Com moagem acelerada, qualidade da cana-de-açúcar poderá ser afetada no final da safra
04-06-2020

Até o momento, produtores e usinas estão esmagando uma cana com bons rendimentos. Mas, se a falta de chuva continuar, os impactos na qualidade poderão ser sentidos no terço final do ciclo

Leonardo Ruiz

A safra 2020/21 foi formada sob expectativa de recuperação. Aumento da renovação dos canaviais, investimento em soqueiras, verão ‘generoso’ em chuvas e a redução no consumo de mudas, que refletiria em maior volume de cana para esmagar, elevaram os ânimos do setor, que esperava um ciclo produtivo e de bons preços.

No entanto, a queda na demanda de etanol, ocasionada pela pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), aliada a crise do petróleo no mercado mundial, atrapalhou os planos do segmento. O ciclo 2020/21, que tinha tudo para ser o melhor dos últimos anos, se tornou uma grande incógnita.

Na última semana, a Canaplan realizou um webinar com representantes do setor para elucidar algumas questões relativas ao andamento da safra. Segundo o diretor da consultoria, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o clima mais seco registrado no início do ano aumentou a disponibilidade de máquina e, consequentemente, intensificou a colheita. Esse fato causou uma aceleração do ciclo. Até o dia 16 de maio, foram esmagadas 22% a mais de cana do que no mesmo período de 2019. A produção de açúcar e etanol também registrou aumento, de 84% e 8,5% respectivamente.

Com relação ao ATR (Açúcar Total Recuperável), o acréscimo foi de mais de 20%, totalizando cerca de 8 KG ATR/ton cana a mais quando comparado a 2019/20. “Este ano está melhor do que outros no que tange a qualidade de matéria-prima. Porém, temos que ver até que ponto esse fato se perpetuará. Vai depender de como será o inverno e a primavera. No momento, estamos receosos devido a possibilidade de geadas. A partir de setembro, a expectativa será com relação a precipitação”, afirmou Caio Carvalho, que alertou ainda sobre a possibilidade de produtores e usinas terem que colher canaviais de 10 meses no final do ciclo, o que poderá impactar negativamente a qualidade no terço final da safra.

Com relação aos números finais, a equipe da Canaplan havia delineado três cenário: 1) políticas públicas chegam rapidamente e moagem acelerada; 2) políticas públicas chegam eventualmente e moagem mais lenta; e 3) sem políticas públicas e moagem mais lenta. “Hoje, o que vemos é um clima mais seco para todos, mais ainda sem políticas públicas. Um ritmo de moagem mais lento no início, mas com aceleração posterior. Além disso, há a expectativa de uma primavera mais chuvosa. Com base nessas informações, trabalhamos atualmente com uma previsão que figura entre os cenários 1 e 2, que aponta para uma moagem entre 578,8 milhões/ton e 585,7 milhões/ton na região Centro-Sul.”

Fonte: CanaOnline