Cresce disparidade entre usinas do Centro-Sul
19-10-2016

A safra 2015/16 foi uma ótima oportunidade para um pequeno grupo de empresas sucroalcooleiras incrementar resultados operacionais, reduzir endividamento e diminuir o peso dos compromissos financeiros nos balanços. Mas a melhora das condições dos mercados em que essas companhias atuam, sobretudo o de açúcar, não fez milagres. Muitas usinas que já vinham enfrentando dificuldades há algumas temporadas continuaram com resultados operacionais negativos e viram as dívidas e a pressão das despesas financeiras sobre seus caixas aumentarem.
Nesse contexto, levantamento realizado pelo Itaú BBA identificou que, durante o ciclo, encerrado em março deste ano, cresceram as disparidades entre os resultados das cinco melhores e das cinco piores companhias do segmento que fazem parte de sua carteira. E o fosso poderia até ter ficado ainda maior, tendo em vista que o estudo do banco não considerou grupos que estão em recuperação judicial ou que buscam reestruturar suas dívidas. A carteira do Itaú BBA inclui empresas que representam cerca de 65% da moagem de cana da região Centro-Sul do país.
De acordo com o estudo, as empresas com os cinco piores resultados registraram endividamento médio de R$ 328 por tonelada de cana processada, 16,4 vezes mais que a média das cinco melhores, que ficou em R$ 20 por tonelada. Na temporada anterior (2014/15), as cinco piores empresas registraram endividamento médio "apenas" 11,4 vezes superior ao das cinco melhores.
Conforme o gerente sênior de agronegócios do Itaú BBA, Guilherme Pessini, a diferença se explica, em parte, pelo fato de as empresas hoje em melhor situação terem tomado, no passado, decisões de investimento consideradas conservadoras – o que resultou em endividamentos menores. Além disso, muitas delas provavelmente tiveram acesso a financiamentos mais baratos que concorrentes em pior situação financeira e não tiveram que refinanciar prejuízos.
Por essas e outras, a disparidade entre os desempenhos operacionais dos grupos das melhores e das piores usinas da carteira do Itaú BBA também saltou ainda mais aos olhos em 2015/16. Segundo o estudo do banco, o lucro antes de juros e impostos (Ebit) das "5 +" foi, em média, de R$ 49,7 por tonelada de cana moída, enquanto as "5 -" tiveram resultado negativo médio de R$ 4,8.
Na safra anterior, as cinco piores haviam registrado Ebit negativo médio de R$ 9,1 por tonelada, ao passo que as cinco melhores haviam colhido um resultado positivo médio de R$ 39,7 por tonelada. O fato de as "5 +" terem ficado no azul nessa frente em 2014/15, quando os preços internacionais do açúcar estavam em baixo patamar, é um sinal de que o grupo já tinha uma capacidade de geração de caixa "muito robusta", diz Pessini. "Isso mostra que as boas usinas estão em boa situação há muito tempo. E que as piores, do ponto de vista da alavancagem, estão piorando em velocidade expressiva, mesmo com preços melhores".
Em contrapartida, a incapacidade de as usinas com os piores desempenhos financeiros gerarem caixa também está relacionada ao alto custo de suas dívidas, que acabam se tornando cada vez mais elevadas. Tanto que a despesa financeira média das cinco piores usinas da carteira do Itaú BBA chegou, em média, a R$ 41,30 por tonelada de cana moída em 2015/16, ante os R$ 2,10 médios das cinco melhores.
Situações como essa, de forte desigualdade entre empresas de um mesmo segmento, muitas vezes aceleram tendências de concentração, com as melhores comprando as piores. Pessini avalia, contudo, que no horizonte do segmento sucroalcooleiro essa possibilidade ainda está distante, já que, em média, as usinas em geral – com algumas exceções – estão com investimentos ainda deprimidos e têm sido incapazes de repor perdas de seus próprios ativos.
Ele calcula que, para a manutenção dos níveis de produtividade dos canaviais, dos maquinários e das plantas industriais, é necessário que as usinas do Centro-Sul como um todo invistam cerca de R$ 11 bilhões por safra. Na última temporada, porém, os aportes somaram R$ 8,4 bilhões.