CTC quer acelerar lançamentos de tecnologias para a cana
21-12-2023

César Barros, do CTC: ‘Vamos continuar investindo em pesquisa e capturar valor em cima do que já se construiu’ — Foto: Divulgação
César Barros, do CTC: ‘Vamos continuar investindo em pesquisa e capturar valor em cima do que já se construiu’ — Foto: Divulgação

Companhia quer intensificar a oferta de produtos para renovar canaviais

Por Patrick Cruz — Araraquara (SP)

A forte expansão da cultura da cana-de-açúcar no Brasil tem as digitais do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa que a Copersucar criou em 1969 e que, por muito tempo, atuou como uma organização sem fins lucrativos. A companhia viveu uma grande transformação em 2011, quando ela passou a ter como acionistas algumas das maiores usinas do setor sucroenergético do país, um movimento que se sacramentou em 2014, com a entrada do BNDES no bloco de acionistas. Agora, há uma nova guinada em formação.

“Estamos em um ponto de virada muito importante no CTC, que é o de lançamento de novas tecnologias. Eu brinco aqui com o time: como levamos bastante tempo construindo o forno e arrumando a receita do pãozinho, agora vai sair pãozinho a todo momento”, diz, com bom humor, César Barros, que assumiu o comando executivo da empresa em julho.

“A nossa oportunidade é comercial. Vamos continuar investindo em pesquisa, em ciência, mas, ao mesmo tempo, vamos capturar valor em cima do que a gente construiu até aqui”.

As pesquisas do CTC ocorrem em três diferentes áreas: melhoramento genético, biotecnologia — com o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas, mais resistentes a pragas e herbicidas —, e o Projeto Sementes, que prevê a possibilidade de renovação dos canaviais com o uso de sementes, e não exclusivamente com mudas, como ocorre hoje. Barros acredita que essas três frentes, juntas, serão capazes de dobrar a produtividade dos canaviais brasileiros.

No trabalho de melhoramento genético, o CTC lançou neste ano três novos clones de cana-de-açúcar, que, no fim de outubro, já estavam nos viveiros de mais de 60 usinas. Esse número de usinas é recorde no histórico de lançamentos da empresa, afirma o executivo. É nos viveiros que as usinas reproduzem as mudas que gradativamente ocuparão os canaviais nos anos seguintes.

Como a receita do CTC é composta basicamente pelos royalties que a companhia recebe por suas tecnologias, quanto mais área potencial os novos clones forem ocupar, maior a perspectiva de faturamento da empresa no futuro.

O CTC não lança novos produtos todos os anos, então não é sempre que chega ao campo tanta variedade nova, e em tantas usinas simultaneamente. “A gente espera que os lançamentos se tornem anuais. Se você olhar nosso portfólio de produtos, vai perceber que ‘pulamos’ vários anos porque estávamos ajustando nosso programa de melhoramento. Ele tinha um ciclo de 15 anos, que reduzimos para oito”, conta. “Esses ajustes levam tempo, não são uma tarefa trivial. É como manobrar o Titanic”.

No início de suas operações, o CTC recebia contribuição das usinas associadas à Copersucar para investir em ciência, pesquisa e desenvolvimento de novas variedades de cana. Foi assim que a empresa começou a construir um dos maiores bancos de germoplasma de cana do mundo, que tem hoje cerca de 5 mil variedades.

Essa é a base do trabalho de pesquisa e inovação do CTC, que ganhou corpo em 2011, com a chegada dos novos acionistas. “Nos últimos dez anos, a empresa investiu, a valor presente, R$ 1,8 bilhão. É esse investimento que está chegando ao campo agora”, diz Barros, que guiou o Valor em uma visita aos laboratórios da empresa para conceder sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo. Com larga experiência na área comercial de empresas do agro como a Nutrien, ele substituiu José Gustavo Teixeira Leite, que anunciou sua aposentadoria.

O executivo terá a missão de transformar esses longos ciclos de pesquisa e inovação (“um clone, para chegar a seu ápice comercial, leva 20 anos”, diz) em receita que permita à companhia seguir investindo em ciência. Em breve (ele não precisou quando), será o caso do Projeto Sementes, que está em sua fase final de pesquisas.

“Hoje, se uma usina quiser plantar 120 hectares, com o plantio de um hectare no primeiro ano, ela vai precisar de seis anos. Com o Projeto Sementes, será possível ter a renovação de todos os 120 hectares já no primeiro ano”, explica ele. “Já conseguimos o produto mínimo viável, mas as pesquisas ainda não acabaram. Depois, o desafio será estruturar a viabilidade comercial do projeto

Fonte: Globo Rural