Como a broca-da-cana passou de praga de importância secundária à maior inimiga dos canaviais
26-01-2022

A broca se encontro em todos os canaviais do país e seu ataque apresenta alta severidade, ocasionando perda de peso, morte da gema apical, enraizamento aéreo, germinação das gemas laterais, tombamento

Estimativas apontam que a broca-da-cana (Diatraea saccharalis) causa perdas de R$ 6 bilhões por safra, já que a cada 1% de infestação, perde-se 35kg de açúcar e 30 litros de etanol por hectare. Por sua ampla distribuição pelo país, pela severidade de seu ataque - que ocasiona perda de peso, morte da gema apical, enraizamento aéreo, germinação das gemas laterais, tombamento -, por gerar impactos negativos no rendimento industrial e na qualidade do produto final, a broca é considerada a maior praga dos canaviais.

Mas nem sempre foi assim. Até o início dos anos 2000, a broca era uma praga de importância secundária, com danos mais expressivos em cana-planta e em socas de primeiro corte. Este fato levava usinas e fornecedores a concentrarem suas medidas de controle unicamente em canaviais mais novos. O manejo em cortes avançados era realizado apenas se houvesse mosca remanescente.

No entanto, a broca alcançou o status de maior praga da cultura, em decorrência, das profundas alterações no sistema produtivo ocorridas ao longo das duas últimas décadas. A principal delas foi a mudança na colheita, que migrou do sistema manual de cana queimada para o mecanizado de cana crua.

Além do fogo ser um regulador de pragas, a pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Leila Luci Dinardo-Miranda, explica que, para o controle das pragas, eram utilizados inseticidas não tão seletivos aos inimigos naturais da broca, reduzindo suas presenças nos canaviais. Com a ausência do fogo e da redução da população de inimigos naturais da broca, houve uma explosão dessa praga nos canaviais.

Leila relata que as infestações foram aumentando ano a ano até atingirem seu ápice em 2011. A partir do ano seguinte, começou a ocorrer uma retração neste quadro, com uma diminuição gradativa das populações de broca. Fato impulsionado pelo aumento na utilização de inseticidas.

“Desde então, o químico segue como carro-chefe do manejo. Mas não podemos esquecer que o inseticida sozinho não faz milagre. O correto é adotar um manejo integrado de pragas (MIP), aliando métodos químicos, biológicos e culturais, como a utilização de variedades mais resistentes em locais mais propícios à broca - áreas de vinhaça ou muito infestadas por Sphenophorus levis.”, diz Leila, reforçando que para haver a adoção do MIP é fundamental o uso de produtos químicos seletivos aos inimigos naturais da broca,

A pesquisadora do IAC ressalta, ainda, a importância da utilização de diferentes grupos químicos durante as aplicações de inseticidas, ato que reduz a velocidade do estabelecimento da resistência nas populações de broca. “Quando usamos constantemente o mesmo inseticida, selecionamos os indivíduos resistentes àquele produto, cuja frequência na população será impulsionada. Em consequência, o defensivo se torna menos eficiente.”

Fonte: CanaOnline