Clima adverso mundo afora encarece produtos agrícolas nas bolsas dos EUA
01-10-2024

Ilustração
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Em setembro, seca no Brasil sustentou altas de café, açúcar e soja; furacão nos EUA fez suco e algodão subirem; só cacau recuou, com previsão de maior oferta

Por Isadora Camargo e Paulo Santos — São Paulo

A maior parte das commodities agrícolas teve alta em setembro nas bolsas internacionais, e o principal responsável foi o clima hostil. A seca no Brasil levou à valorização do açúcar e do café na bolsa de Nova York. Essa condição climática também sustentou as cotações dos grãos em Chicago, cuja alta foi influenciada ainda pela passagem do furacão Helene em solos americanos nos últimos dias. Só o cacau, negociado em Nova York, recuou em setembro, segundo levantamento do Valor Data.

açúcar foi a commodity que mais se valorizou no mês passado, segundo o Valor Data. Combinados com a seca, os incêndios em áreas de cana no Centro-Sul do Brasil levaram os contratos de segunda posição a uma alta mensal de 11,52%, para um valor médio de 20,89 centavos de dólar por libra-peso.

No país que mais exporta açúcar no mundo, a estimativa até agora é de que 414 mil hectares de canaviais foram atingidos pelo fogo em áreas de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, segundo a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). Para a entidade, os incêndios devem levar a uma quebra de 15% na produtividade na safra 2024/25, cenário que já entrou no radar dos investidores em açúcar em Nova York.

No mercado de café arábica, a seca nas regiões produtoras do Brasil fez os contratos de segunda posição registrarem alta de 6,19% em setembro, para um valor médio de US$ 2,5556 por libra-peso.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Pavel Cardoso, a falta de chuvas em regiões produtoras como Minas Gerais e Espírito Santo, com períodos longos de altas temperaturas gera ansiedade no mercado devido às dúvidas sobre o tamanho real da próxima safra de café. “É isso que torna este momento tão tenso. É a partir de agora que vamos entender o que vai acontecer com o volume da safra 2024/25 e como fica o desenvolvimento da planta para 2025/26”, disse ao Valor.

Além do clima adverso no Brasil, a valorização do café robusta em Londres — por conta da oferta apertada no sudeste asiático — também ajudou a puxar o arábica, segundo especialistas.

Outra commodity negociada em Nova York, o suco de laranja teve alta mensal de 6,99% em setembro e fechou com preço médio de US$ 4,7318 a libra-peso. Nesse caso, além da menor produção no Brasil, outro motor da alta foi o furacão Helene. O fenômeno atingiu áreas da Flórida, maior parque citricultor dos EUA, levantando dúvidas sobre a produção local que também sofre com a incidência de greening, conforme relatório de Jack Scoville, do Price Futures Group.

Também as cotações do algodão refletiram o temor de eventuais perdas na produção nos Estados Unidos decorrentes do furacão. As chuvas excessivas podem causar apodrecimento e perdas consideráveis para algumas plantações, segundo análise da Royal Rural. Os contratos de segunda posição tiveram alta mensal de 3,86%, para 71,31 centavos de dólar por libra-peso.

cacau, que registrou fortes ganhos no começo do ano, foi a única commodity a cair em setembro. A cotação recuou 6,41%, a US$ 6.796 a tonelada em Nova York, reflexo da expectativa favorável para a produção do ciclo 2024/25, que se inicia este mês no oeste da África. Após três temporadas consecutivas de déficit na produção mundial, a StoneX calcula um superávit para o novo ciclo, que deve ficar entre 100 mil e 200 mil toneladas.

Bolsa de Chicago

O clima adverso para o cultivo também foi o motor para a alta dos grãos na bolsa de Chicago. A valorização foi liderada pelo trigo, que avançou 6,68%, a US$ 5,8804 o bushel, na média. Segundo Luiz Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica, a seca na Rússia — maior exportador de trigo do mundo — foi fundamental para a alta do cereal no mês passado.

“A oferta de trigo vai diminuir bastante na Rússia. Devido à seca, a safra na região do Rio Volga deve ter quebra de 4 milhões de toneladas, e a produção na Sibéria também não está boa ”, ressaltou.

A falta de chuvas, que atrasa o plantio da soja no Brasil, também foi o motivo para a alta do grão na bolsa de Chicago. Contribuiu ainda o furacão Helene, que prejudicou o andamento da colheita nos EUA. Com isso, os contratos de segunda posição tiveram alta mensal de 4,83%, e fecharam no valor médio de US$ 10,3211 o bushel.

“O clima foi determinante para o preço em setembro. O calor excessivo no Brasil atrasou o plantio de soja e pode atrapalhar a instalação do milho safrinha”, afirmou Pacheco. “Nos EUA, a estrutura de solos planos facilita o alagamento de áreas em casos de chuvas volumosas, por isso o furacão prejudicou a safra por lá”, acrescentou.

Os mesmos fatores que levaram a soja a subir fizeram o milho ter alta mensal de 5,83% em setembro em Chicago, para US$ US$ 4,2063 o bushel. Houve ainda influência da valorização do trigo, segundo analistas.

Fonte: Globo Rural