Controle microbiológico volta ao centro da estratégia nas usinas, diz Andresa Menezes no 8º Seminário UDOP
03-12-2025

Fundadora da Alpinus Consultoria defende foco em assepsia, parâmetros bem definidos e inovação para transformar açúcar em etanol com eficiência

Por Andréia Vital

O controle microbiológico voltou ao centro da estratégia industrial no setor sucroenergético. Durante o 8º Seminário UDOP de Inovações, em Araçatuba - SP, a consultora Andresa Menezes fundadora da Alpinus Consultoria, defendeu que a performance do processo depende de disciplina operacional, assepsia rigorosa e uso inteligente de tecnologia. Em sua apresentação sobre boas práticas e parâmetros essenciais do processo fermentativo, ela reforçou que grande parte do potencial produtivo ainda se perde por falhas básicas de controle de processo, assepsia e controle de contaminantes.

Realizado pela UDOP – União Nacional da Bioenergia, o encontro segue até esta quarta-feira (3), no campus da UNIP e reúne cerca de 1,5 mil profissionais da cadeia da cana e da bioenergia. Com mais de 100 horas de conteúdo aplicado, o evento oferece 10 trilhas de aprendizagem, um Painel Magno e a participação de mais de 250 especialistas entre palestrantes, moderadores e debatedores, conectando o público a debates estratégicos, cases e tendências que afetam a competitividade das usinas.

Durante a palestra “Fermentação alcoólica essencial – boas práticas, parâmetros e inovação aplicados à rotina industrial”, Andresa chamou atenção para a velocidade de multiplicação bacteriana dentro da dorna, um processo que, segundo ela, “parece pequeno” quando se analisa o número absoluto da potência (10e7, 10e8 bast/mL) mas são números que crescem de forma exponencial aumentando a população de microrganismos e de ácidos orgânicos que competem com as leveduras pelo substrato.

A população de bactérias cresce de forma exponencial, “Se fosse dinheiro, todo mundo acharia muito. Com bactéria também é muito”, provocou, ao defender que a indústria trate contaminação com a mesma disciplina com que acompanha indicadores financeiros.

A consultora destacou também a diferença entre limpeza e assepsia. Limpar, explicou, é remover sujeira e matéria orgânica; fazer assepsia é reduzir a carga microbiana a níveis que não comprometam o processo. Isso exige procedimentos estruturados, aplicação correta dos produtos e, em muitos casos, uso de água quente. “Sem assepsia efetiva, a usina só empurra o problema para frente”, afirmou.

Outro ponto crítico discutido foi a formação de biofilmes, que são estruturas em que microrganismos aderem a superfícies, se multiplicam e, posteriormente, se rompem, espalhando novas células pelo circuito industrial. Nesses ambientes, bactérias acabam produzindo ácidos em pontos de difícil acesso, reduzindo rendimento e podendo causar microcorrosões e falhas de equipamento. “É a espécie de ‘grupinho organizado’ das bactérias”, resumiu.

Andresa também abordou o impacto das leveduras contaminantes. Além das linhagens selecionadas de Saccharomyces, que conduzem o processo desejado, há leveduras indígenas e selvagens que entram no sistema com a matéria-prima ou pela ausência de controle. Essas leveduras podem ou não performar bem, em geral produzem mais espuma e floculação e contribuem para a queda da eficiência.

Sobre as bactérias láticas, reforçou que continuam sendo as principais vilãs da fermentação. Gram-positivas e muitas vezes formadoras de esporos, sobrevivem a condições adversas e retornam ao processo quando os protocolos de sanitização falham. Ao produzirem ácidos em meio rico em açúcares, afetam diretamente a pureza do mosto e o rendimento final em litros por tonelada de cana.

Para a consultora, o maior desafio das usinas não é falta de conhecimento técnico, mas falta de disciplina. Boas práticas consistentes, parâmetros de processo bem definidos e ferramentas de monitoramento em tempo real podem transformar o controle microbiológico em uma fonte recorrente de ganhos industriais.

“Cada litro perdido por contaminação é resultado de alguma decisão que não foi tomada a tempo”, concluiu, defendendo que a fermentação volte para o centro da agenda de inovação do setor sucroenergético.

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