Cresce exportação de etanol dos EUA
10-12-2014

O etanol voltou à lista de combustíveis cujas exportações globais são dominadas pelos Estados Unidos. Após os embarques americanos de gasolina e diesel terem triplicado desde 2009, as vendas ao exterior do biocombustível feito a partir do milho também reagiram, cresceram 31% este ano e atingiram o maior patamar desde 2011. O etanol tem sido enviado a um grupo diversificado de países, que inclui desde a Coreia do Sul até produtores de petróleo do Golfo Pérsico.

Esse novo "boom" é basicamente motivado por novas safras recorde de milho. Os EUA estão produzindo cerca de 66 milhões de toneladas a mais do cereal por temporada do que há uma década, quase tanto quando o resto do mundo deverá exportar este ano. Nesse contexto, as exportações de etanol estão ajudando a evitar um excedente ainda maior da produção, sobretudo depois que Washington reduziu as exigências para a participação do biocombustível na matriz energética doméstica.

"Os EUA precisam ter um mercado exportador", diz Wallace Tyner, economista especializado em agricultura da Purdue University, de West Lafayette (Indiana). "Temos excesso de capacidade. O produto está aí, está pronto e tem preço razoável."

Os contratos do etanol desnaturado [com adição de substâncias que impedem seu uso em bebidas, alimentos ou produtos farmacêuticos] negociados na bolsa de Chicago subiram 15% desde o início de outubro, enquanto os futuros da gasolina, pressionados pela baixa do petróleo, recuaram 43% desde junho.

Com capacidade para produzir 14,9 bilhões de galões de etanol [cada galão equivale a 3,785 litros], pouco mais de 10% do mercado americano de gasolina (135 bilhões de galões), os produtores do país não têm escolha a não ser exportar, de acordo com Tyner.

Em 2010, os Estados Unidos superaram a Rússia e se tornaram o maior país exportador de derivados de petróleo, com embarques de 2,31 milhões de barris por dia, segundo dados oficiais. As vendas no mercado internacional atingiram o recorde de 4,38 milhões de barris por dia um ano atrás.

O biocombustível à base de milho está no limbo nos EUA desde que o governo informou, no mês passado, que adiaria o estabelecimento de novas cotas de consumo, o que não acontecia desde que as Normas para os Combustíveis Renováveis foram implementadas no país, em 2005.

Em novembro do ano passado, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) propôs uma redução da quantidade de etanol a ser misturada na gasolina em até 9%, para 13,1 bilhões de galões. Foi uma concessão às refinarias de petróleo, que sustentavam que as regras deveriam levar em consideração uma demanda em geral mais fraca.

Essa proposta, que alinhou o consumo de etanol ao equivalente a cerca de 10% do mercado de gasolina, foi recebida "com controvérsia e muitos comentários", segundo informou a EPA em 21 de novembro, e influenciou o adiamento da implementação de novas metas para o uso do biocombustível.

Assim, a indústria americana do etanol vem buscando novas fontes de crescimento. Missões comerciais já estiveram no Peru, no Panamá, no Japão e na Coreia do Sul, e há viagens planejadas para este mês para Tailândia, Malásia e Filipinas, de acordo com a Associação dos Combustíveis Renováveis (RFA), com sede em Washington. Uma missão ao Brasil patrocinada pelo Departamento de Comércio dos EUA também gerou recentemente novos contratos de venda avaliados em US$ 29 milhões, segundo estatísticas da RFA.

ADM, Green Plains Renewable Energy e Valero Energy, três das quatro maiores companhias de etanol dos EUA, têm destacado as exportações como frente importante de crescimento. A Green Plains, por exemplo, tem embarques agendados até o terceiro trimestre de 2015, o que é incomum, conforme afirmou seu CEO, Todd Becker, em uma conferência telefônica realizada em 29 de outubro.

Com esses esforços, as exportações de etanol dos EUA poderão alcançar, em média, entre 950 milhões e 1 bilhão de galões por ano de 2015 a 2020, mais que o dobro do nível de 2010, segundo estima o Citigroup. "Parte disso se deve aos preços competitivos dos EUA", diz Aakah Doshi, analista da instituição em Nova York. "É a salvação do setor."

O etanol americano é produzido a partir da fermentação de amido de milho em destilarias localizadas no Meio-Oeste, principal região produtora de grãos do mundo. Safras recorde seguidas proporcionaram aos produtores uma oferta sem precedentes, especialmente de milho.

O Brasil, segundo maior produtor global de etanol, também é hoje menos competitivo, como observa Alejandro Zamorano Cadavid, analista de biocombustíveis da Bloomberg Intelligence em Nova York. O país produz etanol a partir da cana e a oferta diminuiu desde 2010.

Com pouca concorrência, os EUA estão vendendo inclusive para países ricos em petróleo. Entre seus clientes estão membros da O Opep como Arábia Saudita, Nigéria e Emirados Árabes Unidos, segundo dados do Departamento de Energia dos EUA. Em setembro, as exportações americanas de etanol somaram 1,35 milhão de barris, ou cerca de 2% dos 75,5 milhões de barris de gasolina e diesel que os EUA exportaram, impulsionados pela febre do xisto.

Com mais países instituindo políticas contra a poluição, os EUA poderão ampliar sua lista de consumidores de etanol, afirma Darrel Good, professor emérito de economia agrícola e de consumo da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign.

Os EUA e a China, os dois maiores poluidores do mundo, anunciaram em 12 de novembro um pacto para a redução das emissões de gases. Um ano atrás, a China fez sua maior compra de etanol americano (84 mil barris). O país asiático acrescenta o biocombustível à gasolina para aumentar a octanagem e reduzir a emissão de gases poluentes. Em agosto, comprou outros 79 mil barris, conforme dados da EIA.

"Se não conseguimos vender aqui, venderemos em outro lugar", diz Bob Dinneen, principal executivo da Associação dos Combustíveis Renováveis. "Vamos nos concentrar no mercado externo".