Collor pressionou por compra de R$ 1 bi em etanol, diz delator
23-10-2015

Cerveró, que era diretor da BR Distribuidora, falou sobre pressão a lobista.

O lobista Fernando Soares, o Baiano, um dos delatores da Operação Lava-Jato, afirmou ter ouvido de Nestor Cerveró, que o senador Fernando Collor estava pressionando a BR Distribuidora a comprar usinas indicadas por ele, uma enorme quantidade de álcool de uma safra futura. O valor da operação girava em torno de R$ 1 bilhão. Cerveró foi diretor financeiro da BR Distribuidora, além de diretor da área Internacional da Petrobras. A informação foi dada por Baiano ao falar sobre a compra de um Range Rover Evoque vermelho, feita para Cerveró, com quem tinha bastante contato. O carro seria um presente para a mulher do ex-diretor da Petrobras e, na avaliação da Polícia Federal, teria sido pago por Baiano como forma de pagamento de propina.

Em nota, o senador negou ter feito qualquer tipo de pressão ou exercido ingerência sobre a Petrobras ou a BR Distribuidora. “O senador não se dignará a responder a especulações infundadas de delator a partir do que supostamente ouviu dizer de terceira pessoa, e que não apontam concretamente qualquer fato específico, nem lhe atribuem prática de qualquer ilegalidade”, diz a nota.

Baiano afirmou ter feito a encomenda do carro para Cerveró numa concessionária em São Paulo, onde costumava comprar seus veículos, e, quando o veículo chegou e avisou Cerveró, este lhe pediu para providenciar o transporte de valores em espécie do Rio para São Paulo para fazer parte do pagamento. O veículo teria custado cerca de R$ 230 mil e Cerveró queria pagar R$ 170 mil em dinheiro vivo. O lobista diz que recorreu então a um doleiro e operador de contas em São Paulo, chamado Diego Candolo, com quem tinha créditos no exterior, para que o pagamento do carro fosse feito.

Ele disse ter recebido o dinheiro de Cerveró um mês depois, em notas de R$ 50 e R$ 100 agrupadas em maços de R$ 10 mil e que gastou em despesas pessoais, pois costumava usar dinheiro em espécie. Baiano não exclui a possibilidade de Cerveró ter recebido o dinheiro a título de propina em contratos, mas que não sabe dizer se havia irregularidades na BR Distribuidora.

COSTA DESVIOU DINHEIRO DO PP, DIZ LOBISTA

Baiano confirmou ainda ter recebido dinheiro da construtora Andrade Gutierrez sem ter prestado serviços, apenas para que intermediasse contato com o diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Segundo ele, foi assinado um contrato de R$ 3 milhões entre a construtora e uma de suas empresas, a Techinis - ele ficou com 70% do valor e 30% teria sido destinado a um diretor da própria empreiteira, Luis Mattoni, que se beneficiaria da propina e seria o representante da empresa na Petrobras.

Baiano diz que, até o julgamento do mensalão, quem operou recebimento de valores para Paulo Roberto Costa foi João Cláudio Genu, que foi chefe de gabinete da liderança do PP. Na avaliação dele, Paulo Roberto Costa e Genu teriam se associado para desviar dinheiro de propina que deveria ser paga ao PP, partido que indicou o diretor da Petrobras.

O lobista acredita que Costa passou a apontá-lo como operador do PMDB para justificar o desvio de recursos que deveriam ir para o PP. Contou que, certa vez, chegou a ser apresentado ao então deputado Pedro Corrêa, do PP, que lhe disse: "Então você é o Fernando Baiano que está levando o dinheiro da gente para o PMDB", referindo-se às propinas de contratos da Petrobras.

Baiano contou que, por volta de 2007, também passou a ser incumbido por Costa de cobrar propina no Brasil e também receber valores no exterior. O valor movimentado por ele teria ficado entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões - apenas no exterior, teria recebido mais de 20 depósitos. Para fazer o serviço, ficava com 20% da propina. Apesar de receber valores, o lobista diz que não sabia quem pagava. Quando ia receber dinheiro em espécie, recebia de Costa uma "senha", como Fusca ou América, que deveria falar para ser identificado pelo pagador. Geralmente, afirmou, esses pagamentos eram feitos em salas que aparentavam ser estruturas temporárias.

Disse que o doleiro Alberto Youssef lhe pediu para solicitar à Andrade Gutierrez um pedido de doação de R$ 1,5 milhão para a campanha do PP em 2010, que provavelmente seriam provenientes de vantagens indevidas vinculadas a contratos da Petrobras. Como foi negado, Costa teria dito que ele mesmo procuraria a empreiteira. Baiano não soube dizer se a empresa doou, mas disse que logo depois foi buscar em São Paulo uma doação de R$ 500 mil, em dinheiro, num endereço indicado por Costa.