Condições do leilão de ajuste são positivas para incentivar oferta de energia
22-12-2014

As novas condições fixadas para o leilão de ajuste marcado para 15 de janeiro são favoráveis à venda de energia por parte das geradoras, mas o cenário de chuvas até lá também será determinante para definir se o leilão terá sucesso para aliviar a descontratação das distribuidoras, segundo consultores.

Ainda que o cenário de preços para o leilão tenha melhorado, sob o ponto de vista do vendedor, o volume de oferta de energia a ser ofertado depende também da perspectivas em relação ao Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) no primeiro semestre.

As distribuidoras precisam comprar entre 2 e 2,5 gigawatts (GW) médios de energia para o primeiro semestre -- um volume grande e não usual para um leilão de ajuste, o que levou o governo a alterar a regra para que distribuidoras pudessem comprar mais energia no certame. Elas poderão adquirir até 5 por cento de sua carga total contratada.

"Talvez não consiga contratar o volume total (que precisam), mas deve ter um volume até melhor que o contratado no leilão A-1", disse o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos.

O governo federal alterou a regra para o preço a ser praticado no leilão A-0, de forma que este poderá até ser maior e, segundo os analistas, até mesmo atingir o valor máximo do PLD para o ano. Isso permite que a venda de energia no leilão seja mais interessante e competitiva com a venda no mercado de curtíssimo prazo.

No leilão A-1, realizado no início do mês, que também visava reduzir a descontratação das distribuidoras no ano que vem, o governo contratou 622 megawatts (MW) médios, o que cobriu a descontratação das distribuidoras no segundo semestre, mas não resolveu a situação do primeiro. Apenas as estatais Furnas, da Eletrobras, e Petrobras ofereceram energia no leilão.

Os prazos estabelecidos para os contratos no leilão de ajuste são de 3 e 6 meses, ambos com início em 1 de janeiro de 2015. Se o preço de energia de curto prazo dado pelo PLD der sinais de queda de agora até o leilão, ou seja, se as estimativas de chuvas melhorarem, maior chance de as geradoras se interessarem por vender energia no certame.

Isso poderia ocorrer dado que as chuvas, geralmente, se intensificam justamente em janeiro, quando as previsões de afluências para os meses subsequentes também serão mais assertivas.

Atualmente, a estimativa é de que as chuvas se manterão dentro da média ao longo do período úmido e que, pelo menos no mês de janeiro, o PLD ainda deve ficar alto. As afluências influenciam na formação do PLD, mas as previsões de aumento de consumo de carga de energia também são determinantes -- e é em janeiro que a demanda tende a disparar, diante das altas temperaturas que elevam o uso de equipamentos de refrigeração, o que também pode pressionar para alta do PLD.

O preço de venda de energia no leilão A-0 vai sendo ajustado conforme a demanda, dentro dos limites estabelecidos. Vlavianos vê o preço do leilão próximo do PLD máximo, de 388,48 reais por megawatt-hora (MWh). "Vai ser algo entre o PLD máximo e um preço um pouco abaixo desse PLD", disse.

Antes de vender energia no leilão, as geradoras ainda devem avaliar, por exemplo, as condições de prazo. Ou seja, se é vantajoso fazer a venda "quebrada" da energia por apenas 3 ou 6 meses quando poderia ter um lote para a venda por prazo de um ano, por exemplo, no mercado livre.

Representantes do setor elétrico mencionaram em eventos recentes que pode haver problemas de liquidez de contratos de energia no mercado livre durante o ano que vem, dada a demanda e o cenário. Mas o diretor executivo da Safira Energia, Mikio Jawai Jr., não vê isso como problema que reduziria ofertas no leilão.

"Isso é improvável e já está equacionado. É tudo uma questão de preço... Qualquer preço que seja diferente de uma situação de escassez é um preço falso. Se o preço for crível, pode ter certeza que o mercado aparece", disse ele.

Dados da plataforma de negociação de energia Balcão Brasileiro de Energia Elétrica (BBCE) na quinta-feira mostravam ofertas de compra de energia para janeiro a junho de 2015 a cerca de 330 reais por megawatt-hora (MWh), e de 370 reais por MWh para a venda.

Anna Flávia Rochas