Corte no seguro rural amplia vulnerabilidade e ameaça sustentabilidade do agronegócio
03-09-2025

Pequenos e médios produtores são os mais impactados pelo bloqueio de recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural

O bloqueio de 42% dos recursos destinados ao Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural (PSR), implementado pelo governo federal, acendeu um alerta no campo. A medida compromete a capacidade de proteção contra riscos climáticos e de mercado, afetando diretamente a viabilidade econômica de pequenas e médias propriedades rurais, que possuem menor fôlego financeiro para enfrentar perdas.

Nos últimos três anos, a área segurada no Brasil caiu 47%, mesmo diante da intensificação de eventos climáticos extremos. A retração contrasta com a trajetória observada em países desenvolvidos, onde políticas públicas robustas dão sustentação ao setor.

Nos Estados Unidos, cerca de 90% da área cultivada conta com cobertura de seguro agrícola. O modelo norte-americano se apoia fortemente em subsídios governamentais para reduzir o custo dos prêmios, assegurando previsibilidade e estabilidade ao produtor.

Na União Europeia, embora existam diferenças entre os países, a Política Agrícola Comum (PAC) integra o seguro como ferramenta essencial de gestão de riscos, garantindo elevada cobertura. Esse arcabouço reduz a exposição dos agricultores a volatilidades climáticas e de mercado, fortalecendo a competitividade do agronegócio europeu.

A realidade brasileira, por sua vez, segue em trajetória oposta. O PSR, concebido justamente para estimular a adesão a apólices, sofre cortes recorrentes de orçamento e atrasos na liberação de recursos. O resultado é a redução da área segurada e o aumento da vulnerabilidade do setor, sobretudo entre os pequenos e médios produtores.

“Estamos diante de um verdadeiro desmonte da proteção agropecuária, com retração da cobertura do seguro rural e consequente fragilidade para os agricultores”, afirmou Tirso Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). Segundo ele, um estudo em andamento prevê a criação de um novo modelo de seguro, mas até que seja implementado, a produção segue em situação de alto risco.

A baixa cobertura do seguro rural vai além da renda das famílias do campo. A fragilização compromete a resiliência da produção agrícola como um todo, em um setor que é reconhecidamente motor da economia brasileira.

“As decisões equivocadas na política econômica fragilizam o agro, justamente quando o país deveria reforçar mecanismos de estabilidade e competitividade”, concluiu Meirelles.