Conheça Caio, o robô que controla os dados na Copersucar
24-09-2024

Navio ancorado no Terminal Copersucar para embarque de açúcar — Foto: Copersucar/Divulgação
Navio ancorado no Terminal Copersucar para embarque de açúcar — Foto: Copersucar/Divulgação

Empresa recorreu a inteligência artificial generativa para facilitar acesso a informações relativas à gestão por cooperados e funcionários

Por Ivone Santana — São Paulo

A Copersucar, maior empresa brasileira na exportação de açúcar e etanol, recorreu a uma inteligência artificial generativa (IAGen) para facilitar o acesso a informações relativas à sua gestão e aos negócios por seus cooperados, funcionários e distribuidores. O chatbot Caio — acrônimo de “Copersucar Artificial Intelligence Ondemand” — foi desenvolvido pelo Math Group, consultoria e engenharia especializada em análise de dados.

E é esse robô que decide quem pode saber o que se passa no ecossistema da cana-de-açúcar, com uma cadeia de valor que envolve açúcaretanol, usinas, energia, terminais multimodais, logística e tecnologia.

O Caio foi criado com tecnologia sob licenciamento da OpenAI, dona do ChatGPT, que tem a Microsoft como sócia investidora. Caio e o banco de dados da intranet da Copersucar ficam hospedados no data center Azure, que é a plataforma de nuvem computacional da Microsoft. É na nuvem que os usuários vão buscar os dados e interagir com a inteligência artificial.

Os assuntos são segmentados no banco de dados, não estão centralizados em um só lugar. Nem todos têm acesso aos dados, de modo que cada usuário só consegue ver o que previamente foi aprovado para o seu conhecimento. “Ele [o chatbot] não sai para a internet aberta, o acesso é privado e o Caio respeita a governança da segurança da informação”, afirma o vice-presidente de tecnologia da Math, Sergio Larentis.

A Math foi fundada em 2016 pelos sócios Larentis e Marcel Ghiraldini, hoje vice-presidente de marketing e vendas. O nome da empresa, Math, reflete o interesse em matemática dos dois amigos, formados em ciências exatas.

No banco de dados da Copersucar há informações como produção das usinas em tempo real. A Copersucar tem 37 usinas sócias com processamento de mais de 110 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, e 16 destilarias exclusivas com produção de mais de 5,3 milhões de metros cúbicos de etanol. Entre os diversos tipos de documentos do banco de dados estão, por exemplo, regulatórios, informações sobre os funcionários, de sustentabilidade, inteligência de mercado, logística, questões técnicas e financeiras.

Governança de dados

Ghiraldini faz uma analogia para mostrar a relevância dos conteúdos das corporações e do trabalho do robô: “Dado é o novo petróleo, mas a inteligência artificial é o motor. O trabalho de governança é o refino.”

Entre os diferenciais do modelo de algoritmos da Math em comparação com os que estão disponíveis no mercado, Ghiraldini destaca a governança dos dados, com a definição de quem é proprietário de cada informação. Durante a construção do modelo, cada setor indicou onde o chatbot poderia buscar os seus dados, quem poderia acessá-los e outras barreiras de segurança.

As salvaguardas dão segurança ao sistema, mas Ghiraldini reconhece que não se pode ter 100% de proteção. Houve cuidados também para minimizar situações em que o robô possa mentir, inventar ou “delirar”.

“Foi desafiador obter das diversas áreas da empresa situações potenciais de aplicação da IA”, diz o executivo responsável por tecnologia da informação, inovação e transformação digital da Copersucar, Daniel Vaz, em nota. “No entanto, a partir do momento que entregamos uma degustação de IA por meio de uma POC (prova de conceito) do Caio, foi percebida a facilidade para obter informações em linguagem natural, e a adoção interna cresceu com novos documentos acrescidos na solução, tornando-se referência em consulta de informações.”

Em ajustes

Nesta primeira fase, 350 pessoas já estão habilitadas para utilizar o Caio, cujos testes começaram há seis meses. Muitas pessoas da cooperativa ainda não têm acesso porque a governança está sendo ajustada. De modo geral, os usuários são de diversas unidades, das usinas, da auditoria e do setor jurídico, por exemplo.

Segundo Larentis, ainda não há um retorno geral sobre o sistema, mas, nas pesquisas de satisfação , “[os usuários] estão dando nota ótima”. As informações são localizadas com facilidade e rapidez. O que demorava uma hora ou um mês, agora leva poucos minutos, afirma Laurentis, ao citar que o tempo médio de navegação no sistema está próximo de 10 minutos.

“A engenharia de valor, só com o dado de tempo, dá uma visão errada, porque existia uma represa de problemas que nem sequer estavam sendo endereçados [não se sabia que existiam]”, diz Ghiraldini. Como a IA está resolvendo muitos problemas em menos tempo, ele considera que o sistema já está dando retorno sobre o investimento, embora ainda não calcule o valor.

Math

A Math já desenvolveu 25 modelos de inteligência artificial com base em linguagem de larga escala (LLMs, na sigla em inglês). Marcel Ghiraldini estima que o faturamento da empresa fique próximo de R$ 100 milhões este ano, cerca de 30% maior que em 2023. A taxa de crescimento anual composta (CAGR) é de 70% nos últimos quatro anos, afirma.

A clientela da empresa está concentrada nos setores ambiental e financeiro, com este último representando 70% do faturamento. Nessa carteira estão grupos como os bancos Itaú, Santander, Bradesco, BV e XP.

Os cofundadores da Math, que nunca receberam aportes de investidores, agora buscam diversificação além do trabalho de consultoria, e crescimento tanto operacional quanto por meio de aquisição nos próximos meses.

Fonte: Globo Rural