Com PIB de 1º mundo, agronegócio se prepara para mais uma Agrishow
23-04-2015

O produtor rural Paulo Cesar Cunha, de Cafelândia (PR), prepara as malas para sua segunda visita à Agrishow. Ele conheceu a feira de Ribeirão Preto em 2010, comprou softwares para reforçar a gestão agrícola e prometeu só retornar caso ampliasse a produtividade de soja. 


Em 2014, o agricultor paranaense obteve uma média de 70 sacas por hectare e quase a metade foi para cobrir investimentos feitos na compra de insumos e máquinas. Sua meta era reduzir o equivalente à despesa para até 30 sacas por hectares.

No chuvoso fevereiro último, ele conseguiu colher, em média, 78 sacas por hectare. Obteve o compromisso de ganho de produtividade. “Agora já dá para voltar a visitar a feira de Ribeirão Preto”, afirma.

Assim como o sojicultor de Cafelândia, são esperados outros 160 mil visitantes do Brasil e de pelo menos 30 países – a maioria deles gestores de empreendimentos do agronegócio, que conhecerão o que mais de 1 mil marcas e fabricantes vão apresentar como novidades para ampliar a produtividade agrícola com redução de custos.

No mercado
Mas por que, às vésperas da entrada do temido ajuste fiscal do governo e diante uma economia conturbada no Brasil e em vários outros países, os agricultores devem vir a Ribeirão conhecer tecnologias muitas vezes mais caras do que hectares de terras?

Estudo recém-concluído pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que 24% de tudo o que país produziu em 2014 (ou seja, do Produto Interno Bruto – PIB) saíram da cadeia do agronegócio.

Conforme o estudo, apenas 17% do PIB do agronegócio é formado por importações. Ou seja, o campo e o que sai dele aliviam o saldo da balança comercial brasileira para que os demais setores importem sem prejudicar o saldo final, quando as exportações devem ser semelhantes às importações.

O estudo da FGV bate na tecla de que, até 2020, o mundo precisará aumentar em 20% a oferta de alimentos para atender o crescimento da demanda. E quem tem condições para aumentar essa oferta em menos de cinco anos? O Brasil. Entre 1990 e 2013, conforme o estudo, a produção agrícola brasileira aumentou 234%, enquanto a área avançou apenas 50%.

“O país cultiva em 80 milhões de hectares e tem outros 77,9 milhões de hectares agriculturáveis”, disse ao A Cidade o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV. Mas em que pese o país ter área disponível para a agricultura, Rodrigues lembra que o ajuste fiscal que vem por aí, mais o peso do dólar, irão encarecer os custos agrícolas.

Compras e prudência
Roberto Rodrigues reconhece que setores como o sucroenergético enfrentam séria crise, mas que é hora de ir às compras em uma feira como a Agrishow – com os pés no chão. “Embora a tecnologia ajuda a ampliar a produtividade, não adianta dar o passo maior que a perna”, avisa.