Corpo de Bombeiros propõe solução estratégica contra incêndios em áreas naturais
14-04-2025

Major Jean Gomes Pinto apresenta abordagem preventiva no 12º Encontro Técnico com o setor sucroenergético
A aplicação de técnicas de queima prescrita e controlada como principal método de contenção dos incêndios em áreas naturais, sobretudo diante de fatores climáticos incontroláveis foi abordada pelo Major PM Jean Gomes Pinto, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo no 12º Encontro Técnico com o setor sucroenergético, realizado no dia 11 de abril, em Sertãozinho – SP. O evento reuniu representantes do segmento para reforçar ações de prevenção a incêndios.
“O ano de 2021 nos alertou para necessidades urgentes. Percebemos que não temos controle sobre o clima ou sobre a topografia dos locais. A única variável que podemos de fato gerenciar é o combustível – a vegetação seca que alimenta o fogo”, explicou.
O Manejo Integrado do Fogo, técnica ainda pouco difundida no Brasil, consiste em um modelo de planejamento que aplica queimadas de forma técnica, autorizada e monitorada, com o objetivo de eliminar material combustível (como folhas, galhos e gramíneas secas) antes que o fogo se espalhe de maneira descontrolada.
O major explicou a diferença essencial entre dois termos frequentemente confundidos: queimada e incêndio. “Na queimada, há um operador responsável, que mantém o controle da ação. Já o incêndio é a propagação do fogo de forma desgovernada e perigosa, muitas vezes com resultados devastadores”.
Uma estratégia baseada na ciência
Durante sua explanação, o oficial detalhou como o Corpo de Bombeiros está utilizando tecnologias como imagens de satélite, cruzamento de dados e estudos ambientais para mapear áreas prioritárias para intervenção no estado de São Paulo — como Estações Ecológicas e Áreas de Preservação Permanente (APPs).
A maior parte das ações é voltada ao bioma do Cerrado, mais adaptado ao uso do fogo. A estratégia de manejo atua principalmente sobre os materiais mais finos, que são os responsáveis por iniciar e propagar incêndios rapidamente.
Para entender os níveis de risco e os comportamentos do fogo, o major apresentou uma classificação técnica utilizada nos Estados Unidos, que categoriza os combustíveis vegetais por diâmetro e tempo de absorção de umidade: combustível de 0 a 0,7 cm (1 hora) – material extremamente inflamável, reage rapidamente ao clima; de 0,7 a 2,4 cm (10 horas); até materiais de maior espessura (100 horas), que demoram mais para alterar seu teor de umidade.
A importância da altura da chama
Outro ponto sensível abordado pelo major foi a vegetação nas margens das rodovias. Ele defendeu a ampliação da faixa de limpeza conhecida como “aceiro”, que hoje varia entre 3 e 4 metros, dependendo do contrato de concessão. “Estamos pleiteando alterações para que essa limpeza ocorra de cerca a cerca. É preciso rever essas medidas com urgência”, afirmou.
Jean ressaltou que a presença de combustível fino próximo ao asfalto representa risco extremo, especialmente entre os meses de maio e setembro, período crítico para incêndios. “Já em maio a vegetação começa a secar. Em junho, está pronta para queimar. Agosto e setembro são os meses de maior risco”, alertou.
O major explicou que o combate direto às chamas se torna praticamente inviável quando o fogo ultrapassa certos limites físicos. Chamas com altura superior a 1,5 metro já exigem apoio mecanizado, e acima de 2,5 metros é necessário utilizar táticas indiretas de combate com recursos robustos, como tratores e caminhões-pipa.
“No caso da cana-de-açúcar, por exemplo, cuja altura passa facilmente dos dois metros, o combate manual é inviável. Se não atuarmos de forma preventiva, o incêndio ultrapassa a capacidade de resposta das nossas equipes”, afirmou..
Em tom de apelo, o major reforçou que o sucesso do Manejo Integrado do Fogo depende da colaboração entre diversos setores: governo, concessionárias, produtores rurais e sociedade civil. Ele sugeriu que o setor privado inicie debates e formule propostas para regulamentações específicas sobre distanciamento de vegetação, limpeza de áreas próximas a rodovias e zonas de amortecimento em áreas de cultivo.
“Precisamos agir. A meteorologia está fora do nosso controle. A topografia, idem. Resta o combustível, e ele é nossa responsabilidade direta. Reduzir a altura da chama é o que torna o combate viável e eficiente. Essa é uma preocupação que todos devem abraçar, pois o fogo não escolhe fronteiras”, concluiu.
https://youtu.be/Ls-gF916eh8?si=SIX_bsy70iQ5hlzf