Complexo de pragas ameaça produtividade da cana-de-açúcar
17-12-2025
Bicudo-da-cana e cigarrinha podem provocar perdas de até 40% na produção e comprometer a longevidade dos canaviais
Viviane Passerini, edição Revista Cultivar
A cana-de-açúcar segue como uma das principais atividades do agronegócio brasileiro. Maior produtor e exportador mundial, o Brasil tem a safra 2025/2026 estimada em 663,4 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além de abastecer os mercados de açúcar e etanol, a cultura tem papel estratégico na matriz energética, com o aproveitamento de resíduos para geração de energia elétrica e produção de biometano.
Apesar da relevância econômica e ambiental, o setor enfrenta desafios crescentes no campo fitossanitário. Entre eles, a pressão de insetos-praga tem se destacado como um dos principais fatores de impacto sobre a produtividade e a rentabilidade dos canaviais.
Especialistas alertam para a dificuldade de controle de duas pragas recorrentes: o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) e a cigarrinha-da-cana (Mahanarva fimbriolata). De acordo com técnicos da UPL Brasil, empresa que atua no fornecimento de insumos agrícolas, esses insetos podem comprometer tanto o desenvolvimento das plantas quanto a longevidade da lavoura.
“O Sphenophorus é considerado uma das pragas mais agressivas da cultura. As larvas atacam o sistema radicular e o rizoma, interferindo no transporte de seiva e reduzindo o vigor da planta”, explica Leandro Valerim, gerente de inseticidas da UPL Brasil. Segundo ele, a praga também prejudica a brotação da soqueira, reduzindo o número de cortes economicamente viáveis ao longo do ciclo do canavial.
O controle do bicudo-da-cana é dificultado pelo seu ciclo longo e pelo hábito de permanência sob a palha, o que o protege de intervenções convencionais. Além disso, a disseminação ocorre com facilidade por meio de mudas contaminadas e do trânsito de máquinas agrícolas. Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que as perdas podem chegar a 30 toneladas por hectare ao ano — o equivalente a quase 40% da produtividade média.
Outro desafio relevante é a cigarrinha-da-cana, que atua em diferentes estágios. As ninfas permanecem no solo, alimentando-se da seiva das raízes, enquanto os adultos atacam as folhas. “As cigarrinhas aladas injetam toxinas que provocam amarelecimento, secamento e redução da fotossíntese, além de afetar o teor de sacarose e favorecer o desenvolvimento de fungos”, detalha Valerim.
Diante desse cenário, o manejo integrado de pragas tem sido apontado como estratégia essencial. A recomendação envolve monitoramento constante das áreas, adoção de controle biológico e uso criterioso de inseticidas, sempre considerando critérios técnicos e ambientais.
Estudos conduzidos em áreas experimentais indicam que a adoção de estratégias de controle pode resultar em ganhos expressivos de produtividade. Em levantamento realizado em parceria entre a UPL e a consultoria Global Cana, áreas tratadas apresentaram produtividade média de 80,5 toneladas por hectare, frente a 51,6 toneladas por hectare em áreas sem controle, o que representa um incremento superior a 50%.
Para Rogério Castro, CEO da UPL Brasil, a gestão fitossanitária deve ser encarada como parte estrutural do sistema produtivo. “A gestão eficiente das pragas não é um custo. Trata-se de investimento direto em produtividade e deve sempre caminhar junto da sustentabilidade”, conclui.
Fonte: Revista Cultivar

