Custos altos causam prejuízos à produção de cana na safra atual
11-08-2015

Gastos com a produção de cana-de-açúcar superam os ganhos dos fornecedores com plantações em Araçatuba, na safra 2015/2016. É o que comprovaram pesquisadores da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo) em levantamento realizado com agricultores do município na semana passada para medir o custo médio do cultivo. Segundo a sondagem, um trabalho do Pecege (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas), os prejuízos são puxados pelos altos custos com maquinário e insumos.

Na safra atual, o valor médio recebido por produtores de Araçatuba a cada tonelada de cana é de R$ 61,83, como explica o economista Haroldo José Torres da Silva, gestor de projetos do programa. Somadas, as despesas brutas dos agricultores canavieiros com máquinas, mão de obra, insumos, arredamentos, administração e capital de giro totalizam R$ 62,16 por tonelada, em média, no período.

As perdas imediatas são de R$ 0,33 a cada tonelada, quando se compara os ganhos e a quantia bruta (chamada na pesquisa de custo operacional efetivo) desembolsada pelos empresários do setor.

Quando os economistas levam em conta também a depreciação (desvalorização dos bens ao longo dos anos) e as remunerações da terra, do proprietário e do capital, o custo total da tonelada de cana sobe para R$ 87,59, em média. Isso amplia o prejuízo total do agricultor para R$ 25,76 por tonelada, em média.

A margem de lucro negativa reflete a produtividade estagnada do cultivo por motivos climáticos e as dificuldades financeiras enfrentadas pelas usinas sucroalcooleiras, esclarece Silva. Além disso, as despesas do produtor com combustível, mão de obra e equipamentos cresceram nos últimos anos sem que os ganhos pela cana os compensem. "A maior parte dos fertilizantes são importados, então o câmbio também influencia os gastos".

A última vez que uma equipe do Pecege realizou uma pesquisa sobre os gastos médios da produção de cana em Araçatuba foi durante a safra 2009/2010. Naquela época, o fornecedor recebia, em média, R$ 45,40 por tonelada, enquanto seu custo bruto era de R$ 31,32. Isso garantia um lucro imediato de R$ 14,08. Contudo, o custo total era de R$ 47,62 por tonelada, o que levava um prejuízo total de R$ 2,22 por tonelada, em média, no longo prazo. Conforme o gestor, em 2010 tinha início a crise do setor sucroalcooleiro, que foi agravada nos últimos anos.


Realidade

Para o presidente do Siran (Sindicato Rural da Alta Noroeste) e produtor de cana-de-açúcar, Marco Antonio Viol, o resultado do levantamento traduz a realidade vivida pelos agricultores do município. "Estamos sentindo exatamente o que foi computado com os prejuízos". Ele atribui a situação à falta de apoio do governo à produção sucroalcooleira durante os mandatos da presidente Dilma Rousseff (PT).

Viol percebe que um grande volume de agricultores de médio e grande portes da região está trocando a cana por soja e milho ou dando sinais de terem intenção de realizar essa substituição.

O presidente do Siran acredita que com a recuperação do solo proporcionada pelo cultivo da oleaginosa pode contribuir que alguns dos terrenos que deixaram de ser ocupados por canaviais sejam utilizados pela pecuária futuramente.

Para ele, esse processo é um mau sinal, uma vez que o setor sucroalcooleiro é uma matriz de energia limpa e importante para a economia do País. "Foram investidos milhões na agroindústria, isso não pode ser jogado no lixo por um capricho do governo."


Outros municípios também tiveram margem negativa

De acordo com o economista Haroldo José Torres da Silva, as dificuldades enfrentadas por plantadores de Araçatuba com os custos de produção da cana se assemelham à situação de outros municípios paulistas.

Na semana passada, os pesquisadores também colheram informações com fornecedores canavieiros de Andradina, Araraquara e Ituverava e quando os recebimentos por toneladas são comparados com os custos totais (inclui o custo bruto, a depreciação e as remunerações de terra, capital e produtor) todas tiveram margem de lucro negativa. O prejuízo de Andradina foi de R$ 19,13 por tonelada de cana, de Ituverava de R$ 26,31, e de Araraquara de R$ 34,25.

Na visão do presidente do Siran (Sindicato Rural da Alta Noroeste) e produtor de cana-de-açúcar, Marco Antonio Viol, o setor sucroalcooleiro foi destronado pelo governo, o que é demonstrado pela existência de usinas endividadas e paralisadas. Para ele, remediar a situação só seria possível com uma ação do governo, feita em conjunto com empresas e produtores de cana, seja pra viabilizar uma queda dos custos ou isenção de impostos.

Silva considera que o cenário atual da agricultura canavieira é pessimista, porém acredita que a crise é uma fase passageira que deve ser superada futuramente.

"O setor é estratégico para a economia nacional e deve ser beneficiado pela decisão do G7 de eliminar combustíveis fósseis e pelo potencial da indústria da cana em produzir energia elétrica".

Rafaela Tavares