CBios atingem mínimas históricas e estoques podem pressionar mercado até 2026, aponta Itaú BBA
09-09-2025

Radar Agro prevê manutenção de excesso de créditos e alerta para risco de enfraquecimento do RenovaBio diante da judicialização e revisão de metas
Por Andréia Vital
O mercado de créditos de descarbonização (CBios) atravessa um de seus momentos mais delicados desde a criação do RenovaBio, em 2017. Segundo o mais recente relatório Radar Agro – Monitoramento RenovaBio, produzido pela Consultoria Agro do Itaú BBA, os preços caíram em agosto de 2025 para R$ 32,6/unidade, o menor valor desde 2021. A desvalorização de 44% em relação a julho foi atribuída ao excesso de oferta de créditos e aos efeitos da judicialização do programa, que trouxe insegurança regulatória para o setor.
Os analistas projetam que o mercado encerrará 2025 com 32,5 milhões de CBios em estoque, quase o dobro da meta anual de 17,6 milhões de unidades. Esse acúmulo ocorre mesmo após melhora na adimplência das distribuidoras, impulsionada pela Lei nº 14.993/2024, que reforçou o cumprimento das metas. O Radar Agro alerta que, mesmo em cenário otimista — sem inadimplência e com contratos de longo prazo limitados —, o setor ainda deverá carregar 6,7 milhões de créditos excedentes em 2026, o que deve impedir uma recuperação consistente dos preços.
Oferta em expansão e demanda incerta
Para 2026, a previsão do Itaú BBA é de uma oferta de 44,7 milhões de CBios, alta de 10% frente ao ano anterior. Esse avanço virá de um aumento de 7% nas vendas de etanol e 20% no biodiesel, além da contribuição de outros biocombustíveis como o biometano. Do lado da demanda, o governo projetou inicialmente a necessidade de 48,1 milhões de créditos, mas o histórico de revisões pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) indica risco de redução. Essa possibilidade, segundo os analistas, reforça a percepção de excesso estrutural no mercado.
O relatório destaca que a credibilidade do RenovaBio depende da manutenção das metas compulsórias. Caso as revisões do CNPE reduzam os compromissos de descarbonização, o setor pode enfrentar um ciclo prolongado de preços baixos, o que enfraqueceria os incentivos a investimentos em bioenergia. “A sustentação de um mercado robusto passa pelo equilíbrio entre metas factíveis e exigentes, capazes de estimular inovação e ganhos ambientais”, aponta o documento.
Além do recuo nos preços, o volume de transações também apresentou retração. Em agosto de 2025 foram negociados 5,91 milhões de CBios, queda de 20% em relação ao mesmo mês de 2024. No acumulado de janeiro a agosto, o volume atingiu 54,6 milhões de créditos, uma redução de 4% frente ao mesmo período do ano passado. Apesar do recuo, o saldo ainda é suficiente para reforçar a pressão vendedora no mercado.