Clima e quebra de safra tornam incerto mercado de fertilizantes
09-02-2024
Demanda no Brasil está menor. No exterior, tensões geopolíticas e decisões de governos tendem a movimentar os preços internacionais nos próximos meses
Por Isadora Camargo — São Paulo
O mercado de fertilizantes está mais lento no Brasil. As projeções de quebras de produção de grãos da safra 2023/24 deixam as negociações ainda mais lentas. Com o agricultor ainda lidando com os efeitos do El Niño sobre as lavouras, as compras do insumo para a segunda safra praticamente travaram. E o cenário para 2024/25 também indica incerteza.
"Apesar dos custos menores na safra 2024/25 em relação à anterior, os preços das commodities estão muito baixos, o que pode atrapalhar a relação de troca. Estoques altos no Brasil e a cautela da demanda, ainda represada, também pressionam os preços das matérias-primas", detalhou Maísa Romanello, analista de fertilizantes da Safras & Mercado.
Em um efeito dominó, o mercado interno não recupera ânimo para a comercialização da safra 2024/25. Mesmo com os preços mais atrativos do pacote NPK, já que a oferta dos principais produtores de matéria-prima flui no mercado internacional. O volume de vendas ainda visto como incerto encurrala a indústria de insumos no país.
Se, do lado da demanda, agricultores não têm fechado negócios, do lado da oferta, o cenário também não está tranquilo. A escalada de tensões geopolíticas em países produtores mantém aceso o sinal de alerta, explicou a especialista, em evento da consultoria, na quinta-feira (8/2). Caso o conflito entre Israel e Hamas aumente ainda mais, haverá um impacto na logística marítima, o que elevará os preços da ureia e fosfato.
Outro fator que mexe com o mercado são as restrições de exportação impostas pelo governo da China, visando garantir o abastecimento no mercado inteno. A medida entra em vigor após as comemorações do ano novo chinês, no dia 10 de fevereiro.
De acordo com a analista, a competitividade de fertilizantes de outras origens tende a aumetar. Caso da ureia do Egito. O país passou a cobrar um preço mais alto para mercados que demandaram o insumo na virada de 2023 para 2024. Os valores aumentaram e prejudicaram, em especial, produtores de milho de segunda safra no Brasil, que atrasaram as compras.
"Ainda assim, não há problemas de oferta de matéria-prima nos principais polos produtores, como Canadá, Bielorússia, Rússia e Índia. Entretanto, a demanda segue cautelosa, porque grandes produtores já estão com seus estoques de produtos formados e os preços elevados não estão sendo aceitos em países como Índia e Brasil", explicou.
Farbricante de cloreto de potássio (KCl), a Índia, um dos maiores consumidores mundiais de adubo, pode ser mais um complicador do mercado, se o governo anunciar uma nova redução de subsídios à indústria do segmento.
E o Canadá, maior produor de potássicos do mundo, está com estoques altos, o que pressona os preços. "O mercado de fertilizantes está mais estável que em anos anteriores. Porém, o cenário internacional e o clima são sinais amarelos para produtores brasileiros", enfatizou a analista.
Neste cenário, os Estados Unidos devem ditar o ritmo do mercado no primeiro semestre de 2024. "Lá, houve queda de produção de soja e milho e isso pode influenciar em uma menor demanda por adubo", disse Maísa Romanello.
Mais no longo prazo, o Brasil, pode se beneficiar de uma retomada da produção local de fertilizantes a partir da Petrobras e até de novas fábricas que aguardam licenças para começar a operar, em especial na região do Triângulo Mineiro.
Fonte: Globo Rural