Clima melhora perspectivas de moagem para 2025/26
23-01-2025

BOLETIM CANA30: Reflexões dos fatos e números do agro em dezembro/janeiro e o que acompanhar em fevereiro

Por: Marcos Fava Neves

Na cana, a moagem acumulada da safra 2024/25 atingiu 613,6 mi de t até 1º de janeiro, uma queda de 4,7% em relação às 644,2 mi de t do mesmo período do ciclo anterior, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). 

O ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) acumulado alcançou 141,28 kg/t, um leve aumento de 1,2% em relação ao ciclo anterior. Já em relação ao mix de produção, a posição acumulada é de 48,16% para o açúcar (queda) e 51,84% (alta) para o etanol

A safra de cana-de-açúcar 2024/25 no Centro-Sul encerrou dezembro com produtividade média de 78 t/ha, queda de 10,8% frente à safra anterior (87,5 t/ha). Ainda assim, o valor supera em 1,4 t a média das últimas dez safras. O teor de açúcar total recuperável (ATR) subiu para 136,3 kg/t, 1,8 kg/t acima da safra passada, mas em dezembro houve redução na qualidade da matéria-prima e na produtividade agrícola em relação ao ciclo anterior, conforme dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

A safra 2025/26 de cana-de-açúcar deverá ser marcada por menor moagem, estimada entre 581 mi e 620 mi de t na região Centro-Sul, em consequência do clima adverso e dos incêndios ocorridos em 2024. 

No açúcar, a produção somou 39,8 mi de t, uma queda de 5,4% em relação às 42,0 mi de t do ciclo anterior. 

Quanto as exportações do adoçante, o Brasil embarcou 2,8 mi de t em dezembro, uma redução de 25,2% frente ao ano anterior, de acordo com dados do Mapa.

Enquanto isso, o valor exportado foi de R$ 1,3 bilhão, ou seja, 33,4% menor na comparação anual. Os preços médios de exportação também sofreram queda, de 10,9%, ficando em US$ 479/t. No entanto, olhando para o acumulado do ano de 2024, a quantidade exportada somou 38,4 mi de t (+22,2%), resultando em um montante financeiro de R$ 18,6 bilhões (+18,1%), devido a produção recorde em 2023/24 (45,7 mi de t) aliada a produção fraca em outros mercados. 

O Brasil deve consolidar sua liderança no comércio internacional de açúcar em 2025, beneficiado por preços firmes no mercado interno e externo. No cenário doméstico, a possibilidade de arbitragem com o mercado global e um crescimento econômico moderado sustentam valores em patamares elevados. Além da fronteira, a forte demanda de países emergentes (como Paquistão e Indonésia), a redução dos estoques mundiais e a manutenção do câmbio em nível favorável impulsionam as exportações brasileiras, com preços podendo superar 18 centavos de dólar por libra-peso na ICE Futures. Além disso, tensões comerciais entre grandes potências podem abrir mais oportunidades de negócios para o Brasil, tanto em açúcar quanto em etanol, reforçando a posição do país como protagonista no setor. 

Os preços globais do açúcar registraram nova queda mensal nos principais pontos de negociação. Em Nova York, o contrato para mar/25 estava cotado em 18,22 centavos de dólar por libra-peso na data de fechamento da nossa coluna; era de 19,8 cents/lbp há um mês. Já os contratos para mai/25, jul/25 e out/25 fecharam em 17,08 cents/lbp, 16,80 cents/lbp e 16,93 cents/lbp, respectivamente. Em Londres, o contrato mais próximo, de março, fechou em US$ 481,50/t. Já no mercado interno, segundo dados do Cepea/Esalq, o Açúcar Cristal Branco ficou em R$ 153,41/sc (50 kg), queda mensal de 4,9%.

No etanol, a produção acumulada do biocombustível alcançou 32,4 bilhões de litros, um crescimento de 3,1% frente ao ciclo anterior. Deste total, 20,6 bilhões de litros foram de etanol hidratado (+9,8%) e 11,8 bilhões de litros de anidro (-6,9%). 

etanol a partir do milho mostrou forte desempenho, com produção acumulada alcançando 6,0 bilhões de litros, um avanço de 30,8%. Na segunda metade de dezembro, 82,7% do etanol total produzido foi oriundo do milho, somando 402,1 mi de litros (+43,9% na comparação anual).

Em dezembro, as vendas de etanol totalizaram 2,9 bilhões de litros (+2,5%). O mercado interno foi responsável por 1,8 bilhão de litros de hidratado (-1,7%) e 1,0 bilhão de litros de anidro (+15,5%). No acumulado da safra até 1º de janeiro, as vendas somaram 26,8 bilhões de litros, um aumento de 11,8%, com destaque para os 17,3 bilhões de litros de hidratado (+20,3%), enquanto o anidro alcançou 9,5 bilhões de litros (-0,9%). Isso porque apesar da menor oferta de cana-de-açúcar, as vendas foram sustentadas pelo etanol produzido a partir do milho, menor nível de exportação, estoques de passagem mais elevados no início da safra 2024/25 e menor proporção da cana destinada ao açúcar. 

No mercado de CBios, em 2024, 50,0 mi de Créditos de Descarbonização (CBios) foram disponibilizados para negociação, superando a meta compulsória de 38,8 mi. Após o cumprimento das metas, restaram mais de 16 mi de créditos disponíveis para negociação em 2025, o equivalente a 1/3 da nova meta, segundo dados da B3.

etanol de milho segue crescendo de forma expressiva no país. Estimativas recentes da Unem (União Nacional do Etanol de Milho) indicam uma produção de 8,2 bilhões de litros até o final de 2024/25, 200 mi de litros acima da previsão inicial. Este volume é 30% superior ao da safra 2023/24, quando foram produzidos 6,4 bilhões de litros. Entre janeiro e março de 2025, a Unem prevê que sejam ofertados 2 bilhões de litros de etanol de milho, garantindo a oferta do biocombustível durante a entressafra da cana, quando, tradicionalmente, os preços do etanol cresciam, em vista da menor oferta. A organização também estima uma produção de 4 mi de t de farelos de milho, dos quais, 800 mil t devem ser exportadas.

Os preços do etanol, no relatório divulgado pela SCA do Brasil, estavam em R$ 3,360/l para o hidratado e R$ 3,260/l para o anidro, queda mensal de 0,3% e alta mensal de 0,3%, respectivamente. Os valores consideram a praça de Ribeirão Preto (SP) como referência e já incluem os impostos.

Valor do ATR: no último mês de 2024, o valor do Açúcar Total Recuperável (ATR), divulgado pelo Consecana, ficou em R$ 1,2872/kg, crescimento mensal de 4,7%. O histórico da safra 2024/25 é composto por: abr/24, R$ 1,1879/kg; mai/24, R$ 1,1684/kg; jun/24, R$ 1,1635; jul/24, R$ 1,1759/kg; ago/24, R$ 1,1730/kg; set/24, R$ 1,1507/kg; out/24, R$ 1,1716/kg; nov/24 R$ 1,2294 e dez/24 em R$ 1,2872/kg. No acumulado da safra, o valor do ATR está em R$ 1,1776/kg. Nossa sugestão é de que feche entre R$ 1,18 e 1,19/kg no final de março. 

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em fevereiro na cadeia da cana:

  1. Estimativas para a safra 2025/26, especialmente em vista das atualizações recentes com o clima. As chuvas no final de 2024 e início desse ano, trouxeram uma visão otimista do setor e algumas consultorias já falam em 620 a 630 mi de t moídas, acima das 600 previstas anteriormente (Safras & Mercado).
  2. Neste período de entressafra (apesar de ainda termos usinas em operação), vamos acompanhar a oferta de etanol no mercado e os impactos nos preços. Segundo a UNEM, neste 1º trimestre de 2025, devem ser produzidos cerca de 2 bilhões de litros de etanol de milho.
  3. Avaliar se as vendas do etanolseguem aquecidas neste início de ano, especialmente com a tendência de queda nos preços do petróleo. Dezembro foi mais um mês de alta para o anidro e o hidratado; e na safra atual, acumulamos alta de 12% nas vendas do biocombustível.
  4. Em relação ao petróleo, voltou a passar os US$ 80/barril no último mês, mas a tendência é de baixa com a posse do presidente Donald Trump, que promete participar diretamente das negociações envolvendo Rússia e Ucrânia; e também deve divulgar medidas na área energética. No fechamento da nossa coluna, o Brent estava em US$ 79,73/barril (alta mensal de 10,2%), enquanto o Crude estava em US$ 76,58/barril (+ 10,6%).
  5. Por fim, no açúcar, observar os preços com as estimativas que virão do Brasil e dos outros grandes produtores. Se a atual defasagem dos preços dos combustíveis for corrigida no Brasil, é um fator de alta.

Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto - SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). 

Vinícius Cambaúva
Associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto - SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande
Consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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