Com práticas inovadoras, Usina Denusa eleva, em dez anos, produtividade do canavial de 49 ton/ha para 99 ton/ha
23-01-2020

Mesmo com limitação de recursos, Usina Denusa conseguiu uma impressionante escalada em sua produtividade agrícola
Mesmo com limitação de recursos, Usina Denusa conseguiu uma impressionante escalada em sua produtividade agrícola

Expectativa é chegar aos três dígitos já em 2020. O aumento da produtividade é forte aliado para que a empresa supere a recuperação judicial

Texto: Leonardo Ruiz

Fotos: Divulgação Usina Denusa/Centro de Cana do IAC

No dia 29 de novembro de 2010, a Usina Denusa entrou com um pedido de recuperação judicial. Com dificuldades econômicas e financeiras, a companhia, com sede no município goiano de Jandaia, estava perto de se tornar incapaz de pagar suas dívidas. A recuperação judicial foi a alternativa encontrada para buscar assegurar a continuidade operacional das atividades.

Parte do plano de recuperação incluía retomar a produtividade dos canaviais da unidade, que naquele ano alcançava médias de apenas 49 toneladas de cana por hectare (TCH). Sem capital para investir na lavoura, a Denusa partiu em busca de parcerias que pudessem auxiliá-la nesta retomada. Após algumas reuniões, o Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC) – que na época participava de um projeto semelhante na vizinha Jalles Machado - aceitou a tarefa de ajudar a “ressuscitar” os canaviais da unidade.

Antônio Carlos de Oliveira Júnior: “Num primeiro momento, o foco era verticalizar a produção sem grandes investimentos”

O projeto foi dividido em duas fases distintas: a primeira conduzida de 2011 a 2015 e a segunda, de 2016 a 2019. O gestor agrícola da unidade, Antônio Carlos de Oliveira Júnior, conta que num primeiro momento o foco era verticalizar a produção sem grandes investimentos. “Em 2011, havia uma limitação gigantesca de recursos. Não havia dinheiro disponível para adubação de cana planta e socarias ou para o uso de inibidores e maturadores. O que tínhamos era um caixa para reformar 500 hectares.”

O processo, no entanto, deveria ser feito adequadamente. Nas palavras do engenheiro agrônomo, não adiantaria implantar um canavial de qualquer jeito e colher uma produção ruim nos próximos anos. “Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, como alocação adequada de variedades e plantio de qualidade. Operações que, feitas correta ou incorretamente, custariam a mesma coisa.”

Nos cinco anos que compreenderam a primeira fase do projeto de recuperação, a Denusa saiu de uma produtividade média de 49 TCH para 80 TCH

A tática surtiu efeito. Ao final de 2015, quando findou a primeira fase do projeto, a produtividade agrícola dos canaviais da Usina Denusa havia registrado um incremento de 31 ton/ha, chegando a uma média de 80 TCH. Um aumento de 63% em cinco anos. Vale ressaltar que, neste período, a área de produção da unidade foi reduzida, de 30 mil ha para 15 mil ha.

Adoção de variedades modernas e o uso da Matriz do Terceiro Eixo foram os pontos de virada da Usina Denusa

Dadas as condições financeiras em que se encontrava a Usina Denusa, as equipes agrícolas tinham que “tirar leite de pedra”, já que o foco inicial era o ganho em produção sem a realização de grandes investimentos. A primeira fase teve início com a caracterização dos ambientes de produção. Um grupo de colaboradores foi treinada em Piracicaba, SP para que esse processo pudesse ser realizado internamente e sem custos.

Caracterização dos ambientes de produção foi a primeira ação adotada pela Denusa

Uma vez caracterizados, a companhia, juntamente com o IAC, partiu em busca de variedades modernas e próprias para o plantio naqueles ambientes. “Optamos por deixar de lado opções consagradas, como a RB867515, SP81-3250 e SP83-5073, para adotar materiais mais produtivos, adaptados à mecanização e resistente ao acamamento, em função das chuvas torrenciais que atingem a região”, relata Antônio Carlos de Oliveira Júnior.

Hoje, três modernas variedades disputam o topo do censo varietal da Denusa. São elas a IACSP95-5094 (15,89%), a CTC4 (15,46%) e a IAC91-1099 (15,16%). Em quarto lugar, aparece a IACSP96-2042 com 11,37% de participação. Ao todo, 61% dos materiais são IAC, 23% pertencem ao CTC e 16% são da sigla RB.

A companhia passou também a dar atenção especial à produção de mudas sadias, se tornando um núcleo de Mudas Pré-Brotadas (MPBs). Correção do perfil do solo, plantio de qualidade e rotação de culturas (crotalária e soja) foram outras ações adotadas ao longo da primeira fase do projeto.

Denusa se tornou um polo produtor de mudas certificadas e inscritas no RENASEM-MAPA

O gestor agrícola da unidade destaca que a chave do sucesso foi a adoção da matriz tridimensional de colheita - conhecida popularmente como “Matriz do Terceiro Eixo” -, que consiste em colher os canaviais seguindo uma lógica de idade, iniciando a safra com as canas mais novas e finalizando com as mais antigas.

Desenvolvido pela IAC há mais de uma década, esse sistema busca a mitigação do estresse hídrico. Ocorre que o sistema radicular de uma cana planta é mais superficial que as de socas mais adiantadas (3, 4, 5º cortes, por exemplo), fazendo com que estes canaviais sejam mais expostos ao déficit hídrico. Estimativas apontam que, a cada 100 mm de redução de déficit hídrico no ciclo da cultura, é possível aumentar a produtividade de 7 a 10 TCH. “Apenas com a adoção da Matriz do Terceiro Eixo, alcançamos ganhos de produtividade de 15% a 30% em três anos. Sem falar do aumento da longevidade dos canaviais e da redução de custos.”

Grande vantagem do sistema da Matriz do Terceiro Eixo é mitigar o estresse hídrico

Como afirmado anteriormente, este conjunto de ações fez parte da primeira fase do projeto de recuperação da produtividade da Usina Denusa, que se entendeu de 2011 a 2015. No ano seguinte, foi dado início a segunda fase, que finaliza em dezembro deste ano. Com um caixa mais saudável, as estratégias empregadas neste período englobaram o uso de calcário e gesso na soqueira; adubação de cana soca; controle efetivo de pragas; correção em taxa variável e a utilização de fertilizantes foliares, inibidores, maturadores e pré-maturadores.

As ações adotadas nesta fase foram responsáveis por alavancar a média de produtividade das áreas para 97 TCH. Um acréscimo de mais 17 ton/ha. A expectativa é chegar a uma nova era a partir de 2020, alcançando os tão sonhados três dígitos de produtividade.

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