Cosan aposta em geração de caixa da Comgás
28-01-2019

A Cosan caminha para concluir em breve a aquisição de praticamente a totalidade da Comgás. A companhia lançou, na sexta-feira, uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) pelas preferenciais classe A (PNA) da distribuidora de gás, por R$ 82 por ação, em uma aposta na futura geração de caixa da companhia, que rende bons dividendos para sua controladora a cada ano.

Segundo fontes, o negócio ganhou força depois que a gestora de recursos Alaska, que tem 41,8% das PNAs da Comgás em circulação, demonstrou interesse em se desfazer da posição. Para a Cosan, foi considerado mais interessante adquirir a fatia da Alaska por meio da OPA, uma vez que esta seria inevitável.

A OPA será voluntária, condicionada à adesão de dois terços dos acionistas detentores das 23,5 milhões de PNAs em circulação. Caso a adesão seja total, a Cosan vai desembolsar cerca de R$ 1,93 bilhão, sendo que R$ 807,5 milhões irão para a Alaska. Nesse cenário, a participação total da companhia de Rubens Ometto na distribuidora de gás subiria de 80,11% para 98%.

A aquisição será financiada em parte por meio de um empréstimo R$ 1,7 bilhão tomado com o BTG Pactual, pelo prazo de até dois anos e taxa de juros de até 110% do CDI. O restante será pago com recursos que a empresa tem em caixa. Ao fim de setembro, a Cosan tinha R$ 4,4 bilhões em caixa. A estrutura da operação garante ainda que a alavancagem do grupo Cosan não será pressionada, com relação entre dívida líquida e Ebitda abaixo de 2,5 vezes.

A Cosan informou, por meio de fato relevante, que a operação não implicará no cancelamento do registro da Comgás como emissora de valores mobiliários.

O Valor apurou que a companhia não lançou, neste momento, uma OPA de fechamento de capital porque seria uma operação mais complexa, com exigência de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e prazos que poderiam levar o negócio a demorar seis meses para ser concluído.

"Como vai sobrar uma participação muito pequena, será mais fácil resolver no futuro. Consideraram melhor comprar 18% agora com rapidez do que fechar o capital em uma transação mais complexa", disse uma fonte com conhecimento da operação.

O preço oferecido pela Cosan, de R$ 82 por PNA, embute um prêmio de 23,3% em relação ao fechamento de sexta-feira.

O preço é também superior ao pago pela Cosan em 2017 quando comprou uma fatia de 16,77% que a Shell tinha na distribuidora de gás. A operação, que envolveu permuta de ações e pagamento em dinheiro, chegou num valor implícito de R$ 53,05 por ação da Comgás. Em 2012, quando a Cosan comprou o controle da companhia, pagou R$ 47,25 por ação.

Para a Cosan, o entendimento é que a empresa não está sendo negociada a um preço justo na bolsa, apurou o Valor. Como há uma fatia pequena de ações no mercado, e a liquidez é muito baixa, "isso inibe a precificação correta do papel", disse uma fonte.

Com receita líquida anual da ordem de R$ 8 bilhões, a Comgás valia na bolsa semana passada R$ 8,6 bilhões, ou metade dos R$ 17 bilhões da controladora Cosan, que tem faturamento líquido anual superior a R$ 60 bilhões. Além da distribuidora de gás, o grupo Cosan abriga a companhia de lubrificantes Moove e as operações da Raízen, de distribuição de combustíveis e de produção de açúcar e álcool, em joint-venture com a Shell, sem contar 28% da Rumo Logística, avaliada em R$ 29 bilhões na bolsa brasileira.

A explicação para a avaliação de mercado está na capacidade de geração de caixa da companhia de gás. A empresa paulista de distribuição de gás teve uma geração de fluxo de caixa operacional de R$ 1,29 bilhão de janeiro a setembro, pouco menos que o R$ 1,36 bilhão provenientes dos 50% detidos na Raízen Energia e Raízen Combustíveis.

A geração de caixa estável e com tendência de crescimento resulta em pagamentos frequentes de dividendos. Entre 2012 e 2018, a companhia distribuiu um total de R$ 3,4 bilhões em proventos aos seus acionistas.

O anúncio impulsionou as ações da Comgás ontem. A PNA subiu 20,3%, para R$ 80, enquanto as ações ordinárias avançaram 16,7%, a R$ 75,25. A Cosan, contudo, reagiu negativamente, devido à percepção de que o prêmio oferecido foi elevado para uma fatia minoritária. As ON da companhia caíram 3,01%, a R$ 40,91.

Para o Bradesco BBI, o preço oferecido seria justificado se a revisão tarifária da Comgás, iniciada em 2014 e ainda sem conclusão, tivesse um resultado favorável para a companhia. Em relatório enviado a clientes, os analistas Vicente Falanga, Leandro Fontanesi e Osmar Camilo destacaram que informações iniciais sobre o processo, como o Wacc (custo médio ponderado de capital) de 8,2%, são positivos, "mas ainda há muitos riscos envolvidos."

Procuradas, Cosan e Comgás disseram que não iriam fazer comentários adicionais aos comunicados divulgados ao mercado. A gestora Alaska não respondeu a reportagem.

Fonte: Valor Econômico