Da praia ao tanque do carro: coco pode virar biocombustível
12-03-2025

Brasil avança em pesquisas para produção de etanol de segunda geração
Por Maria Emília Zampieri — Vinhedo (SP)
Água de coco gelada, na praia e direto do fruto, não tem igual. Mas já faz algum tempo que o coco passou a ocupar outros espaços. Alimenta linhas de produção de bebidas frescas, leites, sorvetes, óleos naturais e cosméticos. Agora, pesquisadores brasileiros querem transformar os resíduos de coco em biocombustível.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil planta hoje 190 mil hectares de coco e colhe anualmente 2 bilhões de frutos, verdes ou secos, gerando uma abundância de resíduos com potencial energético.
“Cidades litorâneas geram muito resíduo de coco e gastam dinheiro para recolher e colocá-lo em aterros. Por que não aproveitar esse material? As indústrias, por sua vez, geram a maior carga residual. Ao investir em pequenas refinarias e gerar biocombustível do próprio resíduo, podem não apenas compensar a emissão de carbono da produção, como mostrar seus valores e preocupação com o meio ambiente”, avalia o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Alberto Fernandes.
O grupo de estudos da UFES, do qual Fernandes faz parte, tem a patente do processo de transformação de fibra de coco em etanol de segunda geração pelo método de hidrólise, registrado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
“A patente mostra que toda a tecnologia de produção já foi provada tecnicamente. A viabilidade de produção é uma garantia”, afirma.
A próxima etapa é aplicar o conceito em nível industrial, e o laboratório está aberto a conversar com empresas que visem implementar pequenas refinarias em suas instalações.
No Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) de Aracajú (SE), estudiosos também se debruçam sobre a tecnologia. O pontapé para os pesquisadores do ITP foi pensar em uma destinação correta para as cerca de 190 toneladas de resíduos de coco verde geradas por semana na cidade.
“Trata-se de transformar em energia um material que é um grande desafio ao meio ambiente, em função do alto volume e da baixa taxa de decomposição”, afirma o coordenador-adjunto de Programas Profissionais da Área de Engenharias II na CAPES, docente da Unit, pesquisador do ITP e coordenador do NUESC, Cláudio Dariva.
Os pesquisadores envolvidos no processo já estabeleceram todas as etapas necessárias para transformar a biomassa em biocombustível. Na fase atual do projeto, eles trabalham para escalar a produção. Segundo Dariva, a perspectiva é que, até 2026, o estudo sobre a viabilidade econômica para implementação industrial esteja concluído.
Paralelamente, o grupo de estudos trabalha na capacitação de profissionais com graduação, mestrado ou doutorado para ingresso no mercado de transição energética e na requalificação profissionais da indústria.
Cidades litorâneas geram muito resíduo de coco e gastam dinheiro para recolher e colocá-lo em aterros. Por que não aproveitar esse material?" — Alberto Fernandes, professor da UFES
A pesquisa no ITP teve início em 2022, com patrocínio da Petrogal Brasil, cuja duração vai até 2026. Os cocos utilizados são fornecidos pela Embrapa, para estabelecimento de parâmetros de conversão energética das diferentes variedades da fruta.
A transformação da fibra do coco verde em biocombustível pode ocorrer por diferentes rotas tecnológicas, como a pirólise (decomposição por altas temperaturas), a gaseificação e a fermentação. No processo do ITP, optou-se pela pirólise.
Primeiro, é feita a trituração e secagem dos resíduos, depois, a conversão das fibras em bio-óleo, biocarvão e biogás via pirólise, e por fim o refino para aproveitamento. O processo está na etapa final para obtenção de patente junto ao INPI.
Fonte: Globo Rural