Centro-sul deve produzir 10% menos açúcar em 18/19, aponta pesquisa
14-03-2018

A produção de açúcar por usinas do centro-sul do Brasil deve cair 10 por cento na safra 2018/19, que se inicia oficialmente em 1º de abril, com o setor sucroenergético privilegiando o etanol, mais rentável, em meio a um cenário de estagnação na oferta de cana.
Conforme uma pesquisa da Reuters com consultorias e participantes do mercado, as unidades da principal região produtora do maior player global do segmento devem fabricar 31,69 milhões de toneladas de açúcar em 2018/19, bem abaixo dos 35,20 milhões esperados para o ciclo atual (2017/18).
Em sondagem anterior realizada pela Reuters, em dezembro, esperava-se uma produção de 32,98 milhões de toneladas.
O menor interesse pelo adoçante deve-se ao cenário de preços internacionais deprimidos dada a perspectiva de ampla oferta. Espera-se que a produção na Índia, segundo maior fabricante, salte para um recorde de 29,5 milhões de toneladas, levando o balanço de oferta mundial a um superávit considerável de mais de 5 milhões de toneladas.
Desde o início de 2018, a referência do açúcar bruto na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) já caiu mais de 15 por cento.
Mas esse não é o único fator a pesar contra a produção da commodity no centro-sul. A perspectiva favorável para o etanol, com preços fortalecidos e demanda firme, também deve fazer com que as unidades produtoras aloquem maior parcela de cana para o biocombustível na safra 2018/19.
Os participantes da pesquisa da Reuters estimam, em média, uma produção de 27 bilhões de litros, 9,3 por cento acima dos 24,7 bilhões considerados para o atual ciclo e superior também aos 26,15 bilhões estimados anteriormente.
"O consumo forte de etanol na entressafra é um indício de que devemos ter mais um ano de maior demanda pelo biocombustível, o que deve dar sustentação para um mix voltado para o hidratado. Isso, claro, se os preços do petróleo se mantiverem no patamar atual ou acima", comentou o analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone.
Pelos dados mais recentes da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), as vendas de hidratado, concorrente direto da gasolina, saltaram 37,5 por cento em fevereiro e já acumulam alta de 6,1 por cento desde o início da safra 2017/18, em abril do ano passado.
A comercialização de álcool vem aquecida desde meados de 2017, após altas tributárias maiores para a gasolina e uma nova sistemática de formação de preços de combustíveis pela Petrobras.
Além disso, há no radar do setor o RenovaBio, a nova política nacional de biocombustíveis, que deve impulsionar o uso dessas fontes no país e cujo primeiro decreto, referente à sua governança, pode ser assinado pelo presidente Michel Temer em evento nesta semana em Ribeirão Preto para marcar a abertura da nova safra.
OFERTA DE CANA
Enquanto a produção de açúcar e etanol deve oscilar expressivamente entre uma safra e outra, a oferta de cana para processamento tende a permanecer perto da estabilidade no centro-sul, reflexo da falta de investimentos em renovação das plantações, disseram os especialistas ouvidos pela Reuters.
"Sem expansão da área plantada e com a renovação abaixo do necessário, a idade média do canavial vem aumentando, prejudicando a produtividade", afirmou à Reuters o presidente da Copersucar, Paulo Roberto de Souza.
De acordo com a pesquisa da Reuters, o centro-sul do Brasil deve moer 588,64 milhões de toneladas de cana em 2018/19, ligeiramente acima dos 585 milhões de toneladas previstos para a atual safra.
"O clima tem sido favorável. Março está tendo um pouco de chuvas mais pontuais, nenhum relato de chuvas generalizadas, mas também não temos notícias de que está faltando. O verão está satisfatório", comentou Eduardo Sia, analista da Sucden.
Já Fábio Meneghin, sócio-analista da Agroconsult, avalia que o volume de cana a ser moída e o nível de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) poderão variar um pouco para cima ou para baixo a depender do desenrolar climático.
"Estamos em período de La Niña, onde apesar da ocorrência de boas chuvas no centro-sul, o inverno poderá ser mais rigoroso", alertou.
A Agroconsult é uma das mais otimistas quanto à moagem de cana e à produção de açúcar, citando um certa melhora nos tratos culturais. A consultoria prevê fabricação de 32,90 milhões de toneladas de açúcar no ciclo.