Crescimento do agro expõe falhas na infraestrutura logística brasileira, alerta CNA
14-07-2025

Produção agrícola avança nas novas fronteiras do país, mas transporte, armazenagem e licenciamento ambiental seguem como gargalos para o escoamento da safra

A expansão da produção agrícola no Brasil não tem sido acompanhada pela infraestrutura logística necessária para garantir competitividade e eficiência. A constatação foi feita por Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), durante o evento Logística no Brasil, promovido pelo jornal Valor Econômico, na última quarta-feira (9), em Brasília.

Participando do painel “Superando os gargalos: investimentos e soluções para a infraestrutura nacional”, ao lado de representantes dos setores público e privado, Elisangela destacou que os avanços na produção agropecuária estão muito à frente da capacidade nacional de transporte e armazenagem.

Nos últimos 15 anos, apenas as culturas de soja e milho adicionaram 155 milhões de toneladas à produção nacional, o que representa uma média de 10 milhões de toneladas por ano. No entanto, segundo a CNA, a infraestrutura de transporte — especialmente nas novas fronteiras agrícolas como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e Mato Grosso — não acompanhou esse ritmo.

Essas regiões, que hoje são responsáveis por 68% da produção nacional, enfrentam dificuldades para escoar a safra. “Pelos portos do Arco Norte, é possível exportar apenas 35% do volume produzido”, afirmou Elisangela. O principal gargalo, segundo ela, está nos acessos entre as fazendas e os portos, passando por rodovias em más condições, ausência de ferrovias e falta de hidrovias navegáveis.

Outro ponto de alerta levantado pela CNA é a capacidade de armazenagem. Atualmente, o país tem estrutura para armazenar apenas 63% da produção agrícola. Em estados como o Mato Grosso, esse índice é ainda mais crítico, com 49,9% de capacidade, ou seja, menos da metade da safra consegue ser estocada adequadamente.

A consequência é direta: com a colheita concentrada e sem armazenagem nas propriedades, os produtores são obrigados a vender e escoar no pico da safra, quando os custos logísticos explodem. “Neste ano, o frete no Mato Grosso aumentou 60% em comparação ao ano anterior”, relatou a técnica da CNA.

Durante o evento, os participantes defenderam a elaboração de planos de Estado para os próximos 5 a 10 anos no setor logístico, algo que a CNA considera fundamental. Elisangela reforçou que o agro precisa de infraestrutura pensada com antecedência, especialmente considerando projeções como a do Mato Grosso, que espera produzir 144 milhões de toneladas até 2034 — um salto de 54 milhões em relação ao volume atual.

Para viabilizar o escoamento dessa produção, a conclusão de obras como a Ferrogrão — que deve ser construída na mesma faixa de domínio da BR-163, conectando Miritituba a Santarém (PA) — é considerada estratégica.

A especialista também chamou atenção para a lentidão nos processos de licenciamento ambiental, que comprometem a execução de obras-chave para o escoamento da safra. Um dos exemplos citados foi o derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins. Mesmo após o leilão realizado há 11 anos, o projeto ainda enfrenta entraves. O orçamento inicial de R$ 560 milhões saltou para R$ 1,1 bilhão devido à demora.

“O Ministério Público agora tenta suspender a obra. Isso impacta diretamente a logística do agro, que poderia escoar 20 milhões de toneladas com uma redução de 30% a 40% nos custos em comparação ao transporte rodoviário”, afirmou.

Dados de uma pesquisa realizada pela CNA com 1.065 produtores indicam que apenas 61% da produção agrícola é armazenada nas propriedades, o que os torna altamente dependentes de estruturas terceirizadas. A solução, segundo Elisangela, passa por linhas de crédito mais atrativas, com juros mais baixos, carência adequada e prazo de financiamento ampliado para a construção de silos e armazéns.

“A armazenagem precisa estar na fazenda. Nos EUA, 54% do que se produz é estocado no campo. No Brasil, caminhões viram armazéns sobre rodas no auge da safra — isso é ineficiência que se transforma em prejuízo para o produtor e para a economia”, concluiu.