Deficit com exterior é o maior desde 2001
26-01-2015

O Brasil encerrou 2014 com o maior rombo nas contas externas desde 2001. As despesas brasileiras superaram as receitas em moeda estrangeira em US$ 90,9 bilhões, o equivalente a 4,17% do PIB --em 2001, o deficit foi de 4,19%.

Em termos nominais, o valor cresceu 12% em relação a 2013 e atingiu novo recorde, contrariando a previsão inicial do Banco Central, que esperava queda neste ano.

Estão nessa conta receitas e despesas nas transação de bens, serviços e rendas feitas por resistentes no país para o exterior.

Para Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, esse aumento da relação do deficit com o PIB não representa grandes mudanças nas condições de financiamento da dívida brasileira, e o acesso ao capital estrangeiro não deve ser prejudicado.

Outro dado ruim divulgado nesta sexta (23) pelo BC é que os investimentos estrangeiros diretos (US$ 62,5 bilhões) caíram em relação a 2013 (US$ 63,9 bilhões), sendo insuficientes para financiar o rombo de 2014.

Segundo Maciel, apesar da queda no investimento estrangeiro, que é a principal fonte para cobrir o deficit com o exterior, o país tem condições "confortáveis" de financiamento dessa conta, pois tem recursos estrangei- ros destinados ao mercado financeiro (ações e títulos), além dos empréstimos obtidos no exterior.

RAZÕES

O fraco desempenho da balança comercial, que teve em 2014 seu primeiro deficit desde 2000, foi o principal fator que levou ao deficit recorde nas transações correntes, segundo Maciel. O Brasil importou mais que exportou US$ 3,9 bilhões no ano passado.

Segundo o economista, a maior parte da piora na balança comercial foi motivada pela queda nos preços de produtos relevantes da pauta exportadora brasileira, sobretudo commodities agrícolas "" açúcar de cana, milho e soja, por exemplo. A queda na quantidade exportada também teve impacto.

Houve piora também na conta de serviços. O deficit anual subiu de US$ 47,1 bilhões para US$ 48,7 bilhões.

O aumento de US$ 3,6 bilhões nos gastos com aluguel de equipamentos, que em 2014 totalizou US$ 22,7 bilhões, foi o que mais pesou nessa conta. Essa despesa é relacionadas a investimentos de empresas, principalmente do setor extrativo mineral. Isso inclui, por exemplo, a exploração de petróleo com equipamentos estrangeiros.


Perspectivas

Em dezembro, o deficit das transações de bens e serviços com o exterior foi de US$ 10,3 bilhões, recorde para o mês.

Para este ano, o BC estima uma diminuição no deficit, para US$ 83,5 bilhões, o equivalente a 3,79% do PIB.

A autoridade monetária acredita numa melhora na balança comercial --com um superavit de US$ 6 bilhões. Deve contribuir para isso, por exemplo, um câmbio mais favorável às exportações.

No início de 2014, o BC também esperava melhora nas contas externas. A expectativa era de uma balança comercial positiva e de desaceleração nas remessas de lucro por causa da perda de força da economia. Esse último fator se confirmou e, segundo o BC, deve se repetir em 2015.

Sofia Fernandes