Ciclo 2025/26 do agronegócio começa com alerta para custos e câmbio, indica Itaú BBA
08-07-2025

Relatório anual do banco destaca cenário global desafiador, pressão sobre fertilizantes e oportunidades em proteínas e biocombustíveis

O Itaú BBA divulgou a 6ª edição do Visão Agro, relatório anual elaborado por sua Consultoria Agro, traçando o panorama do agronegócio brasileiro para o ciclo 2025/26. Pelo terceiro ano consecutivo, o banco inicia o período com um tom de cautela, refletindo os desafios estruturais e conjunturais que moldam o setor neste novo momento.

O documento ressalta um cenário global de alta complexidade, marcado por juros elevados, desaceleração econômica e instabilidade geopolítica — com destaque para os conflitos no Mar Negro e Golfo Pérsico — que continuam pressionando os custos de energia e fertilizantes, insumo no qual o Brasil é fortemente dependente de importações. A baixa cotação das commodities agrícolas adiciona mais tensão à equação, exigindo dos produtores gestão rigorosa de custos e proteção cambial.

O gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, alerta para o crescimento da inadimplência no setor, que já começa a afetar diferentes elos da cadeia produtiva.

“Cada cultura enfrenta desafios específicos, mas o ambiente atual exige atenção redobrada em todos os segmentos. A deterioração da relação de troca com fertilizantes e os riscos cambiais estão pressionando o crédito rural disponível”, afirma.

A tendência, segundo o relatório, é de que a formação de custos na próxima safra seja ainda mais desafiadora. O milho safrinha é apontado como uma das culturas mais afetadas, especialmente pelas compras atrasadas e aumento de custos. Cultivos perenes, como café, laranja e cana-de-açúcar, também sentem os efeitos do encarecimento de insumos, tradicionalmente adquiridos no segundo semestre.

A valorização recente do real tem interferido nas estratégias de comercialização de grãos, incentivando importações em um momento no qual culturas como o arroz precisariam ganhar espaço no mercado externo. O trigo nacional também perde espaço frente à competitividade do produto argentino, o que deve influenciar negativamente na área plantada.

Por outro lado, os setores consumidores de grãos, como o de proteínas animais, vivem um cenário mais favorável. O destaque fica para a bovinocultura, que se beneficia da queda no custo da ração, aumento nos confinamentos e demanda internacional firme.

Com a produção de carne em queda nos Estados Unidos e preços elevados no mercado norte-americano, o Brasil amplia sua competitividade global, reforçando sua posição como fornecedor estratégico.

O relatório também destaca oportunidades crescentes no campo dos biocombustíveis, impulsionadas pelos mandatos estabelecidos pela Lei do Combustível do Futuro. Culturas como soja, milho e cana-de-açúcar devem ter demanda ampliada com a expansão da produção de biodiesel e etanol, beneficiando diretamente o produtor rural.

Esse movimento também fortalece a oferta de subprodutos como farelo de soja e DDG, que já contribuem para a redução de custos no setor de proteínas animais. Segundo o banco, esse efeito em cadeia tende a se consolidar, ampliando a competitividade das cadeias produtivas agroindustriais. Já sobre o açúcar, o mercado global do alimento deve apresentar excesso de oferta nos próximos anos, o que pressionam os preços.