Como é a manutenção? E a relação de transbordos? A transição foi difícil? As respostas para as principais perguntas sobre a colheita de duas linhas de cana-de-açúcar
22-08-2023

John Deere possui mais de 150 CH950 espalhadas pelo Brasil, com resultados positivos tanto no quesito rentabilidade como no agronômico. Foto: Leonardo Ruiz
John Deere possui mais de 150 CH950 espalhadas pelo Brasil, com resultados positivos tanto no quesito rentabilidade como no agronômico. Foto: Leonardo Ruiz

A CH950, da John Deere, está fazendo bonito pelos canaviais brasileiros.

Confira o que dizem as usinas que já testaram a tecnologia:

Por Leonardo Ruiz

Após anos de pesquisas e testes de campo, a CH950 iniciou sua quarta safra em operação este ano, se consolidando como a principal tecnologia para colheita de duas linhas simultâneas e independentes de cana-de-açúcar. As mais de 150 máquinas espalhadas em dezenas de unidades bioenergéticas e agrícolas pelo país atestam sua performance, com resultados positivos tanto no quesito rentabilidade como no agronômico.

A especialista de Produto e Mercado para soluções em cana-de-açúcar da John Deere, Maria Renata Fregonezi Gonçalves, declara que o desenvolvimento da CH950 foi o maior investimento já feito pela companhia no Brasil. “O setor canavieiro sofreu com a transição da colheita manual para a mecanizada. O início da mecanização foi marcado pela falta de controle de tráfego e qualidade das operações, o que resultou na estagnação da produtividade da cultura no Brasil. A colheita de duas linhas foi uma demanda antiga do mercado que foi atendida pela John Deere, com o intuito de trazer, além de tecnologia, a possibilidade de o setor ir rumo a um novo padrão produtivo da cana-de-açúcar.”

Na visão da profissional, o maior erro durante o início do processo de mecanização da colheita da cana-de-açúcar foi adaptar os canaviais às máquinas, quando o correto seria fazer o contrário. “A CH950 foi pensada para o modelo atual de produção de cana-de-açúcar do Brasil, onde predomina o espaçamento simples de 1,50 m. Nosso objetivo não era unicamente aumentar a rentabilidade da colheita, mas também entregar ganhos agronômicos através da implantação de um controle de tráfego mais adequado.”

Maria Renata explica que, ao criar uma espécie de “canteiro” e a “pista de tráfego”, é possível reduzir a área compactada em 60%, beneficiando a brotação e o desenvolvimento das soqueiras e impactando positivamente a produtividade e longevidade dos canaviais. “A redução de 30% no consumo de combustível em cada frente de colheita e a diminuição de 36% da necessidade de mão de obra são excelentes benefícios que definitivamente resultarão em melhor rentabilidade para nossos clientes. Mas será apenas cuidando melhor do nosso maior bem – o canavial - que conseguiremos perenidade e sustentabilidade do negócio.”

Em eventos e rodas de conversa pelo setor, a colheita de duas linhas simultâneas e independentes de cana-de-açúcar é um dos principais temas debatidos. Diversas usinas e agrícolas pelo país já realizaram testes internos com essas máquinas e atestam sua boa performance e benefícios. No entanto, ainda existem céticos em relação ao desempenho da tecnologia, seja por desconhecimento ou por acreditar que precisam realizar drásticas adaptações em seus processos antes de receber a colhedora.

A especialista de Produto e Mercado para soluções em cana-de-açúcar da John Deere afirma, contudo, que esses pensamentos acabam postergando a curva de aprendizado. Ela esclarece que realmente são necessárias algumas adaptações para alcançar o melhor potencial da máquina, mas que o melhor caminho é usá-la como catalizadora dessas mudanças, que serão benéficas para qualquer outra colhedora.

“O aproveitamento de todo o potencial da CH950 virá conforme a empresa ganhar expertise. Por conta disso, não é possível estar 100% preparado para começar a utilizá-la.”

Colhedoras de duas linhas na Atvos acumulam 12 mil horas de trabalho com resultados positivos

Uma das maiores produtoras de etanol do país, a Atvos visa expandir sua capacidade de produção para alcançar a moagem de 30 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nas próximas safras. Além de avanços na implementação dos conceitos da indústria 4.0, que englobam as principais inovações tecnológicas de automação, controle e tecnologia da informação, a companhia acredita que melhores práticas de conservação do solo serão vitais para alcançar esse objetivo. E a colheita de duas linhas simultâneas e independentes terá papel vital nesse cenário.

Durante o “Desencana Cast”, o podcast da John Deere, o gerente Corporativo de Operações Mecanizadas e Ativos Agrícolas da Atvos, Alberto Verruma, contou que a companhia possui duas CH950 em operação em uma de suas unidades. Com 12 mil horas de trabalho, ele declarou que a tecnologia já se provou bastante vantajosa.

“Inicialmente, nosso foco era comparar a produtividade entre as máquinas de uma e duas linhas. Esse é, sem dúvida, um ponto importante. Mas é o lado agronômico que mais nos tem atraído. A possibilidade de pisar 50% menos, deixando uma espécie de canteiro para o trânsito das máquinas, proporciona uma preservação ímpar ao canavial. Entramos este ano na terceira safra de operação das nossas CH950, e os dados técnicos de campo atestam um melhor enraizamento e brotação das áreas colhidas por elas.”

Alberto Verruma, da Atvos, afirmou que a possibilidade de pisar 50% menos, deixando uma espécie de canteiro para o trânsito das máquinas, proporciona uma preservação ímpar aos canaviais da companhia

Foto: Divulgação Atvos

Segundo Verruma, um dos principais obstáculos para a introdução da colheita de duas linhas na Atvos foi a mudança de cultura. “É um conceito novo, mas que veio para ficar. Enfrentamos uma curva de aprendizado, com erros e acertos pelo caminho. Mas sempre acreditamos no projeto. Atualmente, temos 126 colhedoras espalhadas pelo Grupo, das quais apenas duas são de duas linhas. Mas tenho plena convicção de que, em breve, haverá equilíbrio entre ambos os modelos. É um caminho sem volta.”

O profissional relatou que ainda existem muitas dúvidas sobre a eficácia e funcionamento da tecnologia fora das porteiras da usina. Um deles é sobre o espaçamento colhido pela CH950. “Não é um duplo alternado. É a colheita de espaçamento simples, de 1,40 m ou 1,50 m, de forma simultânea e independente.”

A priorização de áreas é outra pergunta muito recebida pelo gerente da Atvos. Na visão dele, para que ocorra redução do consumo de combustível, o correto é sim priorizar. “É menos benéfico colocar ela nos piores canaviais. Por ser uma máquina de alto potencial produtivo, eu prefiro alocá-las numa área onde seu desempenho será aproveitado ao máximo, como canas eretas e de maior potencial, visando diluição de custos.”

Porém, Verruma salientou que precisa haver certa flexibilidade. Nada pode ser engessado. “Essa máquina encara todos os tipos de área, até porque ninguém tem apenas canaviais perfeitos. Já ouvi falar de empresas que a colocaram para colher bicos menores, pois o faria com a metade do tempo. O correto é sempre ter um planejamento adequado, visando extrair o máximo da colhedora e do canavial.”

Bioenergética Aroeira detalha como é feita a manutenção e qual a relação de transbordos na sua colheita de duas linhas de cana-de-açúcar

Com duas CH950 em sua frota e com a expectativa de adquirir mais duas para a próxima safra, a Bioenergética Aroeira, de Tupaciguara/MG, possui autoridade para falar sobre a colheita de duas linhas simultâneas e independentes de cana-de-açúcar. O gerente de Operações Agrícolas da Usina, Henrique Soares Naufel, revela que a média diária de colheita de cada máquina é de 1500 toneladas. Em comparação, as colhedoras tradicionais na unidade colhem, em média, 860 ton/dia/maq.

O profissional salienta que a Aroeira não prioriza áreas, mas blocos, visando diminuir a necessidade de transporte. “Como ela rende muito, evitamos ficar fazendo muitas mudanças. Também temos percebido que tiros muito longos, sem malhadores bem distribuídos, têm atrapalhado o ciclo de transbordos. Além disso, notamos um pouco mais de dificuldade em canas caídas ou entrelaçadas, porém, o rendimento médio entre todas as áreas se mantém em 1,8 vezes o rendimento das máquinas de uma linha.” Atualmente, a Aroeira trabalha com uma proporção de 3,5 transbordos de 20 toneladas por CH950.

Henrique Soares Naufel: “O custo de manutenção por colhedora de duas linhas é certamente maior. No entanto, devemos olhar o custo de manutenção por tonelada produzida. Esse sim será bastante inferior”

Foto: Leonardo Ruiz

Para Naufel, uma das maiores dúvidas do setor é sobre a manutenção. “Quase tudo nesse tipo de máquina é dobrado, do número de faquinhas aos divisores de linha. Dessa forma, o tempo e custo das manutenções, sejam preventivas ou corretivas, são maiores. Estamos vivenciando uma curva de aprendizado, desenvolvendo novas tecnologias e formas de trabalho visando aumentar a disponibilidade dessas máquinas e reduzir os custos.”

Ele conta, por exemplo, que a lavagem passou de uma para duas pessoas. O abastecimento e lubrificação podem ser feitos apenas uma vez ao dia, mas sempre no mesmo horário. Os facões estão sendo trocados a cada 250 horas, com sincronismo na metade da vida útil (120 a 140 horas). “O custo de manutenção por máquina é certamente maior. No entanto, devemos olhar o custo de manutenção por tonelada produzida. Esse sim será bastante inferior.” Com relação aos custos de CT (Colheita e Transbordamento), o gerente de Operações Agrícolas da Aroeira afirma ter observado reduções, em especial no consumo de óleo diesel. Na safra passada, a média das colhedoras de uma linha foi de 0,74 litros por tonelada, enquanto as CH950 entregaram médias de 0,60 L/ton. Uma redução de quase 20%. “Ainda temos muito o que evoluir, mas com certeza a colheita de duas linhas simultâneas e independentes veio para agregar, sendo uma peça-chave para elevar a produtividade e rentabilidade do setor como um todo.”

Fonte: CanaOnline