Como a Agricultura Irrigada Contribui para a Produtividade do Brasil
11-10-2024

A tecnologia pode minimizar extremos climáticos e reduzir a pressão de desmatamento, já que a irrigação aumenta o potencial produtivo das áreas agricultáveis

Por Lygia Pimentel*

Na semana passada eu recebi um material que afirma que a agricultura brasileira gasta 70% da água do país em irrigação. Vamos explicar isso em partes? Primeiro, é importante a gente entender que a irrigação, ou seja, a tecnologia que fornece água de maneira artificial para plantas, minimiza extremos climáticos, aumentando o potencial produtivo das áreas agricultáveis quando bem manejada.

Em seguida, é importante analisar o quanto o mundo e os outros países utilizam a agricultura irrigada e em que pé o Brasil está neste contexto. Um estudo publicado na Infoteca da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre o tema mostra que a agricultura irrigada ocupa 20% das terras cultiváveis no mundo, enquanto no Brasil essa proporção é de apenas 3%.

Na China, por exemplo, o país que detém o maior volume de áreas irrigadas do mundo, a área potencial já equipada para irrigação é de 99,8%. Os Estados Unidos já chegaram a 100%, enquanto o Paquistão já ocupa 93,8% de sua área potencial equipada para irrigação.

Esses países fazem amplo uso dessa tecnologia para favorecer o seu abastecimento e segurança alimentar de produtos domésticos. Não por acaso, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), aponta o Brasil como a região onde há maior potencial de crescimento produtivo no mundo.

Outro ponto a se observar é que áreas irrigadas têm maior produtividade, ou seja, maior produção de alimentos por hectare,  o que reduz a pressão de desmatamento, visto que a área produz mais graças á tecnologia. Não é à toa que 40% dos alimentos produzidos no planeta sejam originados desses 20% de áreas irrigadas apontadas pela Embrapa.

Precisamos compreender o volume utilizado pela agricultura e o que o país possui em recurso hídrico disponível. O Brasil capta menos de 1% do volume de águas de superfície disponível, de acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil mostra que do potencial médio de 2.035 m³/s retirados para consumos setoriais no Brasil, 1.027 m³/s são destinados à irrigação agrícola ou 50,5% de tudo que é consumido e retirado.

Ocorre que o escoamento médio do território brasileiro é de 255 mil m³/s, ou seja, utiliza-se menos de 1% do escoamento disponível e, do que é utilizado, metade vai para a agricultura irrigada.

Vale considerar também que 85% da população brasileira vive em centros urbanos, ou seja, nada mais natural e nobre do que a utilização dos recursos hídricos para produzir os alimentos que abastecem as cidades. Por fim, mas não menos importante, é bom lembrarmos que a água possui um ciclo ao qual as produções agropecuárias se integram sempre e que devem ser analisadas caso a caso.

*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

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Fonte: Forbes