CTC aposta alto no futuro da cana com nova fábrica de sementes sintéticas e biotecnologia de ponta
17-04-2025

Fruto de 11 anos de pesquisa e R$ 1 bilhão em investimentos, a tecnologia vai ajudar a dobrar a produtividade dos canaviais até a próxima década
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) está dando passos largos rumo ao futuro da agricultura brasileira. Nesta semana, durante o evento “CTC DAY – O Futuro está no Campo”, a empresa apresentou os avanços em seu projeto de sementes sintéticas de cana-de-açúcar, destacou novas variedades transgênicas e anunciou o início da obra de sua primeira fábrica de sementes sintéticas. Em entrevista à imprensa, Cesar Barros, CEO do CTC, revelou os planos que prometem transformar o cenário da canavicultura no Brasil.
Localizada logo na entrada do CTC, em Piracicaba – SP, a nova fábrica, já em construção, terá capacidade para produzir sementes sintéticas para até 1.000 hectares por ano, uma escalada significativa se comparada aos 5 hectares possíveis no laboratório atual. “Essa evolução tem nos dado confiança para seguir com novos investimentos. Com a fábrica, teremos a chance de testar e validar diferentes manejos, ampliando nossa rede de ensaios”, explica Barros.
O conceito da semente sintética é considerado revolucionário para o setor canavieiro conforme destaca Suleiman Hassuani, diretor de P&D de Sementes do CTC. ‘Essa inovação permite que todo o material biológico a ser plantado no campo seja produzido em ambiente fabril, eliminando a necessidade de as usinas destinarem 5% de suas áreas para a produção de mudas. Isso significa mais espaço disponível para o cultivo da cana, elevando a produtividade”, explicou.
Fruto de 11 anos de pesquisa e R$ 1 bilhão em investimentos, este projeto é o novo sistema de plantio desenvolvido pelo CTC. De acordo com o Centro de Pesquisa, com o uso de sementes sintéticas de cana, a inovação promete acelerar a adoção de novas tecnologias, liberar áreas produtivas, aumentar a eficiência operacional e reduzir significativamente a pegada de carbono.
Hassuani explica que a semente sintética também apresenta vantagens logísticas e agronômicas: com apenas 400 kg de sementes substituindo as atuais 16 toneladas de cana utilizadas no plantio, os equipamentos necessários tornam-se mais simples e eficientes, com o dobro da capacidade de plantio. Isso reduz custos e facilita a renovação mais frequente dos canaviais, refletindo em maior produtividade ao longo do tempo.
Além disso, a sanidade e qualidade das sementes proporcionam um cultivo mais eficiente, e a logística flexível permite o plantio em períodos mais propícios, como quando há maior disponibilidade de água no solo.
Sobre o desafio da mecanização para o plantio das sementes, Cesar Barros ressalta que estão sendo superados: um protótipo da plantadora foi apresentado durante o CTC DAY, substituindo o método manual ainda utilizado nas fases iniciais. A tecnologia, que ainda está em fase avançada de pesquisa e desenvolvimento, conta com parcerias estratégicas com empresas como John Deere, Marchesan, Double TT e Civemasa para o desenvolvimento de equipamentos específicos para o novo sistema de plantio. A expectativa é que os clientes do CTC possam começar a experimentar essa tecnologia até o final da década.
Novas marcas para novas realidades: chega a Tecna
Além da tradicional marca CTC, reconhecida por desenvolver cultivares com ampla adaptabilidade e alto rendimento, o centro agora apresenta a marca Tecna. Ela será dedicada a variedades regionais, desenvolvidas em parceria com produtores locais, adequadas a condições específicas de solo e clima. “É uma forma de permitir que nossos clientes tenham mais opções para diluir riscos diante das mudanças climáticas”, reforça o CEO.
Em resposta às particularidades do mercado nordestino, o CTC também firmou o compromisso de desenvolver um programa de melhoramento genético exclusivo para a região. Atualmente, o centro conta com sete polos de teste no Nordeste e pretende expandir ainda mais sua atuação para garantir cultivares adaptadas às realidades locais, como áreas irrigadas e de sequeiro.
Outro grande destaque do evento foi o lançamento da linha CTC Advana, resultado da aplicação das mais modernas técnicas de melhoramento genético e inteligência artificial. Com um processo que analisa 20 milhões de sementes por ano, a empresa seleciona apenas as mais promissoras para compor a nova geração de variedades.
A primeira variedade da série, CTC Advana 1, criadas para entregar ganhos de até 16% em produtividade frente às referências de mercad,, estabelecendo um novo patamar para os canaviais brasileiros. As variedades CTC Advana também se destacam por alta sanidade, vigor e adaptabilidade regional. “Ela não será filha única. Temos um pipeline aquecido, e novas Advanas virão”, antecipa Barros.
Essa variedade possui porte ereto, que facilita a colheita, ótimo perfilamento, fator ligado a produtividade e longevidade do canavial, alto teor de açúcar com colheita indicada no início da safra e foi desenhada para ambientes altamente produtivos. “Será uma variedade muito importante para ajudar a dobrar a produtividade dos canaviais até a próxima década conforme a meta do CTC”, disse Ricardo Neme, gerente de Produto e Portfólio do CTC.
Verde Pro2: mais proteção e simplicidade no manejo
O CTC também lançou oficialmente sua segunda geração de cana transgênica, a Verde Pro2. Ela combina o controle eficiente da broca — praga que impacta duramente os canaviais — com manejo simplificado de herbicidas. A variedade traz mais uma proteína inseticida, o que deve garantir maior durabilidade da proteção e dificultar a resistência da praga.
“Essa combinação vai entregar mais produtividade e praticidade ao produtor”, destaca o CEO do CTC. A Verde Pro2 é fruto de anos de pesquisa após o sucesso da primeira geração, que hoje conta com mais de 200 usuários satisfeitos com a proteção contínua da biotecnologia.
De acordo com Keini Dressano, coordenadora de Desenvolvimento de Trait do CTC, a tecnologia proporciona uma proteção contínua, 24 horas por dia, sete dias por semana, contra pragas, além de facilitar o uso de defensivos agrícolas e reduzir significativamente as perdas econômicas e operacionais.
A plataforma já conta com mais de 10 variedades em fase de desenvolvimento, reforçando o compromisso do CTC com a inovação e a evolução constante do setor sucroenergético.
Mesmo em estágio mais inicial, o CTC também já trabalha em um projeto inédito no mundo para controlar o bicudo da cana (Sphenophorus), praga desafiadora que ainda não possui métodos eficazes de controle. Pesquisas para combatê-la estão em estágio avançado e fazem parte do plano estratégico de inovação contínua da companhia. “Estamos tendo sucesso na identificação de proteínas eficazes. O desafio agora é fazê-las se expressarem na planta”, conclui Barros, mostrando otimismo mesmo diante dos obstáculos.
Andréia Vital