DATAGRO prevê queda de 9,4% na produção de cana no Centro-Sul do Brasil na safra atual
22-10-2024

Conferência Internacional DATAGRO apresenta desafios climáticos e expectativas para o ciclo 2025/26

No primeiro dia da 24ª Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol, realizada em São Paulo, nesta segunda-feira (21), foram discutidas as projeções para a safra 2024/25 e as perspectivas para 2025/26. O painel, moderado por Antônio Salibe, CEO da UDOP, contou com a participação de Plinio Nastari, presidente da DATAGRO, e José Guilherme Nogueira, CEO da ORPLANA.

Nastari ressaltou o desempenho excepcional da safra 2023/24, que ultrapassou 650 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, impulsionada por condições climáticas favoráveis. No entanto, ele destacou os desafios que a safra 2024/25 enfrentará devido à estiagem iniciada em novembro do ano anterior, que, somada ao plantio tardio e à irregularidade das chuvas, afetou o rendimento das lavouras.

Os produtores enfrentam uma série de problemas, incluindo a seca severa que atrasou o desenvolvimento das soqueiras e da cana. A seca também intensificou a ocorrência de queimadas, prejudicando ainda mais as áreas em desenvolvimento, impactando a produção.

José Guilherme Nogueira alertou que a seca, especialmente na região Centro-Sul, aumentou a proliferação de doenças, como a murcha, o que comprometeu a qualidade da matéria-prima. Essa doença é causada por fungos como Colletotrichum falcatum, responsável pela podridão vermelha; Phaeocytostroma sacchari (ou Pleocyta sacchari), que causa a podridão da casca; e Fusarium spp., associado à murcha de Fusarium.

Segundo ele, a falta de conhecimento sobre o manejo da murcha coloca os produtores diante de um dilema: erradicar áreas infectadas ou deixá-las sem produção temporariamente.

Diante desse cenário, a DATAGRO projeta uma queda de 9,4% na produção de cana-de-açúcar para a safra 2024/25, totalizando 593,01 milhões de toneladas. Essa redução também afetará a produção de etanol, que deve recuar 1,2%, totalizando 33,18 bilhões de litros, e a de açúcar, com uma diminuição de 8,8%, alcançando 38,70 milhões de toneladas.

Os desafios climáticos também elevarão os custos de produção agroindustrial, com a DATAGRO prevendo um aumento de 9,1% em comparação ao período anterior, principalmente devido à perda de produtividade agrícola. Para mitigar os impactos, José Guilherme Nogueira ressaltou que a área irrigada foi ampliada de 1,493 milhões de hectares na safra anterior para 1,720 milhões de hectares nesta temporada.

Apesar das dificuldades climáticas, o Brasil permanece competitivo no mercado global, apresentando custos de produção inferiores aos de países como França, Índia e Tailândia. Nastari também destacou a importância do mercado externo nos próximos anos, apontando que a Índia está incentivando a mistura de açúcar no etanol e pode expandir suas exportações, enquanto a Tailândia possui potencial para aumentar o plantio de cana, favorecida pelos preços da commodity.

Os palestrantes enfatizaram a necessidade de recuperação das áreas afetadas, com a expectativa de um retorno das chuvas, e reiteraram a relevância do Brasil como líder no mercado global de açúcar, além de seu papel crucial na transição energética e nas políticas de descarbonização.