Ciclones cada vez mais fortes pedem nova escala de medida, alerta estudo
22-02-2024

Ciclones cada vez mais intensos preocupam especialistas — Foto: NASA
Ciclones cada vez mais intensos preocupam especialistas — Foto: NASA

Especialistas dizem que mudanças climáticas são as principais responsáveis pela maior intensidade dos fenômenos

Por Izabel Gimenez — São Paulo

Os ciclones voltaram a ser pauta nos últimos dias no Brasil, onde os meses de novembro e abril marcam a temporada do fenômeno no Atlântico Sul. Mas já faz alguns anos que novas características relacionadas à potência e a frequência do fenômeno em todo mundo acendem alerta da comunidade científica.

Um estudo recente realizado por especialistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts defende a necessidade de atualizar a escala Saffir-Simpson, que classifica a intensidade dos ventos nos ciclones tropicais. Ao invés de cinco categorias como existe hoje, o grupo busca adicionar um novo grau à tabela.

A quinta — e última — categoria é reúne os fenômenos com ventos com velocidade igual ou maior a 70 m/s. Neste caso, o nível de perigo transmitido pela escala permaneceria igual mesmo que o valor ultrapasse significamente a marca mínima.

“Isso é um ponto fraco, especialmente se consideramos que o potencial destrutivo do vento aumenta exponencialmente. E isso se amplifica em um mundo em aquecimento, onde os picos de velocidade nos eventos estão mais intensos”, defendem.

A pesquisa publicada na PNAS, revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, defende que o aquecimento global influencia eventos extremos e há urgência em se adaptar ao novo cenário.

Os especialistas afirmam que as “mudanças climáticas fizeram com que os ventos dos ciclones tropicais mais intensos se tornassem significativamente mais fortes.”

Vale dizer que a afirmação não é defendida por toda comunidade científica. Na visão do meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), é difícil apontar com certeza quais são os impactos do aquecimento global nos fenômenos climáticos.

Isso porque os monitoramentos dos ciclones dependem de satélites de boa qualidade para garantir precisão, uma vez que as ferramentas mais tecnológicas, que oferecem maior confiabilidade aos dados, começaram a ser implementados há pouco mais de 20 anos. Sem resultados representativos, o período seria relativamente curto para fazer análise da influência.

“Embora não exista uma relação comprovada, sabemos que os ciclones se intensificam devido às águas mais quentes e maior temperatura e umidade da atmosfera. E essa é uma das consequências das mudanças climáticas. Então, existe, teoricamente, a possibilidade, mas é especulativo. Não temos estudos suficientes para afirmar”, esclarece.

‘Escala atual é inaqueada’

A sugestão dos pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts seria utilizar a categoria cinco para reunir ciclones com ventos de até 86 m/s e adicionar um sexto grau para os que ultrapassem o novo limite.

Segundo os cientistas, que analisaram simulações de modelos climáticos para compreender como a interferência humana aumenta os riscos da formação de eventos extremos, uma série de tempestades recentes já teriam atingido a marca hipotética tendência.

Um levantamento apresentado no 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que a proporção global de casos de ciclones tropicais das categorias 3 a 5 e a frequência de eventos de rápida intensificação aumentaram globalmente nos últimos 40 anos.

Dos 197 ciclones tropicais classificados como categoria cinco neste período, metade deles ocorreu nos últimos 17 anos. Cinco — todos a partir de 2012 — excederam a categoria hipotética seis.

O que é um ciclone tropical?

Também chamados de furacões ou tufões, os ciclones tropicais se formam em zonas de baixa pressão atmosférica em regiões equatoriais sobre os oceanos. Por isso, são os mais conhecidos e impactantes para o Brasil.

O fenômeno, que forma sobre águas quentes dos oceanos, retira energia do calor do mar e tem o potencial de causar ventos extremamente fortes e chuvas torrenciais.

Por isso, conforme as temperaturas da terra aumentam, a energia térmica sensível e latente disponível também se eleva, aumentando a intensidade potencial termodinâmica dos ventos e, consequentemente, o nível de periculosidade dos fenômenos.

Fonte: Globo Rural