Com efeito cambial, lucro e dívidas da Biosev disparam
15-02-2021

A Biosev, que está negociando com os credores para reorganizar as dívidas que não serão transferidas à futura dona, a Raízen, aproveitou o dólar mais apreciado no terceiro trimestre da safra 2020/21 do que um ano antes para intensificar suas exportações e sair do prejuízo. Por outro lado, o câmbio seguiu penalizando sua dívida.

O lucro líquido da companhia, de R$ 311,6 milhões, foi mais de cem vezes maior que o do mesmo período da safra passada, e agora a Biosev acumula lucro de R$ 485,3 milhões na temporada. Porém, sua dívida líquida encerrou o trimestre em R$ 6,3 bilhões, alta de 11,8% em relação a um ano antes. A dívida bruta somou a R$ 6,9 bilhões. O montante cresceu mais em janeiro - mês em que o dólar voltou a saltar em relação ao real -, para R$ 7,7 bilhões, segundo fato relevante do início da semana sobre a compra da Biosev pela Raízen.

Juan José Blanchard, CEO da Biosev, disse ao Valor que a decisão de vender a companhia à concorrente - que quitará R$ 3,6 bilhões de sua dívida - segue um formato que oferece "muito potencial" aos acionistas da empresa, que terão quase 5% dos dividendos da Raízen depois que a compra for concluída. "Podemos capturar o potencial que ainda tem na Biosev, junto com o da Raízen", afirmou.

A reestruturação dos mais de R$ 4 bilhões que ficarão com a atual controladora da Biosev - a Hédera, veículo de investimentos da Louis Dreyfus Company (LDC) - ainda estão em curso. O executivo preferiu não dar detalhes.

O custo da dívida, porém, tem sido elevado. Do início da safra ao último trimestre, a despesa financeira líquida foi de R$ 386,9 milhões. Em comparação com o acumulado em nove meses da safra passada, quando houve maior variação cambial, essa despesa foi 38% menor.

A melhora operacional do último trimestre deu ligeiro alívio à alavancagem no trimestre. O lucro da companhia antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 2,2 vezes, a R$ 691 milhões.

Com grande foco em exportações, a receita líquida do trimestre dobrou, a R$ 2,9 bilhões. Os embarques de açúcar cresceram 2,3 vezes, para R$ 1,1 bilhão, e os de etanol, 60%, a R$ 304,7 milhões.

A maior parte das exportações de etanol foi para uso industrial, o que inclui possibilidade de uso sanitizante. A Biosev aproveitou a demanda global pelo produto para aprovar uma expansão dessa linha de produção na única usina em que produz álcool neutro, disse o diretor comercial Gabriel Carvalho. Das oito usinas da Biosev, outras três produzem álcool no padrão coreano, que também pode ser usado para fins sanitários.

A Biosev também intensificou a operação de revenda de energia elétrica no mercado livre, que, somada à cogeração das usinas, gerou receita 2,9 vezes maior que um ano antes, de R$ 199,6 milhões.

Até dezembro, as usinas processaram 25,8 milhões de toneladas de cana, mas a companhia deve retomar operações nas unidades de Mato Grosso do Sul antes do fim da safra, disse Blanchard. O volume processado até dezembro foi 0,5% menor do que um ano antes. No entanto, o aumento da concentração de sacarose na cana e da eficiência industrial permitiram à companhia aumentar sua produção e maximizar a fabricação do açúcar - do total moído, 53,4% foi destinado ao adoçante.

Fonte: Valor Econômico
Texto publicado no boletim SCA