre o solo e a cultura da cana-de-açúcar foram destaques na apresentação de Renato Trevizoli, diretor da Agrícola Trevizoli, em reunião do Grupo Fitotécnico.
Formado em zootecnia, Trevizoli iniciou sua trajetória em solos arenosos no interior de Goiás. Aplicando princípios técnicos rigorosos, alcançou resultados expressivos em sistemas de pastejo intensivo, elevando o V% de solos pobres para patamares superiores a 80 e promovendo saltos de produtividade com o uso estratégico de matéria orgânica, especialmente 10 toneladas por hectare de cama de frango. “Foi quando aprendi que a matéria orgânica é o motor da vida no solo”, afirmou.
Ao retornar para a fazenda da família, deparou-se com um cenário modesto: TCH de 85, adubação genérica e variedades antigas. A transformação veio ao aplicar analogias aprendidas na pecuária: “A área de reforma é a vaca seca. Se ela não for bem nutrida, todo o ciclo está comprometido”. Com base nisso, iniciou um processo rigoroso de correção do perfil do solo antes do plantio, integrando 100% de MPB (mudas pré-brotadas) na formação do canavial.
Renato também implementou o “manejo das cinco palhas”, uma técnica que prevê dois anos de roça antes da implantação da cana. O objetivo: eliminar pragas, reequilibrar o solo e garantir vigor radicular. Além disso, utilizou plantas de cobertura na entrelinha das socas, como feijão-de-porco e mucuna, com o apoio técnico do pesquisador do IAC, Denizart Bolonhezi.
“Com esse manejo, a expectativa é colher mais de 200 t/ha na área implantada em 2023. O ano passado foi o ‘pedágio’: sem primeiro corte, mas com estrutura e solo renovados.”
Entre as práticas que consolidaram o salto de produtividade estão: adubação baseada no Boletim 100, com cálculos proporcionais à meta de produtividade; alta população de colmos (mínimo de 80 mil) como critério básico de seleção varietal; planejamento de colheita por semana, com pré-avaliação por BRIX e controle da qualidade do corte; uso de fontes orgânicas entre o segundo e terceiros cortes; aplicação estratégica de ativos biológicos, como solubilizadores de fósforo, fixadores de nitrogênio e indutores de tolerância e ensaios de adaptação varietal com 15 a 20 materiais por ciclo, facilitado pela MPB.
O resultado? Em 2024, a média da Agrícola Trevizoli foi de 98 t/ha em ambientes C e D, sem irrigação. Com a reentrada do primeiro corte em 2025, a estimativa já ultrapassa 120 t/ha.
O case de Renato Trevizoli também se destaca pela condução exemplar de uma sucessão familiar bem-sucedida. A paixão pelo MPB envolveu sua esposa, mãe, irmã e filhos — um deles já agrônomo e prestes a concluir o mestrado. A biofábrica da fazenda leva o nome de seu mentor no IAC: Dr. Mauro Xavier.
Ao final, Trevizoli resumiu com clareza: “O que fazemos não é segredo. Está nos livros. Está no Boletim 100. Só que tem que aplicar com coerência, corrigir o solo, respeitar a biologia, escolher bem as variedades e planejar. O resultado vem”.
Ele encerrou mostrando um vídeo de colheita da IAC 5503: material ereto, produtividade de 162 t/ha e ATR de 126 kg — colhido com fluidez e quase zero impureza mineral. “Até cego colhe esse canavial”, brincou.