Cenário para energia da biomassa da cana é promissor
05-09-2016

Com apenas um hectare de cana, a bioeletricidade pode abastecer mais de cinco residências durante um ano

Em artigo de Karin Luchesi, vice-presidente de Operações de Mercado da CPFL Energia, para o Canal Energia, a executivo observa que o compromisso brasileiro firmado na reunião sobre clima de Paris (CoP-21) de elevar o uso de energias renováveis de 10% para 23% na geração de energia elétrica até 2030, a expansão do mercado livre de energia, a sobra estrutural de energia e mudanças regulatórias criam novas oportunidades para a bioeletricidade. Responsável pela geração de energia equivalente ao consumo de dez milhões de residências em 2015, a geração de biomassa deverá ampliar sua presença na matriz elétrica e poderá se tornar uma receita adicional relevante para as usinas de açúcar e álcool, a partir de modelos de parceria de negócios que reduzam riscos.

Segundo o balanço de energia de 2014, disponibilizado pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), a biomassa foi a fonte renovável que mais gerou energia, com 7,3% da oferta interna, à frente da eólica (2%) e da solar (0%), ficando apenas atrás da geração hídrica e das térmicas a gás natural. Karen destaca que além desse compromisso em incentivar as fontes alternativas, a matriz elétrica vive um momento de transição, que será benéfico para a biomassa, cuja geração está próxima ao consumo e ao centro de carga, o que diminui os custos com transmissão e as perdas no sistema.E a energia da biomassa é complementar à geração hidráulica, uma vez que a safra canavieira na região Centro-Sul acontece quase em sua maioria no período de menor precipitação pluviométrica.

Há um outro trunfo, segundo a executiva: os resíduos também podem ser aproveitados, em vez de desperdiçados. Além do bagaço, a palha também pode ser aproveitada como energético. Uma tonelada de bagaço pode gerar mais de 300kWh para a rede elétrica. Uma tonelada de palha pode gerar 500kWh. Ano passado, o consumo médio residencial foi de 161,8 kWh. Com apenas um hectare de cana, a bioeletricidade pode abastecer mais de cinco residências durante um ano. A fonte ainda tem outra vantagem ambiental em um momento em que fabricantes de equipamentos e petroleiras já trabalham com a eventualidade de surgimento, nos próximos anos, de um preço mundial sobre a emissão de carbono. Em 2015, segundo estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), a geração de energia renovável e limpa pela biomassa pode ter evitado a emissão de aproximadamente dez milhões de toneladas de CO2.

Outros fatores criam um futuro promissor para a bioeletricidade. O mercado livre de energia, em que consumidores industriais e comerciais selecionam seu fornecedor em contratos de curto ou longo prazo, está em franca expansão em virtude do amadurecimento do mercado e pela alta das tarifas no mercado cativo. Em 2011, havia cerca de mil consumidores livres. Ano passado, esse número saltou para 1826 e deverá chegar a 3221 até dezembro. Enquanto na metade da década de 2000 esse movimento era conduzido por grandes empresas como mineradoras e siderúrgicas, hoje é liderado por consumidores especiais com menor carga, como redes de supermercados, universidades e hospitais, interessados em reduzir seus custos.

A expansão do mercado livre está sendo orientada por consumidores especiais (cuja demanda contratada seja maior ou igual a 500 kW, individualmente ou por soma de carga) que podem contratar energia de fontes renováveis ou convencionais, como grandes usinas hidrelétricas ou termelétricas acima de 50MW. A retomada do crescimento do mercado livre abre uma grande oportunidade para a venda da energia elétrica excedente das usinas de açúcar e álcool para as comercializadoras de energia e para os consumidores livres, firmando contratos de médio e longo prazo que trazem receita adicional e previsibilidade ao fluxo de caixa de seus negócios.

Esse conjunto de fatores estruturais e conjunturais aponta, assim, para um futuro promissor para que a bioeletricidade contribua para tornar a matriz elétrica nacional ainda mais limpa. E as usinas de açúcar e álcool, por meio da bioeletricidade, podem ser importantes parceiras das empresas brasileiras nesta nova corrida do mercado internacional no século XXI.

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