Chuvas acima da média trazem a possibilidade de que a quebra na safra canavieira 2022/23 seja bem menor
22-11-2021

Novembro está chovendo pouco acima da média e bem mais do que o volume observado ano passado

*Arnaldo Corrêa

O executivo de uma usina de alto padrão expressou seu contentamento com o “clima muito favorável com o retorno das chuvas em outubro e em grande quantidade”. Na região em que a usina está localizada ele apurou que “em média choveu 250 milímetros em outubro, contra zero no ano passado”. Essa quantidade de “chuvas no meio de uma safra cuja colheita estava bem adiantada, pode ser um fator muito positivo para o ano que vem”, continua ele. “Novembro está indo muito bem também, chovendo pouco acima da média e bem mais do que o volume observado ano passado. Estamos ficando mais animados com relação à produtividade da próxima safra, pessoal falando em 10% a mais”.  

No final da conversa ele ainda afirmou que está “acreditando que podemos ver uma recuperação substancial na cana. Não seria absurdo 580 milhões de toneladas ou até mais caso chova bem em abril e maio”. Se essa percepção se estender às outras regiões, o spread maio/julho em NY vai começar a refletir rapidamente esse novo possível cenário.

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana praticamente inalterado nos meses que cobrem a safra 22/23 no Centro-Sul (maio/22 a março/23), e um aumento de menos de dois dólares por tonelada para a seguinte. O vencimento março/22 no after-market de sexta-feira surpreendeu e fechou cotado a 20.17 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 16 pontos na semana (3.53 dólares por tonelada). Segundo um (muito bem-humorado e ácido) veterano corretor novaiorquino essa alta inesperada no apagar das luzes deveu-se a uma das seguintes alternativas: a) uma anomalia no momento da digitação da ordem (conhecida como fat finger), b) alguém que perdeu uma ordem de compra e entrou em pânico, c) um contrato físico negociado no último instante e precisava de cobertura; d) asneira pura e simples. Podem escolher.

Os fundos adicionaram 15,700 contratos novas compras segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, considerando a posição de terça passada em relação à semana anterior. Os fundos estão comprados um total de 189.600 contratos.  O efeito desse aumento na posição dos fundos não parece ter adiantado muita coisa, pois o mesmo ímpeto que o mercado apresentou na subida se desfez de maneira muito rápida na queda. Ou seja, o mercado está subindo graças aos fundos.

A fixação de preços do açúcar para exportação por parte das usinas, para a safra 22/23, deve estar se aproximando dos 50%. As incertezas que rondam o mercado não apenas nos fundamentos, mas nos fatores extra açúcar sobre os quais não temos nenhuma influência colocam um freio – ainda que temporário – nas fixações de preços. Na nossa maneira de ver, esse freio está errado. Vejamos.

*Arnaldo Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda